"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Notícias

Mulheres dominam listas de favoritos ao Nobel da Literatura de 2020

Anne Carson


A canadiana Anne Carson e duas escritoras de origem caribenha, a americana Jamaica Kincaid e a francesa Maryse Condé, estão entre os nomes mais falados num ano em que todos esperam que a Academia Sueca jogue pelo seguro.

A ficcionista americana de origem caribenha Jamaica Kincaid junta-se a autoras como Anne Carson, Maryse Condé ou Lyudmila Ulitskaya na lista de favoritas ao prémio Nobel da Literatura de 2020, que será anunciado esta quinta-feira em Estocolmo.

Depois da vaga de escândalos que atingiu a Academia Sueca no final de 2017, com o marido de uma associada, Katarina Frostenson, a ser condenado por abusos sexuais, e ela própria a ser acusada de servir de fonte a fugas de informação acerca dos autores premiados, não parece muito arriscado prever que desta vez o Comité do Nobel vai mesmo jogar pelo seguro e tentará não criar uma nova polémica comparável à que provocou em 2019 com a escolha de Peter Handke, acusado de menorizar as atrocidades sérvias durante a guerra civil na ex-Jugoslávia.

Dada a acentuada sub-representação do sexo feminino na lista de premiados — mesmo que nos fiquemos pelo século XXI, a escolha recaiu num homem 14 vezes em 20 —, parece provável que o júri escolha uma mulher. As próprias casas de apostas refletem essa convicção: a Nicer Odds coloca no topo da lista de favoritos a ficcionista Maryse Condé, francesa de Guadalupe, que em 2018 ganhou uma espécie de Nobel da Literatura alternativo, e a russa Lyudmila Ulitskaya. O terceiro lugar do pódio é dividido entre dois crónicos candidatos ao prémio: o japonês Haruki Murakami e a canadiana Margaret Atwood.

Nas estimativas da Nicer Odds, Anne Carson surge em sexto, após o queniano Ng?g? wa Thiong'o, e Jamaica Kincaid ocupa um mais modesto 15.º lugar. No entanto, esta lista de favoritos acentua também a probabilidade de o vencedor não ser europeu nem branco, o que pode aumentar as chances de esta escritora de 71 anos, cuja obra reflete de modo veemente o seu combate contra o racismo, poder vir a tornar-se o próximo Prémio Nobel da Literatura.

Palpites pessoais

Björn Wiman, editor de Cultura no diário sueco Dagens Nyheter, partilhou com o jornal inglês The Guardian as suas convicções acerca do que se pode esperar este ano do Comité Nobel: “Creio que vão fazer uma escolha segura — vão dar o prémio a uma mulher que não seja da Europa e que, do ponto de vista político e ideológico, aparente ser o contrário de Handke.”

Os palpites pessoais de Wiman centram-se em Anne Carson e Jamaica Kincaid, mas o jornalista inclina-se mais para a segunda. “Seria a todos os títulos uma escolha brilhante”, diz. Defendendo que “este prémio dá legitimidade às opiniões do autor vencedor”, argumenta que isso justifica que tanta gente “tenha ficado zangada” com a escolha de Peter Handke, mas que é também por esse motivo que “o prémio a Kincaid viria no momento certo”. Distinguir a autora dos romances The Autobiography of My Mother (1996), Mr. Potter (2002) ou o mais recente See Now Then (2013) seria, conclui Wiman, “um triunfo para ela, mas também para a Academia, se forem suficientemente sábios para fazer essa escolha”.

Se o jornalista sueco ficará satisfeito caso Jamaica Kincaid venha mesmo a ganhar, já uma possível vitória de Anne Carson deixará presumivelmente bastante feliz o editor português João Concha, cujas não (edições) publicaram recentemente dois livros centrais da poetisa ensaísta e classicista canadiana, ambos ilustrativos do modo como a sua obra procura cruzar e esbater as fronteiras entre o verso, a prosa narrativa e o ensaio: Autobiografia do Vermelho (Autobiography of Red: A Novel in Verse, 1998), com tradução do próprio João Concha e de Ricardo Marques, e A Beleza do Marido (The Beauty of the Husband: A Fictional Essay in 29 Tangos, 2001), pelo qual recebeu o prémio T. S. Eliot, e que foi traduzido para português por Tatiana Faia, uma poetisa que partilha a paixão de Carson pela literatura grega antiga. 


por Luís Miguel Queirós in Público | 6 de outubro de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

Ganhe convites para a antestreia do filme "Memória"

Em parceria com a Films4You, oferecemos convites duplos para a antestreia do drama emocional protagonizado por Jessica Chastain, "MEMÓRIA", sobre uma assistente social cuja vida muda completamente após um reencontro inesperado com um antigo colega do secundário, revelando segredos do passado e novos caminhos para o futuro.

Visitas
93,800,522