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Benjamim regressa aos discos com "Vias de Extinção"
“Vias de Extinção” começou como uma prolongada crise dos 30 misturada com a ansiedade causada por notícias de um futuro negro para a Humanidade (a nível político e ecológico), estendendo-se ao longo de um fim-de-semana, que durou dois anos, entre o Cais do Sodré, o Incógnito e o fim de noite no Lux.
Acaba por ser um testemunho quase arqueológico de um mundo extinto, em que a noite nos deixava dançar até de manhã e o suor era para ser partilhado na pista, assumindo o título um significado bem mais literal do que o inicialmente desejado. São as canções mais directas e pessoais que alguma vez escrevi, apesar do manto instrumental que torna tudo mais ambíguo, sobre excesso, diversão, solidão, a procura de um sentido e o receio da mortalidade, tal como expresso em “Urgência Central”, escrita em parte no corredor do hospital de Santa Maria, antes de um exame aos pulmões que me fez deixar de fumar. As canções oscilam entre a honestidade pura e dura de “Guerra Peninsular”, a sede auto-destrutiva de “Segunda-Feira”, a ironia de “Domingo” ou a descarga eléctrica de sexta à noite de Incógnito.
Influenciado pelos sons da noite e pelo Verão, peguei no meu velho sintetizador, numa caixa de ritmos e num gravador de 4 pistas em cassete para esboçar as primeiras versões destas canções, completamente livres de guitarras e de ideias pré-concebidas sobre o formato de canção. “Vias de Extinção”, tal como o single homónimo demonstra, também é um regresso à minha essência enquanto músico e ao instrumento da minha formação, baseando-me no piano e restantes instrumentos de teclas para compor canções que viajam por outros universos harmónicos e novos registos de voz. É um disco de profunda descoberta interior e o fechar de um ciclo que acaba por coincidir com a própria peste que nos confinou.
Das versões em cassete para o estúdio, as canções passaram pelo crivo da minha fiel banda, que neste disco teve um papel absolutamente decisivo. Testámos alguns dos temas ao vivo para conseguir colar o lado orgânico com a essência mais electrónica das caixas de ritmo e sintetizadores. João Correia e Nuno Lucas, a secção rítmica inabalável que também toca com Jorge Palma, Bruno Pernadas, Tape Junk, entre muitos outros, António Vasconcelos Dias, um pilar importante na produção do disco e nos coros e Vera Vera-Cruz nos coros.
Para além da banda que me costuma acompanhar ao vivo, tive a honra de contar com o clã Campelo, liderado pela lendária cantora Isabel Campelo (uma das vozes mais versáteis e icónicas da música e televisão portuguesa dos últimos 30 anos) e as filhas Joana Campelo (Real Combo Lisbonense) e Margarida Campelo (Bruno Pernadas, Cassete Pirata, Real Combo Lisbonense) e ainda Manuel Pinheiro (Diabo na Cruz) nas congas e percussões.
Benjamim