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Portugueses desafiados a descobrir o património esquecido

Acaba de ser criada uma plataforma para fazer o mapeamento dos edifícios públicos abandonados e, consequentemente, lutar pela sua recuperação. Uma causa que pretende abranger o maior número de portugueses possível.

Os mentores do projeto acreditam que há ainda muito património esquecido por esse Portugal fora, à espera de ser recuperado e de ganhar nova vida_Adriano Miranda


“Fotografe os edifícios públicos esquecidos. Localize-os. Diga o que souber e já agora para que acha poderia ser aproveitado”. O desafio é lançado a todos os portugueses e pretende resultar num mapa colectivo do património esquecido. Mais do que referenciar antigas escolas, casas florestais ou quartéis abandonados, esta iniciativa pretende suscitar ideias e criar condições para a sua recuperação.

Todos os contributos são bem-vindos, inclusive a divulgação de bons exemplos, edifícios que foram recuperados para funções diferentes das originais. O projeto “Vamos recuperar o património esquecido?” está já a angariar “colaboradores” através do Facebook e do Instagram.

A ideia acabou por surgir na sequência de uma publicação feita, nas redes sociais, pela eurodeputada e ex-ministra Maria Manuel Leitão Marques. Militante da defesa do património público abandonado, há algum tempo que vem reunindo fotografias de imóveis esquecidos. Ao partilhar uma foto de uma antiga escola de Alquerubim na sua página de Facebook, a antiga governante não tardou a ser provocada para transformar aquele alerta numa causa.

José Carlos Mota, investigador da Universidade de Aveiro e membro ativo de várias ações e projetos cívicos, desafiou-a dar seguimento a um projeto que pudesse “mobilizar os cidadãos para esta causa nacional”, convicto de que este mapeamento pode levar “as comunidades a refletirem sobre o seu património, nos seus bairros ou cidades, e sobre o seu futuro”.

A iniciativa torna-se ainda mais pertinente numa altura em que se vai começar a discutir a aplicação dos fundos do próximo quadro comunitário de apoio. “Temo que, com os fundos que vão chegar no próximo quadro de apoio financeiro plurianual, se opte outra vez pelo mais fácil, fazer de novo em vez de ter a maçada de pensar num projeto para recuperar”, declara a eurodeputada, recordando a aposta que seguiu, em 2007, enquanto secretária de Estado, para a segunda geração de lojas do cidadão.

“Foi dada prioridade aos municípios que, associado à criação da loja, reaproveitassem um património não utilizado ou recuperassem um património abandonado”, lembra. O resultado? “Recuperaram-se belíssimos edifícios públicos, como um posto da Guarda Fiscal em Campo Maior, o matadouro de Santarém, uma capela senhorial no Sátão, uma escola em Valpaços, entre outros exemplos”, aponta.

Os mentores do projeto “Vamos recuperar o património esquecido?” acreditam que há ainda muito património esquecido por esse Portugal fora, à espera de ser recuperado e de ganhar nova vida. O programa Revive já está a dar uma ajuda, mas incide, essencialmente, em “grandes edifícios e monumentos”. “Mas estas pequenas coisas, que muitas vezes nem sabe de quem são, vão ficando, longe da vista, longe do coração”, refere Maria Manuel Leitão Marques.

Criar condições para a recuperação

Depois de receber os contributos dos cidadãos, e de os juntar ao mapa colectivo, os mentores do projeto comprometem-se a, sempre que possível, reencaminhar esses alertas para a entidade que tem a tutela do património em questão. “Quando são imóveis da administração central, muitas vezes o abandono é motivado pelo desconhecimento, pela distância”, repara Maria Manuel Leitão Marques. Já da parte dos municípios, houve a tendência para “mostrar obra nova, em vez de obra velha de cara lavada”.

Importa, assim, alterar paradigmas e começar a pensar em reaproveitar os edifícios já existentes. Através de iniciativas públicas, privadas ou da parte dos próprios cidadãos. “Em muitos sítios da Europa estamos a assistir a iniciativas cidadãs que tomam conta dos espaços”, destaca José Carlos Mota, notando que este projeto pode ser, também, uma “oportunidade para desafiar a sociedade civil para se mobilizar na dinamização destes espaços”.

“É tempo de mobilizar os cidadãos que muitas vezes querem fazer coisas e nem sempre encontram o contexto mais favorável”, exorta, dando um exemplo concreto: “em Aveiro, onde a sociedade civil tem uma dinâmica incrível, muitas vezes precisamos de espaços para fazer as coisas e não há”. Isto quando há na cidade, e na região, edifícios abandonados – o antigo centro de saúde de São Bernardo é um dos casos mais referenciados.


por Maria José Santana in Público | 20 de setembro de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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