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Morreu o ator e encenador Juvenal Garcês

Fundador, com Mário Viegas, da Companhia Teatral do Chiado, Juvenal Garcês tinha 59 anos.

Juvenal Garcês com o cartaz de "As Obras Completas de William Shakespeare"© Arquivo Global Imagens


Nascido na Madeira em 1961, Juvenal Garcês começou a sua carreira no teatro como ator, tendo trabalhado, entre muitos outros, com Filipe La Féria na Casa da Comédia, nos espetáculos A Marquesa de Sade, de Yukio Mishima (1983), e Electra ou a Queda das Máscaras, de Marguerite Yourcenar (1987), e com Carlos Avilez no Teatro Experimental de Cascais fazendo Jedermann - Auto de moralidade da morte do homem rico, de Hugo von Hofmannsthal (1983).

Mas seria com Mário Viegas a sua ligação mais duradoira. Dirigido por Viegas, interpretou Deus os Fez, Deus os Juntou, de Anton Tchekov (1988). E em 1990 fundaram juntos a Companhia Teatral do Chiado.

Destacam-se, de 1990 a 1995, os papéis que desempenhou na C.T.C. em peças encenadas por Mário Viegas: A Birra do Morto, de Vicente Sanches, Nápoles Milionária e A Arte da Comédia, de Eduardo de Filippo, Enquanto se Está à Espera de Godot, de Samuel Beckett, O Ensaio de um Sonho, de August Strindberg e Ingmar Bergman, A Grande Magia, de Eduardo de Filippo, Uma Comédia às Escuras, de Peter Shaffer.

Após a morte de Mário Viegas, em 1996, Juvenal Garcês assumiu a direção artística da Companhia Teatral do Chiado e passou a ser o seu encenador principal. Estreou-se nesta função com a peça Dá Raiva Olhar Para Trás, de John Osborne. Entre os maiores sucessos da companhia neste período esteve o espetáculo As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos (Adam Long, Jess Borgeson, Daniel Singer), que se estreou em 1996 e ficou por vários anos em cena.

Assim que viu o espetáculo em Londres, Juvenal Garcês não teve dúvidas de que queria trazer aquele humor para Portugal: "Foi pouco depois de o Mário Viegas [co-fundador da companhia] ter morrido e eu estava muito em baixo e o país também andava muito tristonho. Achei que tinha que contrariar isso", explicou ao DN em 2009: "Percebi logo que não ia ter dinheiro para fazer um espetáculo como o de Londres mas decidi fazer aquilo mas em pobrezinho. Assumidamente." A simplicidade de cenários e figurinos acabaram por funcionar a favor do espetáculo, que apostava tudo na interpretação (com piadas que foram mudando ao longo dos anos) e na interatividade com o público. O segredo do sucesso? "Antes de mais, é Shakespeare", explicava Juvenal Garcês. "Ele foi o primeiro grande dramaturgo comercial, no melhor sentido da palavra. Depois há o texto dos americanos, que é muito bom, e, por fim, os atores."

Juvenal Garcês continuou a lutar por apoios do Estado e pelo espaço da companhia, o Teatro Estúdio Mário Viegas - uma batalha que, entre encerramento para obras e desencontros com a proprietária, a Câmara de Lisboa, ele acabaria por perder. Em 2015 ainda encenou mais uma versão de As Obras Completas de William Shakepeare, no Teatro Tivoli, mas a companhia acabaria por se extinguir. Em 2018 chegou a estar anunciado para o CCB o espetáculo Os que regressam, com texto de Henrik Ibsen e encenação de Juvenal Garcês, mas foi cancelado.

O ator e encenador de 59 anos morreu esta madrugada. Na sua página de Facebook, o ator Ruy de Carvalho lamentou a morte do amigo: "Morreu mais um dos nossos. O meu querido Juvenal Garcês. Ator e Encenador. Morreu esta madrugada na sua linda terra, a Ilha da Madeira. Até sempre meu amigo. Pode ser que para onde foste, tenhas o teatro que tanto gostavas, mas que deixaste desiludido".

Como homenagem, a crítica de teatro Eugénia Vasques publicou uma foto de Mário Viegas e Juvenal Garcês:


por Maria João Caetano in Diário de Notícias | 4 de agosto de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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