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Contextile propõe novas leituras dos recantos de Guimarães
A quinta edição da bienal de arte têxtil vai decorrer de 5 de setembro a 25 de outubro e, devido à covid-19, entre as realidades física e virtual. Respondendo ao tema Lugares de Memória, as obras a expor procuram encontrar novos significados em lugares de Guimarães, como o antigo hospital ou os tanques de curtumes, em Couros.
A quinta edição da bienal de arte têxtil de Guimarães foi uma dúvida que só se transformou em certeza no final de abril, adiantou o diretor executivo da Contextile, Joaquim Pinheiro. A pandemia de covid-19 obrigou a Ideias Emergentes, cooperativa do Porto responsável pela organização desde 2012, ano de Capital Europeia da Cultura em Guimarães, a repensar um programa que já estava definido e incluía artistas oriundos de vários países, alguns deles convidados em regime de residência artística.
O “sim” da autarquia e dos artistas, ainda que alguns deles não possam deslocar-se a Guimarães, viabilizou a realização de uma Contextile com um orçamento semelhante aos anteriores – cerca de 150.000 euros –, e na qual a presença física vai ter o complemento virtual, que inclui, por exemplo, um site para se visitar todos os espaços da bienal. “Questionámo-nos sobre a realização do evento, mas, em abril, decidimos avançar”, frisou o responsável durante a apresentação do programa, no Convento de Santo António dos Capuchos, que serviu de hospital entre 1842 e 1991.
Esse é precisamente um dos espaços de exposição da bienal, que decorrerá de 5 de setembro a 25 de outubro. O canadiano Stephen Schofield, cujo trabalho se centra na representação do corpo humano segundo vários processos artísticos, vai procurar atribuir novos sentidos àquele lugar, numa relação entre o tema da Contextile – Lugares de Memória – e o tempo que se vive, marcado pela pandemia. “No antigo hospital, o têxtil das camas, por exemplo, tinha uma importância muito grande”, observou Joaquim Pinheiro.
O artista de Montreal é um dos convidados da bienal, juntamente com a polaca Magda Sobon, que vai expor no Centro para os Assuntos de Arte e Arquitetura. O programa de 2020 assemelha-se aos das edições anteriores na exposição internacional, com o Palácio Vila Flor a receber 58 obras elaboradas por 50 artistas, de 29 nacionalidades, após uma open call que obteve cerca de 800 propostas – mais 40%, face a 2018, revelou a diretora artística, Cláudia Melo.
Outras oito artistas vão estar em residência para criarem obras para locais específicos, na sequência de parcerias com entidades como a Bienal Internacional de Linho de Portneuf, no Quebeque (Canadá), e a plataforma Magic Carpets, de apoio a artistas emergentes em 13 países europeus. A iniciativa Emergências, outra das marcas da Contextile, volta a acolher obras de arte têxtil dos alunos do ensino artístico, no Instituto de Design de Guimarães. Para Cláudia Melo, toda a criação artística desta edição visa dar uma “ideia de lugar” a espaços que, simultaneamente, são “geográficos, sociais, políticos e estéticos”.
O diálogo com o território sempre esteve inscrito no conceito da bienal, salientou Cláudia Melo. Em 2020, os tanques de curtumes da zona de Couros serão um dos epicentros dessa relação.
Os Projetos Satélite são a principal novidade na programação, e serão três. Um deles é a mostra de cinema ao ar livre Rewind & Play, com quatro sessões onde se vai explorar a relação entre o Vale do Ave, região onde se integra Guimarães, e outras zonas do mundo com indústria têxtil. O lugar vai receber também uma performance multimédia (Love and Loss), a partir da recolha de testemunhos da comunidade têxtil de Guimarães, e uma instalação multimédia (Encontro Expansão), a partir de esculturas criadas com a comunidade.
Presente na sessão, a vereadora da Cultura da Câmara de Guimarães, Adelina Paula Pinto, enalteceu o papel da arte e da cultura na valorização do sector têxtil, conhecido no território pela indústria – valeu 61% das exportações de Guimarães em 2019, segundo o Instituto Nacional de Estatística. “A Contextile sempre esteve em Guimarães segundo um modelo muito dialogante, sensível ao território”, elogiou.
por Tiago Mendes Dias in Público | 23 de julho de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público