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Em Ribeira de Pena, o parque aventura leva-nos da adrenalina à tradição
Junto ao Parque Natural do Alvão, o Pena Aventura, parque de desporto e atividades radicais, toma partido das aldeias circundantes para promover o património e a beleza do Interior. Com calma ou muita adrenalina.
O todo-o-terreno percorre os socalcos de terra e pedregulhos. Por vezes, as rodas levantam a poeira do chão e a imagem fica subitamente enublada. A velocidade arrasta consigo as aldeias da Serra do Alvão, a paisagem verdejante de montanhas que escalam o céu azul. Uma senhora de idade debruça-se sobre a varanda a observar os condutores do desafio Polaris, equipados com os seus capacetes, que vêm do parque Pena Aventura. São muitos os curiosos que, ao longo do trajeto, farão uma pausa das suas tarefas agrícolas para espreitar.
O parque Pena Aventura, localizado no município de Ribeira de Pena, não é só um parque dedicado à adrenalina e às emoções fortes. É também um mergulho pelo Norte do país, pela sua riqueza paisagística e pela sua biodiversidade. Quando o Polaris pára pela primeira vez, pára na cascata de água Cai d’Alto, onde fluem as águas cristalinas do rio Poio, um tesouro escondido na aldeia de Cerva. Há quem se sente sobre a pedra a observar, há quem se atreva a um banho num dia de sol.
Mas o caminho dos todo-o-terreno Polaris, uma das atividades do parque, não pára aqui. Continua em frente, pela luz de julho que ilumina a serra. A segunda paragem permite aos visitantes conhecerem um pouco da história de Ribeira de Pena. Ao longe, vêem-se as vacas a pastar, enquanto Avelino Rego, de cajado na mão, nos leva a deambular por um Portugal que, aos poucos, quer renascer…
Formado em engenharia, Avelino abandonou há uns anos o seu trabalho no Porto para se dedicar ao Interior. Enquanto nos fala da sua terra e da sua profissão (Avelino prefere o termo “gestor de paisagem” ao comum “agricultor”), sublinha de imediato que, na agricultura, o essencial passa por “dar primazia aos serviços ambientais e não à produção”. Uma gestão adequada do espaço rural permitirá, segundo o jovem de 36 anos, diminuir a gravidade dos incêndios. “Cada bocado que um animal consome é menos uma chama que se forma num fogo de verão”, explica – isto é, “são precisos herbívoros na serra para se fazer gestão do combustível”.
Estamos, afinal, na Terra Maronesa, onde se procura valorizar o território habitat da raça bovina e um vasto património alimentar. E tudo isto pode ser complementado pelo turismo, como o próprio Avelino defende: “Fazer caminhadas, arranjar locais de hospedagem, recomendar o Pena Aventura”, enumera, “Temos aqui milho cultivado de forma 100 por cento orgânica, moinhos a funcionar, fornos em lenha. Há ainda as levadas, que são uma forma deste ecossistema funcionar”.
O todo-o-terreno prossegue a sua jornada. A última paragem, antes de uma caminhada aquática seguida de uma escalada radical, é junto às eólicas, gigantescas, que estamos habituados a ver como um pequeno ponto na paisagem. As turbinas giram ao sabor do vento, enquanto os visitantes enfrentam o horizonte – de um lado, o Douro Minho, do outro, Trás-os-Montes. Seguem-se as duras batalhas que apenas um aventureiro será capaz de enfrentar de cabeça erguida: um passeio por águas calmas, mas entre pedras, calhaus e musgo, até se chegar à grande montanha, onde, apenas com resiliência, se chegará ao topo numa alucinante Via Ferrata.
O Pena Aventura, claro, não se limita a estas experiências. Uma das suas atrações mais famosas é o Fantasticable, um cabo com 1583 metros a uma altura de 150 metros, que une Lamelas a Bustelo. Capacete na cabeça, óculos protetores postos e, com um pequeno empurrão, deslizamos sobre a serra, ouvindo o rumorejar das árvores. Sobrevoamos as camionetas na auto-estrada, os pinheiros altos, todo o cenário bordejado de verde que envolve Ribeira de Pena, com o céu pontilhado de pequenas nuvens sobre a nossa cabeça. O Fantasticable atinge uma velocidade máxima de 130 quilómetros por hora, e a duração da viagem é de… um minuto.
Há ainda o Alpine Coaster, uma experiência de curvas e loopings, sempre com a beleza do Norte como pano de fundo. Nas proximidades do parque, há bungalows, casas de grupo e ainda o Pena Park Hotel, um hotel de quatro estrelas com cinco pisos, uma piscina interior aquecida com hidroterapia, SPA com sauna e banho turco. E há ainda o restaurante Biclaque, onde poderá relaxar depois de um longo dia de aventuras, trilhos de musgo aquático e escaladas até ao topo de montanhas.
Enquanto o sol se põe, as árvores alinhadas no horizonte, há quem agite suavemente o seu copo de vinho ou prove as especialidades do restaurante, o magret de pato com citrinos ou o salmonete com puré de ervilha, cogumelos, berbigão e espargos. No final, a sobremesa Irashaimase ("boas-vindas” em japonês), um gelado de doce de ovos fritos, uma das grandes surpresas de Ribeira de Pena. O dia acaba, mas o Pena Aventura, bem como o município que o acolhe, têm ainda muito mais para revelar… Em tempos conturbados, em que se luta contra uma pandemia e se promove uma maior consciência ambiental, este parque e as suas redondezas são um destino seguro de férias, uma visita à História do Norte e ao seu património, à natureza e à vida, por vezes remetida ao esquecimento, do Interior.
por Ana da Cunha in Público | 21 de julho de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público