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Um Festival Estoril Lisboa com notas de esperança
Beethoven, Magalhães, a Viagem à Lua e os 30 anos do Concurso de Interpretação do Estoril são algumas das linhas condutoras da 46.ª edição do Festival Estoril Lisboa que tem início esta sexta-feira com um concerto na Biblioteca Nacional.
O Festival Estoril Lisboa, que se inicia esta sexta-feira às 21h na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), com um concerto pela Orquestra Metropolitana de Lisboa e por solistas premiados nos Concurso de Interpretação do Estoril dos últimos anos, é um dos poucos eventos do género a manter a sua realização dentro do calendário nestes tempos de pandemia. Conforme escreve no texto introdutório à programação, o diretor artístico, Piñero Nagy, faz questão de transmitir uma mensagem de esperança nestes “momentos históricos e estranhos que condicionam o nosso futuro”, comemorando “aniversários de homens e de feitos da História, afirmativos da sua criatividade, da sua arte e do seu sonho”. Com o “verde da esperança” como mote, “em sintonia com Lisboa Capital Verde Europeia 2020”, a 46.ª edição do Festival Estoril Lisboa dá assim continuidade a temáticas do ano passado como os 50 anos da chegada do homem à Lua e o 5.º centenário da Circum-navegação da Terra em conjunto com outras efemérides: o 4.º centenário da publicação das Flores de Música de Manuel Rodrigues Coelho (uma das primeiras coleções de música instrumental a serem publicadas em Portugal), os 250 anos de Beethoven e o 30.º aniversário da criação do Concurso de Interpretação do Estoril (CIE).
O programa do festival teve, no entanto, que ser reformulado e foi dividido em duas fases. A primeira decorre até 31 de julho e a segunda, constituída pelo Ciclo de Órgão e centrada em Rodrigues Coelho, entre 22 de novembro e 12 de dezembro. O CIE passou também para dezembro e os Cursos Internacionais de Música terão lugar no Outono.
Música na biblioteca
O concerto inaugural cruza-se com o ciclo Música na Biblioteca, que nos últimos anos tem levado à sala de leitura da BNP alguns concertos da temporada da Metropolitana, ao mesmo tempo que assinala o contributo do CIE para a descoberta e reconhecimento de jovens talentos portugueses, vários deles a fazer carreira no estrangeiro. Os protagonistas serão assim alguns dos vencedores, nomeadamente o maestro, compositor e clarinetista Luís Carvalho (distinguido no CIE 2001), que irá dirigir o concerto; os pianistas Pedro Costa e Vasco Dantas (CIE 2013 e 2015); a violinista Anna Paliwoda (CIE 2018); e a violoncelista Isabel Vaz (CIE 2016). Pedro Costa será o solista da Fantasia para piano e orquestra, de Fernando Lopes-Graça, obra composta para a 3.ª edição do Concurso de Piano Cidade da Covilhã. Estreada em 1975 com o próprio compositor ao piano, esta obra inspira-se nas suas recolhas de música tradicional na região da Beira Baixa. Os restantes premiados juntam-se na interpretação do Triplo Concerto, op. 56, de Beethoven.
No dia 15, às 21h30, na Sala do Capítulo do Mosteiro dos Jerónimos, dá-se sequência ao eixo temático “A Viagem e a Lua” através do cruzamento entre a música e a literatura, com a estreia do espetáculo Sonetos, Folias e outras Fantasias - De Fernão de Magalhães a Cyrano de Bergerac. Com a participação de Annemieke Cantor (canto), Pedro Castro (flautas de bisel, charamela, oboé barroco), Nuno Torka Miranda (alaúde, vihuela, guitarra renascentista) e David Pereira Bastos (ator) será possível ouvir música ibérica, italiana e francesa dos séculos XVI e XVII da autoria de Marchetto Cara, Tromboncino, Mudarra, Ortiz, Monteverdi, Lambert e anónimos, e textos da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, e do Conde de Ficalho (sobre a presença portuguesa no Oriente), bem como excertos de Cyrano de Bergerac (cena da sua chegada à Lua).
O 5.º Centenário da Circum-navegação foi ainda pretexto para a encomenda de uma obra ao compositor Tiago Derriça (intitulada Magalhães) que terá a sua estreia a 31 de julho no âmbito de um concerto pelo Sonor Ensemble e pelo Grupo Vocal Olisipo, dirigido por Armando Possante (1.º prémio do CIE em 2003).
Outros premiados do CIE marcarão ainda a sua presença: o violinista Vladimir Tolpygo (CIE 2014), que tocará com a Orquestra Gulbenkian, dirigida por Pedro Neves, na Igreja de São Domingos (dia 16,), num concerto que inclui também a participação das cantoras Sandra Medeiros (Menção Honrosa, CIE 1996) e Cátia Moreso; a soprano Filipa Portela e a violinista Lilia Donkova, que se apresentam com a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras no Palácio da Ajuda (dia 20). Três outros laureados — o fagotista Rui Lopes (CIE 2008), a flautista Adriana Ferreira (CIE 2009) e o pianista Vasco Dantas (CIE 2015) — formam o Trio Estoril, que fará a sua estreia no dia 29, no Hotel Palácio do Estoril. Uma iniciativa que desperta fortes expectativas, não só pela qualidade dos intérpretes, mas também pela perspetiva de continuidade de um novo agrupamento de música de câmara. Do programa constam obras de Hummel, Villa-Lobos, Vianna da Motta e Beethoven. No que diz respeito a Beethoven, destaca-se o recital de Aljoša Jurini?, pianista croata multipremiado (dia 28, no Hotel Palácio do Estoril), e em relação aos intérpretes portugueses assinalam-se os 50 anos de carreira do clarinetista António Saiote, que se apresenta com o Quarteto Tejo no dia 21.
por Cristina Fernandes in Público | 10 de julho de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público