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O novo festival de ópera de Lisboa quer ser "para todos"

Catarina Molder é a diretora artística do ÓperaFest’20 Lisboa, que decorre de 21 de agosto a 11 de setembro entre o jardim do Museu Nacional de Arte Antiga e as Carpintarias de São Lázaro.

Catarina Molder DR


Apresenta-se como um festival dedicado a proporcionar “a emoção da ópera para todos”, é dirigido pela soprano Catarina Molder e vai ter a sua primeira edição entre 21 de agosto e 11 de setembro em dois palcos da capital, o jardim do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) e as Carpintarias de São Lázaro, ao Martim Moniz – é o ÓperaFest’20 Lisboa, uma produção da Ópera do Castelo, agora anunciada com uma “programação ultra abrangente”, que cruza a tradição com a vanguarda, da Tosca à ópera contemporânea “e muito mais”.

O programa, já disponível online, abre com o clássico de Puccini no jardim do MNAA, de 21 a 28 de agosto, numa produção – em versão não completa, devido às restrições impostas pela covid-19 – com direção musical do polaco Jan Wierzba e direção cénica de Otelo Lapa e Catarina Molder. Prolonga-se, nos dois últimos dias desse mês e a 3 e 4 de setembro, no mesmo palco, com duas maratonas Ópera XXI, um concurso de ópera contemporânea que estreará sete criações de jovens compositores portugueses, avaliadas por um júri encabeçado pela diretora artística do festival e que integrará figuras de diferentes artes, como o musicólogo Rui Vieira Nery e o compositor António Chagas Rosa, a cineasta Rita Azevedo Gomes e o diretor de som Vasco Pimentel, além do compositor holandês Henk van der Meulen, diretor do Conservatório Real de Haia.

O júri atribuirá ao vencedor um prémio monetário (cinco mil euros) com o nome do musicólogo, antigo diretor-adjunto e consultor do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian Carlos de Pontes Leça (1938-2016).

“Sempre senti que o mundo da ópera estava muito fechado sobre si próprio e o nosso país é um dos países com menos produção de ópera”, disse à agência Lusa Catarina Molder, justificando a nova aventura. “O Teatro Nacional São Carlos é pouco dinamizador. Esta era uma ideia que estava no forno há vários anos: criar um festival que fosse ao encontro do público com propostas muito diversas”, acrescentou a diretora artística.

Sobre a aposta de apresentar a Tosca, Catarina Molder lembra que a obra de Puccini não é encenada em Lisboa há 12 anos, que o São Carlos não faz uma encomenda há mais de dez anos, e que a Gulbenkian e a Culturgest também deixaram de fazer ópera, daí a urgência de divulgar esta arte musical e cénica.

Já quanto à aposta no concurso para jovens compositores, a diretora artística realça a existência de “jovens qualificados que não têm hipótese no seu próprio país”. “Ouvimos o trabalho apresentado por várias candidaturas e escolhemos estas, avaliadas pela qualidade e pela força dos libretos”, acrescentou Catarina Molder sobre as sete novas óperas que foram selecionadas no início do ano: “Queremos mostrar o trabalho deles e, ao mesmo tempo, tirar partido do património arquitetónico e natural de Portugal”, disse ainda à Lusa, justificando também a escolha dos dois palcos do novo festival.

Rave operática

A partir do dia 5 de setembro, o festival passa para o centro cultural das Carpintarias de São Lázaro, onde terá lugar uma “Rave operática com distanciamento social” – de resto, o evento respeitará as regras anti-covid 19 determinadas pela Direção-Geral de Saúde –, que mistura figuras maiores do bel canto, como Maria Callas e a recentemente desaparecida Mirella Freni, com ícones pop como Nina Hagen e Klaus Nomi. “Djs, cantores líricos, improvisadores, compositores e músicos de vários quadrantes realizam misturas líricas irresistíveis”, anuncia a organização, num programa que inclui também a estreia absoluta da “micro-ópera orgásmica Prazer, de Ana Seara”, a compositora residente da primeira edição do festival, que aqui questiona as fronteiras do prazer e da dor, do feminino e do masculino, numa criação em que o mundo pop se cruza com o da ópera.

Apontando o “preconceito”, que sente existir, “das artes contemporâneas em relação à ópera”, vista como “aquela coisa com cem anos que não se consegue modernizar”, Catarina Molder frisa que a intenção do festival é “divulgar ópera em diversos formatos”.

No mesmo espaço situado na Rua de São Lázaro decorrerão as iniciativas complementares da OperaFest’20 Lisboa, com um ciclo de cinema, conferências e debates. O Cine-Ópera vai dar a ver versões cinematográficas de grandes óperas: Tosca (1976), de Gianfranco de Bosio (7 de setembro); Cavalleria Rusticana (1982), de Mascagni, por Franco Zeffirelli (dia 8); e, a assinalar os 250 anos do nascimento de Beethoven (1770-1827), o registo de uma encenação da sua única ópera, Fidélio, por Ernst Wild (dia 9).

No ciclo de conferências, após um debate sobre a construção dramatúrgica em ópera (dia 6), Rui Vieira Nery irá recordar grandes heroínas operáticas (dia 7) e Maria Filomena Molder irá falar sobre “a traição e o engano” (dia 9), dois conceitos que de algum modo unificam o universo operático e são “instigadores da tragédia, que atinge com esta forma de arte total o patamar da utopia, cantando a fascinante e trágica complexidade do ser humano”, explica a organização.

O festival encerra, a 11 de setembro, com uma Gala de Ópera Surpresa precisamente alusiva ao tema da edição. A gala assumirá o formato dos discos pedidos da rádio, com o público a escolher, online, o alinhamento, a partir de uma lista de links com as mais belas árias de personagens traídas e enganadas. 


por Lusa e Público | 8 de julho de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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