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A Castro regressa a casa, ou como montar um espetáculo em tempos de pandemia

A produção estreada em março no Teatro Aveirense reinstala-se, devidamente adaptada, no Teatro Nacional São João, no Porto, para três récitas dedicadas aos profissionais de saúde e da proteção civil.

A peça dirigida por Nuno Cardoso nos ensaios de readaptação ao palco do São João_Nelson Garrido Foto de Nelson Garrido


O estado de emergência foi levantado, mas o vírus, mesmo que invisível, continua bem presente no nosso quotidiano. Com o desconfinamento e a adaptação progressiva a uma “nova normalidade”, também os teatros se preparam para reabrir portas. Mas como montar um espetáculo em tempos de pandemia é a pergunta que fica a ecoar quando está em causa uma arte que depende da proximidade e da interação entre atores, e às vezes até destes com o público.

O Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto, reabre oficialmente esta quinta-feira, mas apenas para os profissionais de saúde e da proteção civil. No cartaz, três récitas da tragédia Castro, a mais recente encenação do diretor artístico da casa, Nuno Cardoso, que vê esta reabertura como uma “homenagem aos que estiveram na linha da frente”. Mas levar a cena um espetáculo no atual contexto não é proeza fácil:no palco, os adereços são desinfetados entre cenas, bem como alguns cenários. Os atores põem e tiram máscaras. E, por detrás de tudo isto, há uma preparação meticulosa para o grande dia. 

Ao ingressar pela entrada dos artistas, actores e técnicos são obrigados a desinfetar o calçado e as mãos e a medir a temperatura. Todos os espaços do edifício centenário são repetidamente tratados com um produto que “cria uma película onde quer que seja aplicado, permitindo a proteção durante um mês”, explica ao PÚBLICO Carlos Miguel, diretor de edifícios e manutenção do TNSJ — o produto, que pode ser aplicado com o recurso a nebulizadores ou pulverizadores, mas também apenas com panos, está a ser usado mais vezes para se “aumentar a segurança”. “As nossas equipas de limpeza vão pulverizando e limpando tudo o que seja mais de contacto direto: casas-de-banho, puxadores, interruptores”, esclarece o responsável. Também o palco e os cenários têm sido nebulizados, de forma a que os actores “se sintam mais à vontade para se tocar”, expõe o encenador Nuno Cardoso — o mesmo se passa com as cadeiras da plateia, ao nível dos braços e dos assentos.

Quanto aos figurinos, Elisabete Magalhães, figurinista que chegou a criar máscaras no seu atelier, explicita que a roupa, além de lavada diariamente (o que aliás já era uma prática do teatro), é vaporizada e pulverizada com spray antivírus. Os lençóis do cenário também são lavados diariamente. No que toca à maquilhagem, cada ator usa a sua e nada é partilhado.

Os funcionários do teatro tentam tanto quanto possível não se cruzar, sendo o uso de máscara e/ou viseira obviamente obrigatório. Filipe Silva, adjunto do diretor do palco, revela que tem havido uma divisão criteriosa de tarefas para permitir que esteja sempre o menor número de pessoas possível no palco: “Em cada momento, só montamos luz, ou só montamos cenários, ou só montamos maquinaria.”

Um cenário distópico

Com a aproximação da data de estreia, o foyer, que tem sido nebulizado todas as semanas e que passará a ser nebulizado com mais frequência, já está completamente preparado para a chegada do público, com proteções de vidro na bilheteira e álcool gel. “Teremos também uma funcionária para garantir que o foyer não enche”, esclarece Carlos Miguel. As próximas récitas terão a lotação máxima de 202 pessoas, numa sala onde cabem quase 500. Lá dentro, no acesso à plateia, o público será dividido em grupos – cada um com um trajeto a cumprir até aos lugares indicados. Foi ainda preparado um local de isolamento, quer para o público, quer para os actores, caso alguém apresente sintomas de covid-19 – está equipado com telefone, casa-de-banho, contacto para o exterior, um kit de segurança, bolachas, água, termómetro…

É um cenário surreal, quase distópico – o de um teatro com máscaras, o de uma plateia com espaços vazios entre os espectadores, o de bastidores em que as pessoas praticamente não podem partilhar as vivências do teatro… mas é mais um passo em frente ao “novo normal” a que o mundo se está a habituar. Castro, que já estreara em março no Teatro Aveirense, dando início às comemorações do centenário do TNSJ, regressa agora a casa, apesar de todos os obstáculos impostos pela pandemia. 


por Ana da Cunha in Público | 2 de julho de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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