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Rubem Fonseca investiga o estranho caso d’O Doente Molière
Sextante Editora abre uma exceção, apesar das contingências no mercado, e presta homenagem ao seu autor recentemente falecido lançando uma das suas novelas mais famosas.
No Palais Royal, acaba de ser representado O Doente Imaginário. No palco, Molière, que faz o papel principal, dá sinais de mal-estar. Poucas horas depois, já em casa, deitado no leito, sussurra à única pessoa que está a seu lado: «Fui envenenado.» O homem que ouve esta revelação sai em busca de um padre. Não teria sido mais adequado correr para chamar um médico?
Nesta obra, o Prémio Camões 2003 extrapola sobre as misteriosas, e por isso mesmo famosas, circunstâncias da morte do conhecido dramaturgo francês do século XVII, um momento da biografia de Molière que se tornou uma referência no meio teatral. Em O Doente Molière, este autor de comédias satíricas que retrataram a face ridícula dos seus contemporâneos é assassinado. Um estranho caso que, através da pena de Rubem Fonseca, nos é narrado por um marquês anónimo, amigo de longa data do dramaturgo. A narrativa transporta-nos para a opulência e as intrigas da corte de Luís XIV, combinando tanto personagens reais como fictícias.
«É o grande Rubem Fonseca que encontraremos neste romance, não obstante esta não seja a narrativa típica do autor — o que, por si só, já é um convite para este novo convívio.»
Miguel Sanches Neto
SOBRE O LIVRO
O Doente Molière
«Os comediantes, por exercerem uma profissão considerada infame, são excomungados. Conforme as decisões da Prelazia de Paris, não se pode dar comunhão a pessoas publicamente indignas e manifestamente ignóbeis como as prostitutas, os usurários, os feiticeiros e os comediantes. (Por algum motivo misterioso, os cantores de ópera não sofrem essas restrições.) A todos esses réprobos são negados a extrema-unção e o sepultamento eclesiástico, mas os comediantes podem obtê-los caso se retratem dos seus erros e prometam, de maneira solene e veraz, renegar a sua abjeta profissão.»
Rubem Fonseca
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SOBRE O AUTOR
Rubem Fonseca
Nasceu em Juiz de Fora (Minas Gerais), no Brasil, a 11 de maio de 1925. É um dos mais prestigiados escritores brasileiros contemporâneos e um dos expoentes máximos da literatura de língua portuguesa. Traduzido em todo o mundo, foi galardoado com seis prémios Jabuti e, pelo conjunto da sua obra, com o Prémio Camões em 2003. Em 2015, recebeu o Prémio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (ABL).
É autor de uma vasta obra narrativa, contista e romancista, que tem vindo a ser publicada em Portugal, desde 2010, pela Sextante Editora. Os romances Agosto e A Grande Arte são duas das suas obras incontornáveis, exemplos máximos da sua escrita sóbria e de um realismo «duro» que fez escola na literatura brasileira: «todas as palavras devem ser usadas», disse uma vez numa entrevista.
A Carne Crua — uma coleção de 26 contos inéditos, lançada em Portugal há precisamente um ano —, que viria a ser a sua derradeira criação, juntam-se atualmente no catálogo da Sextante os romances O Seminarista, Buffo & Spallanzani (Prémio Literário Casino da Póvoa do Correntes d’Escritas), A Grande Arte, Agosto e O Selvagem da Ópera, os livros de contos Calibre 22, Axilas & Outras Histórias Indecorosas, Histórias Curtas e Amálgama, e a autobiografia de infância intitulada José.
Rubem Fonseca faleceu no Rio de Janeiro a 15 de abril de 2020, vítima de um enfarte do miocárdio.