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Em tempo de recolhimento, "A Mentira" vai estrear na internet
Com as atividades suspensas, encenador João Lourenço vai colocar online vídeo do espetáculo de 2018.
"Isto não é teatro, o teatro só existe com público, mas é uma outra maneira de mostrar o teatro e de manter a ligação com o nosso público", explica ao DN o encenador João Lourenço, diretor do Teatro Aberto.
A sala da Praça de Espanha, em Lisboa, suspendeu a carreira do espetáculo A Alma, texto de Tiago Correia com encenação de Cristina Carvalhal, e também suspendeu os ensaios do próximo espetáculo, Só eu é que escapei, que deveria estrear em maio. "É um texto da Caryl Churchill que é extremamente atual, nem nós poderíamos imaginar quão atual ele seria", comenta João Lourenço. A peça - que parte da frase "Só eu é que escapei para te trazer a nova", presente no Livro de Jó e também em Moby Dick, de Melville, mostra a visão apocalíptica sobre o mundo de quatro mulheres, já mais velhas. No palco estarão as atrizes Márcia Breia, Catarina Avelar, Maria Emília Correia e Carmen Santos.
"Somos todos do grupo de risco", diz o encenador, com algum humor, apesar de tudo. "E nós cumprimos as regras, elas foram ensaiar para casa. Vamos estrear, mas mais tarde", garante.
Entretanto, o grupo teve esta ideia de disponibilizar os seus espetáculos através da internet. "Temos feito vídeos dos nossos espetáculos, por uma questão de arquivo. O filme não é teatro. Mas nestes tempos difíceis achámos que podia ser interessante mostrá-lo", explica João Lourenço. A ideia é estrear o espetáculo A Mentira na próxima quinta-feira, pelas 21.00 (no dia e na hora em que costumam estrear os espetáculos) mas no site do Teatro do Aberto, deixar a peça disponível durante algum tempo e depois substitui-la por A Verdade.
As duas peças do dramaturgo francês Florian Zeller estrearam no Teatro Aberto em dezembro de 2018 e mostram como são difíceis as relações amorosas e como verdade e mentira existem nessas relações. Em palco (ou no ecrã) estão os atores Miguel Guilherme, Joana Brandão, Patrícia André e Paulo Pires:
"O teatro não pode parar", declara João Lourenço. E, mesmo sublinhando que isto não é bem teatro, o encenador espera que os vídeos ajudem os espectadores a passar por este período complicado: "Nestes tempos de grande incerteza, o nosso teatro procura conservar-se como um porto seguro para todos os espectadores que gostam de teatro e queiram ver ou rever, agora em suas casas, alguns dos espectáculos apresentados pelo Teatro Aberto", explica a estrutura em comunicado. "O teatro é uma arte em que a humanidade se enfrenta a si própria, é feita por pessoas para pessoas, numa partilha que não dispensa o corpo e a respiração. Assim, daremos a possibilidade aos nossos espectadores em quarentena ou isolamento social de ver ou relembrar alguns espectáculos."
por Maria João Caetano in Diário de Notícias | 16 de março de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias