"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

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Cláudia R. Sampaio inicia Ano 2 da coleção "elogio da sombra"

A coleção de poesia elogio da sombra, com curadoria de Valter Hugo Mãe, entra no seu Ano 2, com a chegada às livrarias do seu décimo título. Já não me deito em pose de morrer [poemas escolhidos] marca a estreia de Cláudia R. Sampaio no catálogo da Porto Editora.


Com os poemas inéditos de A mulher da cor de um lírio e vários poemas dispersos agora organizados sob a forma de Duas casas e um adeus, Já não me deito em pose de morrer reúne ainda os livros Outro nome para a solidão, 1025mg e A primeira urina da manhã. Uma conversa entre a autora e Valter Hugo Mãe, intitulada O absurdo é tolerável, serve como epílogo desta antologia.

"Penso na poesia de Cláudia R. Sampaio como no discurso furioso que apenas alguém de profunda ternura poderia fazer" e expressão "das mais contundentes da contemporaneidade", erguendo-se numa urgência que não teme expor a vulnerabilidade, mapeando e glorificando feridas através dos versos. "Toda a poesia abeira a terapêutica, e aqui a terapêutica é fundamental, inclusive como forma de classificar cada detalhe do mundo, como protesto e como alegria do possível. A loucura e a terapia são íntimas e fertilizam, a um tempo, o pensamento e a sabedoria.", escreve o curador da coleção no texto de abordagem a este volume.

SOBRE O LIVRO
Penso na poesia de Cláudia R. Sampaio como no discurso furioso que apenas alguém de profunda ternura poderia fazer. Sua tragédia, explícita, frontal, é a da saber a delicadeza quando tudo em seu redor propende para o grotesco e sua cabeça desafia para duvidar continuamente. Magnífica poeta, seu impasse é constante: "Quem sabe se não é agora que / possuo toda a loucura / e me faço mulher // Eu que da cintura para cima sou triste / e daí para baixo uma praia / a quem explodiram o mar / para depois o transformarem em / homem e em assombro também".

A expressão de Cláudia R. Sampaio é das mais contundentes da contemporaneidade. Não se ergue panfletária, ergue-se numa urgência íntima que não teme expôr, usando sua vulnerabilidade para força, como alguém que mapeia as feridas procurando cicatrizá-las, e também glorificá-las, com o verso. Toda a poesia abeira a terapêutica, e aqui a terapêutica é fundamental, inclusive como forma de classificar cada detalhe do mundo, como protesto e como alegria do possível. A loucura e a terapia são íntimas e fertilizam, a um tempo, o pensamento e a sabedoria.

Que maravilha o desabrido desta poesia. Que maravilha que não seja demasiado limpa, demasiado educada, e se coloque sobretudo enquanto necessidade além da razão e de qualquer etiqueta. Uma poesia que redime tanta coisa mas que também gratamente infecta: "desta vida à outra / castigaram-nos com abraços / afogando o adeus corcunda / adiantado pelas colisões das / palavras / veneno abençoado / do nosso lar.".

Valter Hugo Mãe 

(...)
Porque a mulher estava farta das coisas visíveis
e pensava: quero procurar as invisíveis
Normalmente ninguém vê o que se vê,
ninguém encontra o que transparece
É preciso acordar da cor de um lírio
e ir contra as coisas, rodando ao contrário
Normalmente as mulheres não podem ser o contrário
nem podem ser tudo o que quiserem
Por isso a mulher escolheu ser o mundo,
usando um chapéu magnífico,
não por fora, mas por dentro,
visivelmente translúcida
(...) 

SOBRE A AUTORA
Cláudia R. Sampaio

Poeta e pintora nascida em Lisboa (1981). Tem cinco livros de poesia publicados até ao momento: Os dias da Corja, A primeira urina da manhã, Ver no escuro, 1025 mg e Outro nome para a solidão. Também está publicada no Brasil com a trilogia Inteira como um coice do Universo (Edições Macondo). Em 2017 estreou-se na escrita para teatro, com uma peça para a 10.ª edição do festival PANOS, na Culturgest. Atualmente é artista residente do projeto MANICÓMIO. Vive em Lisboa com as suas duas gatas: Polly Jean e Aurora. 
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