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De Tânia Carvalho a Merce Cunningham, o Teatro Municipal do Porto está comprometido para os próximos seis meses
O 88.º aniversário do Rivoli, que se comemora este fim-de-semana com uma dezena de espetáculos gratuitos, dá o pontapé de saída para um semestre pontuado por várias visitas internacionais e pelos festivais habituais.
Foi a recordar Paulo Cunha e Silva que se iniciou esta manhã a apresentação da programação do Teatro Municipal do Porto (TMP) para a segunda metade da temporada 2019/2020 e do programa das festas do 88.º aniversário do Rivoli. Há cinco anos, o então vereador da Cultura da autarquia, falecido em novembro de 2015, aflorava mais uma vez, numa entrevista no subpalco do teatro, a “cidade líquida” que sonhava para o Porto; exatamente no mesmo local, o presidente da Câmara que desde a morte de Cunha e Silva chamou a si o pelouro, garantiu esta quarta-feira estar concretizado esse projeto – sublinhando que um dos motores da transformação terá sido o TMP, hoje “o espelho da cidade”.
Para festejar esse trabalho que, apesar das conquistas já feitas, continua em progresso, o Rivoli abre as portas por estes dias a uma dezena de projetos de diferentes áreas artísticas (dança, teatro, música, circo contemporâneo e literatura). Como já se tornou habitual nos aniversários do teatro da Praça D. João I, o público não precisa de comprar bilhete. Nos corredores do teatro também já lá estará o segundo volume da agenda da temporada que começa em março e termina em julho.
A festa começa na quinta-feira, com uma edição especial das Quintas de Leitura, que dão uma folga à sua sede habitual, o Teatro Municipal do Campo Alegre, para ir para casa emprestada. Será o único momento do aniversário sem entrada gratuita, mas o valor do bilhete – cinco euros – reverterá a favor de instituições de solidariedade social da cidade. Depois de uma pausa na sexta-feira, a celebração prossegue no fim-de-semana, com um alinhamento que se repete no sábado e no domingo. O dia começa com um pequeno-almoço reservado aos associados do TMP e com uma sessão especial de Little B, peça do Visões Úteis que se debruça sobre a biografia do actor Mário Moutinho. Depois haverá Narrow, dos belgas Laika, o regresso de Marengo, primeiro trabalho da coreógrafa Ana Isabel Castro estreado no último Festival DDD – Dias da Dança (e que esteve entre os melhores espectáculos de 2019 para o Ípsilon), e ainda circo contemporâneo com Crisália, de Daniel Seabra, e Ash, do francês Aurélien Bory, numa colaboração com a bailarina indiana Shantala Shivalingappa.
A programação musical ficou a cargo da Matéria Prima, que convidou o percussionista iraniano Mohammad Reza Mortazavi, e da Favela Discos, que chamou King Earthquake para encerrar a festa com o seu dub. Completam o programa as instalações Phonopticon, da Sonoscopia, e Horto, de Guilherme Sousa e Pedro Azevedo. Já os Jovens Artistas Associados ao TMP levarão dança ao Rivoli.
Portugueses e estrangeiros
O diretor do TMP, Tiago Guedes, foi o cicerone de uma viagem pelos próximos cinco meses de programação, orçados em cerca de 650 mil euros. Numa espécie de instalação cronológica montada no subpalco apareciam sublinhados alguns destaques particulares da temporada.
Em março, parou-se para destacar a chegada de Onironauta, a nova criação da coreógrafa Tânia Carvalho, ao Campo Alegre (dias 6 e 7), e o regresso de Anne Teresa De Keersmaeker, com a sua companhia Rosas, para revisitar Achterland, de 1990, no Rivoli (dias 25 e 26). Dias antes, no mesmo sítio, estreia-se um espetáculo construído em parceria pelo músico Paulo Furtado e pelo encenador Gonçalo Amorim, Estro/Watts – Poesia da idade do Rock, do qual foi possível assistir a uma curta antecipação.
Em abril, o destaque vai para o regresso do DDD, a partir do dia 18, e para o seu reencontro com o FITEI, que termina a 10 de maio. O programa completo dos dois festivais só será apresentado a 18 de março, mas já se sabe que pelo primeiro passarão o coletivo francês (La) Horde, com Marry me in Bassiani, e Augusto, do italiano Alessandro Sciarroni, o mais recente Leão de Ouro da Bienal de Dança de Veneza. No mesmo mês, o suíço Martin Zimmermann estará pela primeira vez no Porto com a sua nova criação que cruza teatro e circo contemporâneo, Eins Zwei Drei (dias 3 e 4). E enquanto o suíço estiver a fazer a sua segunda data no Campo Alegre, o Rivoli receberá Capicua, que ali lançará o seu novo álbum.
Maio trará ao Porto, via FITEI, Renata Carvalho, ícone do universo trans brasileiro, com o seu Manifesto Transpofágico. E o alemão Raimund Hoghe volta ao TMP com os seus mais recentes espectáculos de dança – Canzone per Ornella e Postcards from Vietnam –, ambos protagonizados por Ornella Balestra, bailarina italiana de 70 anos.
Castorf, circo e cartão
Em junho arranca uma nova parceria do TMP com o Teatro Nacional de São João, a rubrica União de Facto, que acontecerá duas vezes por ano. Bajazet, Considerando o Teatro e a Peste, do mítico encenador alemão Frank Castorf (dias 12 e 13), será o primeiro fruto desta nova relação. No Rivoli, Merce Cunnigham, que teria agora 100 anos, será homenageado com algumas das suas peças pelo Ballet de Lorraine (dias 26 e 27).
O festival de circo Trengo também regressa ao Rivoli a partir de 1 de julho, pela mão dos franceses Cirque Aital, com Pour le Meilleur et Pour le Pire. No mesmo dia, a repetir no seguinte, a Erva Daninha, companhia organizadora do festival, estreia Ready.
Para encerrar a temporada, entre 3 e 5 de julho, o arquiteto e cenógrafo Olivier Grossetête, conhecido pelas suas reproduções monumentais, em cartão, de edifícios icónicos de várias cidades, vai ter ao seu dispor a Praça D. João I. Com 24o ajudantes, replicará um dos edifícios icónicos da cidade, escolhido pelo próprio. A instalação durará três dias – um para construir, outro para admirar e o último para destruir.
por André Borges Vieira in Público | 15 de janeiro de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público