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Trancoso tem a maior necrópole de sepulturas antropomórficas da Península Ibérica

A invulgar necrópole de sepulturas de adultos e de crianças escavadas na rocha encontra-se em torno da igreja de Santa Marinha, datada do século XII.

Na aldeia de Moreira de Rei, no concelho de Trancoso, foram encontradas 550 sepulturas antropomórficas_ Miguel Pereira da Silva/Lusa Arqueólogos durante as escavações no concelho de Trancoso, distrito da Guarda_Miguel Pereira da Silva/LusaIRA DA SILVA/LUSA


Uma equipa de arqueólogos encontrou 550 sepulturas antropomórficas na aldeia de Moreira de Rei, no concelho de Trancoso, distrito da Guarda, o que faz do local a maior necrópole do género da Península Ibérica.

A invulgar necrópole de sepulturas de adultos e de crianças escavadas na rocha encontra-se em redor da igreja de Santa Marinha, datada do século XII, que está classificada como Monumento Nacional desde 1932.

Segundo Maria do Céu Ferreira, arqueóloga da Câmara Municipal de Trancoso, no local existe “um grande cemitério medieval”, balizado entre os séculos VIII-IX e XII-XIII, onde já foram descobertas “cerca de 550 sepulturas escavadas na rocha”. A área já é considerada uma das “maiores necrópoles da Península Ibérica” e a responsável admite que “ainda apareçam mais” sepulturas, uma vez que as escavações ainda não estão terminadas.

O elevado número de sepulturas surpreendeu os arqueólogos, bem como o facto de ainda existirem no local muitos vestígios de ossadas humanas. Nas escavações iniciadas em agosto de 2018 estiveram envolvidos quatro arqueólogos e uma antropóloga, mas o número de técnicos será reforçado no início de 2020, quando as prospeções forem retomadas.

“Estamos convencidos que para os finais de janeiro [de 2020] iremos retomar [as escavações], até com o reforço de recursos humanos, porque temos muito aqui que fazer”, adiantou Maria do Céu Ferreira à agência Lusa.

“Estávamos longe de imaginar”

O grande número de covas escavadas na rocha surpreendeu José Amaral Veiga, presidente da Assembleia Municipal de Trancoso, que é natural de Moreira de Rei. O autarca, que em criança brincou muitas vezes no local, lembra que “uma pequena parte” das sepulturas sempre esteve visível, mas estava “longe de imaginar” que tivessem ossadas e que “existisse uma quantidade tão grande que transforma a necrópole”, provavelmente, “numa das maiores da Europa”.

José Amaral Veiga entende que Moreira de Rei, que foi vila e cabeça de concelho extinto em 1855, “precisa de ser preservada” para ser transformada “num pequeno ponto de atração turística” de “inegável valor”.

Os trabalhos arqueológicos estão a ser realizados pelo município de Trancoso, no âmbito do projeto de requalificação do largo e da igreja de Santa Marinha, para devolver o espaço “ao usufruto pleno da comunidade”, como explicou o arquiteto municipal Tiago Silva.

Com a intervenção, que representa um investimento de 140 mil euros, pretende-se “criar alguns eixos de circulação e zonas de reserva”, onde “as sepulturas ficarão à vista”, disse. O plano prevê o arranjo e a valorização da igreja e da área envolvente, e a criação de um Centro de Interpretação da necrópole no interior do monumento.

A vereadora Ana Couto, com o pelouro da Cultura na Câmara de Trancoso, disse à Lusa que a necrópole é considerada “uma grande descoberta” para o território. Segundo a autarca, o município pretende requalificar o espaço e “descobrir o maior número de vestígios” históricos, para que Moreira de Rei tenha o seu património “acentuado” e “divulgado”, para que possa atrair mais turistas.

O presidente da Junta de Moreira de Rei considera que a existência da necrópole de grandes dimensões é uma “mais-valia para o turismo” e para o futuro da freguesia que fica a 7,5 quilómetros da cidade de Trancoso e que tem cerca de 500 habitantes (25 residem no centro histórico).

“Não imaginávamos que este achado fosse tão grande, mas em termos turísticos é uma mais-valia”, disse Américo Mendes, lembrando que a localidade tem três monumentos nacionais: ruínas do castelo, igreja de Santa Marinha e pelourinho.


por Lusa e Público | 15 de dezembro de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura e Jornal Público

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