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Tiago Rodrigues é o vencedor do Prémio Pessoa 2019
O Prémio Pessoa deste ano é atribuído a Tiago Rodrigues, ator, encenador e diretor artístico do Teatro Nacional Dona Maria II.
"É uma grande felicidade", reagiu.
Ator, encenador e diretor artístico do Teatro Nacional Dona Maria II, Tiago Rodrigues, de 42 anos, é o vencedor do Prémio Pessoa 2019. A distinção acontece numa altura em que o premiado está em Londres a encenar com a Royal Shakespeare Company a peça Blindness and Seeing, um espetáculo que adapta dois romances de José Saramago: Ensaio sobre a Cegueira e Ensaio sobre a Lucidez.
Foi a partir da capital inglesa, onde estão a decorrer os ensaios do espetáculo que vai estrear em agosto, que Tiago Rodrigues reagiu à notícia de que é o vencedor da edição deste ano do Prémio Pessoa, uma iniciativa do Expresso com a Caixa Geral de Depósitos, anunciada esta sexta-feira no Palácio de Seteais, em Sintra. "É uma grande felicidade porque é um prémio extremamente importante", refere o encenador, citado pelo semanário.
"Encaro-o como um prémio pessoa para várias pessoas, porque sendo atribuído a alguém do teatro, é necessariamente um prémio coletivo. Acho que nenhum caminho se faz sozinho, mas em teatro sobretudo os caminhos são coletivos, portanto é um prémio que não me honra só a mim, mas premeia também muitas centenas de pessoas que nos últimos vinte e poucos anos acompanharam no meu trabalho, e colaboraram no meu trabalho, construíram aquilo que eu posso chamar o meu trabalho de teatro: muitos atores, muitos técnicos, muitos produtores, muitos teatros", destacou Tiago Rodrigues.
O diretor artístico do Teatro Nacional Dona Maria II considera que esta distinção "premeia também a qualidade e a vitalidade do teatro português apesar das muitas dificuldades que enfrenta cronicamente".
O júri consagra uma carreira de "excecional projeção dentro e fora do país" e reconhece o "contributo notável para o desenvolvimento do campo das Artes Performativas portuguesas", lê-se na ata do Prémio Pessoa 2019.
Encenador, dramaturgo, ator e produtor teatral, Tiago Rodrigues "é hoje uma presença regular nos principais palcos europeus, entre eles os do Festival de Avignon ou do Teatro da Bastilha", enumera o júri que destaca também o facto de ter sido convidado para encenar para a Royal Shakespeare Company, em Londres, "a sua peça Blindness and Seeing, baseada nos romances de José Saramago".
Prémios nacionais e internacionais no currículo
Filho do jornalista Rogério Rodrigues, que faleceu no início de outubro, Tiago Rodrigues colaborou com os Artistas Unidos nos seus primeiros anos como ator. Aos 21, trocou a escola de teatro pela companhia belga tg STAN, com quem colaborou até 1998, tendo apresentado espetáculos em francês e inglês em mais de 15 países.
"Começou por se destacar no panorama artístico português quando foi cofundador do projeto Mundo Perfeito", em 2003, sublinha o Prémio Pessoa. Criou esta estrutura com Magda Bizarro e "apresentou mais de trinta produções, quer em Portugal, quer em alguns dos mais importantes festivais e temporadas na Europa, no Brasil e nos Estados Unidos".
Com Mundo Perfeito, o "repertório abordado incluiu leituras contemporâneas de autores da dramaturgia clássica, da Antiguidade a Shakespeare e Strindberg, bem como estreias de autores portugueses como José Luís Peixoto, Jacinto Lucas Pires ou José Maria Vieira Mendes". Tiago Rodrigues foi autor das obras Se uma Janela se Abrisse, Tristeza e Alegria na Vida das Girafas ou Três Dedos Abaixo do Joelho. "Empenhado num constante diálogo entre o Teatro e as demais linguagens artísticas, colaborou com o coreógrafo Rui Horta e com os cineastas Tiago Guedes, João Canijo, Bruno de Almeida e Marco Martins e foi autor do guião da série televisiva Noite Sangrenta", realça o júri.
Aliás, uma das suas criações, Três Dedos Abaixo do Joelho, foi distinguida duas vezes na categoria de Melhor Espetáculo de Teatro de 2012 pela Sociedade Portuguesa de Autores e pelos Globos de Ouro.
"Imprimiu um novo dinamismo" no Teatro Nacional Dona Maria II
Além do percurso como ator, encenador e produtor, o Prémio Pessoa distingue a "intensa atividade pedagógica" de Tiago Rodrigues. E dá como exemplo o seu contributo na escola de dança contemporânea PARTS, de Bruxelas, onde começou a trabalhar como professor convidado aos 26 anos. Dá também aulas em escolas portuguesas como as Escolas Superiores de Música e Artes do Espetáculo e de Dança e na Universidade de Évora.
Em 2014, ao ser nomeado para liderar a direção artística do Teatro Nacional Dona Maria II, levou a cabo "um ambicioso projeto de internacionalização" da instituição, refere a nota do Prémio Pessoa. "Imprimiu um novo dinamismo desde logo reconhecido pela crítica e pelo público. É de sublinhar, em particular, o papel que, sob a sua orientação, o Teatro Nacional tem vindo a desempenhar na articulação com os projetos teatrais independentes e com a circulação de produções por todo o país", pode-se ler ainda no documento.
"A sua intervenção tem também uma forte dimensão comunitária, estando, nomeadamente, associado a projetos de natureza social envolvendo jovens e seniores", sublinha o Prémio Pessoa.
Entre os prémios nacionais e internacionais que tem no currículo, destaque para o "Prémio Europa de Teatro de 2018, a atribuição do grau de Chevalier des Arts et Lettres pela República Francesa, ou o prémio da Associação Profissional da crítica francesa para a melhor peça do ano".
No ano passado, o Prémio Pessoa foi atribuído ao geógrafo Miguel Bastos Araújo pelo seu percurso no estudo do impacto das alterações climáticas na biodiversidade. É investigador da Universidade de Évora, catedrático da Universidade de Copenhaga e do Imperial College de Londres, e um dos maiores especialistas mundiais em alterações climáticas e biodiversidade.
Este prémio é concedido anualmente à pessoa de nacionalidade portuguesa que durante esse período e na sequência de uma atividade anterior tiver sido protagonista de uma intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país. Esta é a 33.ª edição do Prémio Pessoa, uma iniciativa anual do jornal Expresso, com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos e tem uma dotação em dinheiro no valor de 60 mil euros.
Entre os anteriores vencedores do prémio estão o arquiteto Manuel Aires Mateus (2017), o escultor Rui Chafes (2015), o pensador Eduardo Lourenço (2011), a historiadora Irene Flunser Pimentel (2007), o escritor José Cardoso Pires (1997) e a pianista Maria João Pires (1989).
O Prémio Pessoa foi entregue pela primeira vez em 1987 ao historiador José Mattoso.
in Diário de Notícias | 13 de dezembro de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias