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Os cinco finalistas do Prémio Sonae Media Art afinal são dez
Exposição no Museu do Chiado mostra ao público as obras que chegaram à shortlist. Na próxima semana será anunciado o vencedor.
“Gostaram?”, ouvimos sussurrar numa das instalações da exposição que reúne os cinco finalistas do Prémio Sonae Media Art, inaugurada esta quinta-feira no Museu de Arte Contemporânea do Chiado, em Lisboa. Na penumbra, conseguimos perceber que a voz, suave mas inquisidora, fugiu para outro canto da sala e que ninguém está a interpelar-nos.
A tarefa de escolher um vencedor para o prémio atribuído pela Sonae (grupo proprietário do PÚBLICO) entre os cinco finalistas que apresentam os trabalhos na exposição do Museu do Chiado cabe ao júri de premiação, constituído por Miguel Soares (artista), Patrícia Gouveia (Faculdade de Belas-Artes de Lisboa) e Yves Bernard (diretor do iMAL, em Bruxelas). No valor de 40 mil euros, e considerado um dos mais significativos na área das artes visuais, será anunciado no próximo dia 4 de dezembro.
Este ano, num processo que começou com 100 propostas aceites a concurso, os cinco finalistas desdobraram-se em dez artistas, dada a presença de dois coletivos, como explicou aos jornalistas Adelaide Ginga, curadora executiva desta edição. Além de Diogo Tudela, Francisca Aires Mateus e Rudolfo Quintas, a exposição conta com obras do coletivo Berru (composto por Bernardo Bordalo, Mariana Vilanova, Rui Nó e Sérgio Coutinho) e de um grupo composto por investigadores universitários (Tiago Martins, João Correia e Sérgio Rebelo). Pela primeira vez, acrescentou a curadora do Museu do Chiado, há artistas de fora de Lisboa (no caso, do Porto e de Coimbra) entre os finalistas. Num prémio que tem como limite os 40 anos, as idades dos finalistas variam entre os 23 e os 39.
É interessante, acrescenta, que este regresso às artes plásticas dos coletivos, um formato importante nos anos 60-70, seja visível também no campo da media art: “O trabalho interdisciplinar, que convoca a colaboração de várias pessoas para construir uma peça, faz emergir estes coletivos também do ponto de vista da criação.”
Tal como nas duas edições anteriores, os artistas receberam uma bolsa de 5000 euros para produzirem as suas obras. E este ano, defende a curadora, nota-se uma evolução nos trabalhos apresentados. “Todos os projetos têm linguagens computadorizadas, são bastante tecnológicos, mas a forma de apresentação não fica refém do digital. Há todo um aparato de outros meios e de outros suportes que cria relações surpreendentes. Há duas peças muito escultóricas, outra com uma relação muito directa com a natureza e outra exclusivamente sonora.”
Na primeira sala, Diogo Tudela (Porto, 1987) apresenta a instalação Collisions & Render Engines, num trabalho que se materializa em seis estantes-torres, suporte para exibir imagens abstratas impressas sobre baquelite e cenário para escutarmos uma peça sonora. A peça reflete sobre a expansão do complexo militar-industrial e as suas relações de promiscuidade com as tecnologias do entretenimento.
Na sala seguinte, Rudolfo Quintas (Porto, 1980) apresenta a escultura áudio Keystone, em que trabalha mensagens de 100 contas Twitter portuguesas. O espectador é confrontado com as ideias expressas online pela sociedade portuguesa, retrabalhadas por um programa de Inteligência Artificial. Capazes de estabelecer 40 milhões de relações por cada palavra, quatro caixas vão exibindo esta escrita criativa gerada por algoritmos.
O coletivo de investigadores da Universidade de Coimbra construiu uma instalação interativa, intitulada Retratos de Ninguém, capaz de recombinar as faces dos visitantes, fotografados. Somos convidados a fazer parte deste retrato coletivo de um mundo dominado por sistemas de reconhecimento facial, retratos criados automaticamente a partir do material genético que fornecemos.
Já a natureza entrou no Museu do Chiado pela mão do coletivo portuense Berru. A instalação System Synthesis apresenta uma pequena ilha verde e procura reproduzir artificialmente o ecossistema de onde as plantas foram transplantadas. Nos próximos dois meses, o tempo que dura a exposição, uma lâmpada e três ventoinhas, ajudadas por 40 sensores, farão de sol e criarão vento. Numa perspetiva de crítica antropocénica, o objetivo deste sistema de biocomputação é mostrar que pode haver uma relação simbiótica entre tecnologia e natureza.
Na última sala, a peça sonora de Francisca Aires Mateus, Música Humana, apresenta 24 composições para 24 pessoas, propondo a descoberta do espaço envolto em penumbra através do som. A obra, que mistura instrumentos da música erudita com a voz humana, ganha uma dimensão cada vez mais visual à medida que percorremos o espaço entre as 20 colunas suspensas do teto para ouvir estas composições que vão do orquestral ao sussurro.
“Gostaram?”
por Isabel Salema in Público | 28 de novembro de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público