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"Canja de Galinha (com Miúdos)" é o novo projeto de Luís Miguel Cintra

Espetáculo com estreia marcada para 10 de dezembro, no Museu da Marioneta, em Lisboa.

Foto: Mário Cruz/Lusa


Duas peças de teatro de Camilo Castelo Branco foram o ponto de partida para "Canja de Galinha (com Miúdos)", o novo espetáculo de Luis Miguel Cintra, a estrear em Lisboa, em dezembro, revelou o encenador à agência Lusa.

As peças que deram origem ao espetáculo, que se estreia em 10 de dezembro, no Museu da Marioneta, foram "Entre a flauta e a viola", uma obra curta, e outra "mais extensa, mais desenvolvida" intitulada "Patologia do casamento", acrescentou Luis Miguel Cintra.

"Muito diferentes entre si", a primeira peça tem "muitas canções lá pelo meio" e é "uma espécie de farsa passada numa estalagem de Barcelos", enquanto a segunda é "mais extensa, mais desenvolvida", acrescentou.

A conjugação das duas obras faz uma "espécie de ligação livre dos assuntos entre si", disse o antigo diretor do Teatro da Cornucópia (que cessou a atividade em 2016), sobre o trabalho dramatúrgico com os textos do autor de "Amor de perdição" (1825-1890).

A felicidade da mulher é um dos temas da peça, porque começa tudo com a história de um pai que vai levar uma filha para se casar com um noivo que ela não escolheu, prosseguiu o encenador, em declarações à Lusa.

A possibilidade de ser feliz, a liberdade feminina, as relações de poder, as regras da sociedade e as diferenças de classe são alguns dos temas abordados na peça.

"Aproveitámos os textos de Camilo. A qualidade deles é enorme. São coisas pouco conhecidas, portuguesas, mas que tocam com uma violência particular reconhecida no Camilo", prosseguiu o encenador à Lusa. Uma violência sempre presente. "Tanto que o levou a suicidar-se e a ser preso. Mas [há também no texto] muito vernáculo muito português e, por muitas vezes, muito humor também, um humor muito feroz", enfatizou.

Por isso, Luis Miguel Cintra achou que aqueles textos de Camilo Castelo Branco eram "muito bom material para fazer outra experiência" dramatúrgica. Em 2017, Luis Miguel Cintra desenvolveu a tetralogia "Um D. João Português", sobre uma tradução livre, anónima, do original de Molière.

"Depois do fim da Cornucópia não faz sentido nenhum, com a lucidez que ainda me resta, apesar das dificuldades físicas que as pessoas sabem que tenho, ir agora concorrer com as coisas que já fiz sem ter os próprios meios para isso. Portanto, tenho feito diferentes experiências, que são experiências de inovar", sublinhou.

Luis Miguel Cintra disse ainda que candidatou, em nome próprio, o projeto "Canja de Galinha" aos apoios pontuais da Direção-Geral das Artes (DGArtes), sublinhando ter sido "informado há dois dias" de que "a candidatura foi apurada e vai receber subsídio".

"São sempre muito baixos, mas permite que o projeto se realize", indicou, acrescentando, contudo, que os atrasos registados com aquele concurso fizeram com que a equipa iniciasse o projeto, sem ter a certeza de vir a ser subsidiado.

"Para algumas pessoas isso é fundamental, não têm sequer a hipótese de esperar uns meses que se lhes pague um salário; têm que ganhar para aquele dia", argumentou.

A interpretar o novo trabalho do diretor da Cornucópia está um elenco de atores mais jovens como Ana Amaral, Ana Simão, Ivo Alexandre, Joana Manaças, João Reixa, Levi Martins, Maria Mascarenhas, Rafaela Jacinto, Rui Seabra, Sérgio Coragem e Duarte Guimarães (o único "histórico" da Cornucópia). A peça terá ainda voz de Luísa Cruz.

O espetáculo ficará em cena no Museu da Marioneta, em Lisboa, até 29 de dezembro, exceto nos dias 24 e 26 de dezembro, e pode ser visto de terça-feira a quinta, às 19h00, às sextas-feiras e sábados, às 21h30, e, ao domingo, às 17h30.

Questionado sobre o porquê do título da nova peça -- "Canja de Galinha (com Miúdos)" --, Luis Miguel Cintra respondeu: "Para despistar".

"Para no fundo abrir um tom de brincadeira e de ironia, em que o Camilo se sente muito bem e em que eu também gosto de estar, e que tem a ver com as mulheres. Porque, apesar de tudo, se chama galinhas às mulheres, de uma forma desprezível", ironizou.

Não há, "com certeza, quem não pense que talvez se esteja a falar da mulher numa 'canja de galinha', pelo menos que 'canja de galinha' é que terá feito. Terá sido aquilo que possibilitou que 'A Canja' fosse feita", referiu.

Além de ter achado "engraçado" usar esse título, Luís Miguel Cintra frisou que a peça se passa numa hipotética estalagem, um local "onde se costuma comer sopa".

"Canja de Galinha (com Miúdos)" é uma produção conjunta da Companhia Mascarenhas Martins e do Museu da Marioneta.

A tetralogia "Um D. João Português", espetáculo em que cruzava uma tradução anónima de cordel com o texto original de Molière, apresentada em 29 de abril de 2017, no Montijo, foi o primeiro espetáculo de Luis Miguel Cintra após o fecho da companhia com sede no Teatro do Bairro Alto, que dirigiu durante 43 anos.

A última representação de "Um D. João Português", desenvolvido em quatro cidades portuguesas, ocorreu no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, em março de 2018, depois de também ter passado por Viseu e Guimarães.


por Lusa e Renascença | 16 de novembro de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença

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