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Restauro dos painéis de São Vicente avança na primavera de 2020
O tesouro nacional dos seis painéis de São Vicente de Fora vai ser restaurado. Foi assinado um protocolo de apoio mecenático com a Fundação Millennium BCP que prevê uma verba de 225 mil euros.
São tesouro nacional e há mais de um século que não sofrem um restauro. Os seis painéis de São Vicente de Fora, atribuídos a Nuno Gonçalves – pintor régio de D. Afonso V - vão ser restaurados de forma faseada a partir da primavera de 2020. A intervenção é possível graças a um protocolo de mecenato assinado esta terça-feira, em Lisboa, entre a Direcção-Geral do Património Cultural, o Museu Nacional de Arte Antiga e a Fundação Millennium BCP, que prevê uma verba de 225 mil euros.
Ao olhar de um leigo a pintura deste que é o maior conjunto de retratos coletivo da pintura europeia pode parecer estar bem, mas um ecrã tátil com radiografias da obra que está no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) revela os pontos que precisam de uma intervenção de mãos especializadas.
Luciano Freire foi o primeiro a restaurar, em 1910, esta obra, onde 56 figuras enigmáticas se reúnem em torno da dupla imagem de São Vicente. Agora mais de um século depois uma equipa de quatro técnicos de restauro vai trabalhar neste conjunto pintado a óleo e têmpera sobre madeira de carvalho.
“Há alterações na cor e no tipo de matéria que se tornam muitíssimo visíveis quando observados em pormenor” explica Joaquim Caetano, diretor do MNAA, que recorda que o restauro de Luciano Freitas que “de alguma forma marcou o início do restauro moderno em Portugal foi feito com os meios que existiam na altura”. Hoje a tecnologia é outra e serão por isso estudadas por especialistas as hipóteses que “permitem ir mais fundo” no restauro, diz Caetano.
O MNAA está para já a estudar como irá ser feito este restauro. “Nós gostávamos muito que o restauro fosse feito in loco” explica o diretor do MNAA, que reconhece dificuldades técnicas e logísticas para o poder fazer aos olhos dos visitantes. Outra das soluções passa por retirar, para os laboratórios do MNAA os painéis, “em quatro fases”, ou seja, primeiro sairão dois painéis mais pequenos, depois um dos maiores, numa terceira fase o outro painel maior e por fim os outros dois mais pequenos.
Em estudo está também a moldura. Numa altura em que o MNAA prepara uma exposição sobre Almada Negreiros para outubro e sobre a forma como este artista pensou a disposição destes seis painéis de São Vicente, o diretor Joaquim Caetano revela que as molduras atuais escondem mais 8 centímetros de tela que poderão vir a ficar a descoberto depois do restauro.
A cultura precisa dos privados
Numa cerimónia no MNAA, na sala onde estão os painéis de São Vicente foi esta terça-feira assinado o protocolo que prevê uma dotação de 225 mil euros para o restauro que irá abranger, além dos painéis, também um conjunto de 11 esculturas em terracota da Coleção Della Robbia, também classificados como Tesouro Nacional.
Presente na assinatura entre a Direcção-Geral do Património Cultural, o MNAA e a Fundação Millennium BCP esteve a ministra da cultura. Graça Fonseca não quis se comprometer com o orçamento futuro do museu e a sua dotação de mais recursos humanos, enquanto o orçamento de Estado não é aprovado. No discurso, a titular da pasta classificou a Fundação Millennium BCP como “um pilar estratégico” na conservação e sublinhou que “para crescer ainda mais, a cultura precisa do compromisso do setor privado”. Em estudo no Governo que agora começou funções estão também alterações à Lei do Mecenato, explicou Graça Fonseca.
Por seu lado, a Fundação Millennium BCP representada pelo seu presidente, o embaixador António Monteiro, disse à Renascença que foi mobilizadora a intervenção numa “peça da nossa identidade nacional”, como os painéis de São Vicente. O diplomata confessa que “não percebia a princípio a necessidade de restauro, porque parece que está tudo bem”. António Monteiro clarifica que o envolvimento financeiro da Fundação “não é fechado, mas tem linhas gerais”, contudo, acrescenta o diplomata, “a relação como MNAA nunca teve problemas financeiros”.
Concursos para diretores de museus abrem até março
À margem da assinatura do protocolo, e depois do diretor do MNAA referir que a sua equipa está em regime de substituição, a ministra da cultura explicou aos jornalistas que “há vários diretores de museus que estão em regime de substituição, e foi aprovada a lei que irá permitir a abertura de concursos para todos os equipamentos culturais”. Segundo Graça Fonseca, esses concursos irão acontecer “no primeiro trimestre do ano” de 2020.
Questionada sobre o reforço de recursos humanos, depois de Joaquim Caetano ter referido uma “sangria nos recursos” do museu, a titular da pasta da cultura prefere remeter uma resposta para depois da aprovação do orçamento de Estado. Sem mais detalhes, Graça Fonseca explica apenas que quer “cumprir o programa de Governo que diz que ao longo de 4 anos, o governo vai cumprir uma rota de dois por cento da despesa em cultura”.
Em mais uma resposta evasiva, questionada sobre os projetos de expansão do espaço do Museu Nacional de Arte Antiga, a ministra Graça Fonseca disse apenas que “ao longo dos últimos anos já houve vários projetos” e que só se sentará com a direção do MNAA quando “houver um projeto que não for apenas mais uma intenção” e deixou a garantia que estão “a trabalhar num projeto que seja realista que tenha possibilidade de ser executado, quer fisicamente, quer financeiramente”.
por Maria João Costa in Renascença | 12 de novembro de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença