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Samuel F. Pimenta vence Prémio Literário Cidade de Almada e dedica-o à Galiza
O escritor Samuel F. Pimenta é o vencedor deste ano da 31.ª edição do Prémio Literário Cidade de Almada – Poesia, com o livro Ascensão da Água.
Promovido pela Câmara Municipal de Almada desde 1989, o galardão, com um valor pecuniário de cinco mil euros, é considerado uma referência nacional na área da literatura e na promoção da criação literária em língua portuguesa, já tendo agraciado autores como Domingos Lobo, José Mário Silva, Carla Pais e José Jorge Letria. Na edição de 2019, foram recebidas cerca de duzentas obras originais, submetidas a concurso sob pseudónimo.
Nas palavras do júri do Prémio, composto por José Manuel Mendes, escritor e presidente da Associação Portuguesa de Escritores, Manuel Frias Martins, professor universitário e crítico literário em representação da Associação Portuguesa dos Críticos Literários, e pelo poeta Joaquim Pessoa, «Ascenção da Água apresenta um conjunto de poemas com uma arquitetura elegante e uma dicção poética conseguida, as quais geram uma relação muito cativante com o próprio potencial imaginativo do leitor. É melancólico o olhar que o poeta lança sobre o mundo. Contudo, há nos poemas um êxtase contemplativo que capta a atenção, reforçando, ao mesmo tempo, a eficácia comunicativa das imagens e das palavras».
Na cerimónia do anúncio do vencedor do prémio, que ocorreu em Almada a 26 de outubro, no Fórum Municipal Romeu Correia, Samuel F. Pimenta revelou que a ideia de escrever este livro surgiu junto à nascente do Alviela e aproveitou a sua intervenção para denunciar os crimes ambientais que todos os anos fustigam o rio.
«Vivemos um tempo em que a água é central no nosso pensamento. Ou deveria sê-lo. As florestas ardem. Os nossos rios estão secos. A Mãe-Terra é ferida diariamente. E apesar das promessas de soluções, falta acção.», referiu o autor.
Samuel F. Pimenta afirmou ainda que, apesar da importância dos prémios literários, os poetas não podem depender deles para ter voz e lugar no espaço público.
«A existência de prémios como este permitem que nós, poetas, possamos vir, de vez em quando, à tona da água para respirar, e assim sentir algum alívio face à maré destrutiva da lógica mercantil, elitista e endogâmica que paira na Literatura em Portugal, em particular em Lisboa, que nos afoga», disse ele.
No final da sua intervenção, dedicou o prémio à Galiza, por tudo o que tem vindo a aprender com os seus poetas e as suas tradições.
«Não só pelo amor e gratidão que tenho à Galiza, mas também por uma questão de justiça, hoje, presto aqui publicamente o meu tributo ao país que tem vindo a ver a sua Língua, o seu povo e a sua ancestralidade profanados pelo Estado Espanhol, que insiste em perseguir e violentar as comunidades que nunca se alinharam com uma Espanha unificada sob o pulso firme de um rei ou de um ditador», afirmou.
Samuel F. Pimenta é poeta e escritor, com seis livros publicados. Começou a escrever com 10 anos e licenciou-se em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa.
Tem participado em diversas conferências e em encontros literários nacionais e internacionais, e colabora com publicações em Portugal, no Brasil, em Angola, em Moçambique e na Galiza. A sua obra está presente em diversas antologias, em Portugal e no estrangeiro. Alguns dos seus livros deram origem a peças de teatro e teses académicas.
São vários os prémios que lhe têm sido atribuídos, como o Prémio Jovens Criadores 2012 (Portugal), a Comenda Luís Vaz de Camões 2014 (Brasil) e o Prémio Liberdade de Expressão 2014 (Brasil). Em 2015, foi um dos vencedores das Bolsas Jovens Criadores, do Centro Nacional de Cultura, para a realização de uma residência artística e a escrita do romance Iluminações de Uma Mulher Livre. Em 2016, com o livro Ágora, ganhou o IV Prémio Literário Glória de Sant’Anna, galardão anual destinado ao melhor livro de poesia dos países e regiões de língua portuguesa.
Além da literatura, dedica-se à espiritualidade e ao activismo pelos direitos LGBTI+, pelos direitos humanos e pelos direitos da Terra.