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Bienal Ibérica de Património Cultural estreou-se no sul do país com três dias repletos de experiências em Loulé
Realizada pela primeira vez no sul do país, a Bienal Ibérica de Património Cultural teve lugar no passado fim de semana, dias 11, 12 e 13 de outubro, em Loulé.
Para além de vários seminários e inovattion points onde profissionais e especialistas de diferentes entidades ligadas ao setor puderam trocar experiências e partilhar ideias, esta foi igualmente uma oportunidade para o público em geral vivenciar o património cultural de uma forma diferente, aprofundando o seu conhecimento sobre o mesmo.
Marrocos foi o “país convidado” que esteve em destaque nestes dias, através da sua cultura, música e artesanato, promovendo uma ligação de séculos entre Portugal e esta nação magrebina.
Nesta clara aposta na internacionalização, a par das presenças portuguesa e espanhola, estiveram também representadas Itália e Áustria, no âmbito da Rede Europeia das Feiras do Património (Herifairs – European Heritage Fairs Network), com o objetivo de criar pontes com outros países e mostrar como o património cultural é um ativo económico dos países e um recurso para trabalhar as relações entre países.
Sob o tema da “Sustentabilidade”, como Catarina Valença Gonçalves, responsável da Spira – agência de revitalização patrimonial, disse “não é mais do que o ADN no património cultural, renovando-se, reciclando-se, adaptando-se ao longo dos anos, sempre atendendo à sua preservação futura”, o evento estendeu-se entre um espaço expositivo localizado junto ao Monumento Engº Duarte Pacheco, o Palácio Gama Lobo, o Museu Municipal de Loulé, o Convento do Espírito Santo, o Auditório do Solar da Música Nova, o Solar da Música Nova, Mercado Municipal e o Cine-Teatro Louletano.
Com uma programação cultural diversificada, assente no património, nas tradições, nas artes, dirigida a um público heterogéneo, as propostas foram bastante bem recebidas quer pelos louletanos, quer por todos aqueles que visitaram o concelho durante esta Bienal.
Desde logo a música, com os sons de Marrocos a serem uma presença constante nestes dias, mas também com o acordeonista Nelson Conceição que se juntou ao Ensemble da Banda Filarmónica Artistas de Minerva, a Orquestra de Jazz do Algarve e, num momento único, o repto lançado pelo Cine-Teatro ao músico Rão Kyao que teve como convidados músicos de Portugal, Espanha e Marrocos.
Os itinerários temáticos deram a conhecer espaços únicos como a Mina de Salgema, um verdadeiro tesouro do património louletano, numa ação que teve uma forte adesão de participantes, mas também o “Património ao Luar”, junto ao mar, com a passagem por zonas emblemáticas como a Estação Arqueológica do Cerro da Vila.
O Mercado Municipal, ex-líbris da cidade e um verdadeiro marco da arquitetura neo-árabe, não podia ficar de fora deste evento e foi a sua fachada que serviu de “palco” a um espetáculo vídeo mapping que recriou artisticamente a história do concelho de uma forma original, num hino visual à interculturalidade passada e presente deste território.
Destaque ainda para os seminários integrados no programa: As International Heritage Talks “Artes & Ofícios como Prática de Sustentabilidade em Património Cultural” debateram o fundamental tema dos saberes artesanais ainda existentes em Portugal e promoveram esse debate à escala internacional; As Guest Country Talks “Património Cultural em(ntre) Marrocos e Portugal: um ativo de futuro”, dedicadas ao país convidado da edição deste ano da Bienal, procurou perceber o estado da arte, as circunstâncias políticas, diplomáticas e económicas de um enquadramento de cooperação em matéria de património cultural entre Portugal e Marrocos; As Tourism Talks “Património, Turismo, Sustentabilidade e Inovação” promovidas pelo Turismo de Portugal enquadraram-se no tema da edição deste ano da Bienal – a Sustentabilidade – dedicando-se assim ao debate de inovadoras e maleáveis formas de gestão no sector do património cultural, desde o turismo à acessibilidade; As Conservation & Restoration Talks “Reabilitar: uma dimensão incontornável da intervenção patrimonial?” dedicaram-se à problemática da crescente prática de reabilitação urbana evidente nas cidades de Portugal e Espanha e à definição do papel da Conservação e Restauro nesse processo.
Exposições e ateliers criativos dedicados às tradições culturais da região (como a arte dos esgrafito, da pintura a fresco ou dos figos cheios) foram outras propostas. Já no que concerne à educação ambiental, uma das mais importantes componentes da Bienal Ibérica de Património Cultural, marcou presença no espaço expositivo o projeto “Empreita-te!”, realizado durante o ano letivo transato, destinado a alunos do 3º ano, procurando divulgar a técnica tradicional regional da empreita e fazendo-o simultaneamente numa perspetiva da valorização da intergeracionalidade e sublinhando a inteligência da utilização deste recurso do ponto de vista da sustentabilidade do território. Foi também partindo desta tradição que decorreu a “Roda da Empreita”, numa interação entre as artesãs e o público.
Refira-se que esta Bienal Ibérica de Património Cultural, que contou com o Alto Patrocínio do Presidente da República, resultou do trabalho desenvolvido pela Spira, em parceria com a Câmara Municipal de Loulé. Envolvidos no evento estiveram também o parceiro espanhol, a Junta de Castela e Leão, a Fundação Millenium BCP, o seu principal mecenas, a Comissão Nacional da UNESCO e os Ministérios da Economia, da Cultura e dos Negócios Estrangeiros.
Depois de Amarante, em 2017, Loulé foi (o digno) anfitrião desta festa do património que representou a sua maior edição desde sempre.
“Que júbilo para um autarca como eu, que nutre um imenso respeito e uma indescritível paixão pelo património cultural desta terra, poder abrir as portas da cidade (e da região) para acolher este grande evento que promove o património cultural como motor de desenvolvimento social, cultural e económico dos territórios, mas também educacional e de paz”, sublinhou o presidente da Autarquia, Vítor Aleixo.
O edil referiu a importância deste evento no contexto internacional já que permitiu “reatar as ligações entre os países e as culturas, redescobrir as nossas raízes e festejar a nossa identidade”.
“Conhecer Loulé é ter consciência do papel que a Cultura, no seu sentido mais lato, desempenha no dia-a-dia deste município. As apostas são múltiplas, abraçam diversas áreas, desde a museologia, à literatura, às artes, às tradições ou à música, esta é uma terra diversa que se orgulha do seu passado, contempla o seu presente e ambiciona o seu futuro”, considerou ainda Vítor Aleixo.