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Imigração na Lisboa do pós-25 de Abril narrada com perícia e desassombro
O Canto da Moreia esconde os dramas e as dificuldades que resultam do desenraizamento, do racismo, da violência e das dependências.
É um romance de estreia com um olhar de dentro de uma realidade incómoda e de profunda invisibilidade: a dos imigrantes votados à vida nos bairros periféricos, à indiferença e xenofobia no país que os acolhe, à difícil integração na sociedade que os rodeia. Antes de emigrar para França e se doutorar em Filosofia na Universidade Paris-Sorbonne, Luísa Semedo, a autora deste O canto da Moreia, viu a face desta realidade, tendo vivido no Bairro da Serafina durante 24 anos. E é desta vivência que se faz o seu desassombrado e poderoso romance de estreia.
Em dez capítulos (que correspondem a dez espaços diferentes), Luísa Semedo narra a história de Eugénio, um jovem imigrante cabo-verdiano na Lisboa pós 25 de Abril. Como tantos outros, a sua condição de migrante relega-o para as margens da sociedade, desenraizando-o e colocando-o à mercê de um único confidente: a Moreia, o escape no alcoolismo. Vencido na sua ambição de busca do Conhecimento Universal, é este Canto que o acompanha na Queda.
A partir da relação entre o protagonista e o mundo que o rodeia – a família, a fábrica, o bairro – e recorrendo às memórias bem vivas da infância e juventude vividas no Bairro da Serafina, a autora explora, as questões de identidade, raízes, a solidão, as dependências e, inevitavelmente, a xenofobia e o racismo normalizado nesta Lisboa da pós Revolução de Abril.
Sobre o livro
O canto da Moreia
Após uma atribulada viagem de barco, Eugénio, jovem órfão nascido em Cabo Verde, chega a Lisboa pela mão do padre Chico. Esperançoso em aprender o Conhecimento Universal, confiante num futuro promissor, carrega consigo a soberba das suas destrezas intelectuais e o peso de um segredo de família que o perseguirá até ao fim da vida.
Eugénio partilha o segredo com a Moreia, figuração do álcool, que o acompanha na Queda. Eugénio vai debater-se com os seus demónios pessoais ao mesmo tempo que luta por um lugar de homem integrado na sociedade portuguesa pós-25 de abril.
Tendo como originalidade ser contado em dez capítulos que correspondem a dez espaços distintos, O canto da Moreia tem como pano de fundo a história da integração e desenraizamento das populações imigradas das ex-colónias, abordando de forma desassombrada temas como a solidão, o racismo, a violência doméstica e as dependências.
Sobre a autora
Luísa Semedo
Nasceu em Lisboa, em 1977, e viveu até aos 24 anos no Bairro da Serafina, antes de emigrar para França. É doutorada em Filosofia pela Universidade Paris-Sorbonne. Nos últimos anos tem exercido uma atividade intensa como dirigente associativa. Leciona a cadeira de Criação e Gestão de Associações e ONG na Universidade Clermont-Auvergne e preside a associação MigraCult. É conselheira das Comunidades Portuguesas e presidente do Conselho Regional Europa do CCP. Venceu, em 2017, o primeiro lugar do Prémio Literário e de Ilustração Eça de Queiroz com o conto Céu de Carvão, Mar de Aço, editado posteriormente na coletânea “Desafios da Europa” pela Editora Livros de Ontem. O seu conto O Arroz é Proibido foi selecionado em 2018 para a terceira antologia de contos do Centro Mário Cláudio. É a autora do prefácio Viagens Anteriores do segundo volume da antologia “Poetas Lusófonos na Diáspora”, publicado pela Oxalá Editora, em 2018.