Notícias
Programa da Feira do Livro pensa e debate os grandes temas da atualidade sob a égide de Eduardo Lourenço
A Feira do Livro do Porto chega a 6 de setembro.
O pensamento e as ideias, e não só a literatura, preenchem o festival literário que a Feira do Livro do Porto traz neste ano. Apresentada hoje pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e pelo comissário, o escritor Nuno Artur Silva, a programação inspira-se no pensador Eduardo Lourenço, que será a personalidade homenageada, para debater as identidades.
Na 6.ª edição neste novo formato, lançado por Rui Moreira e fixado nos Jardins do Palácio de Cristal, a Feira do Livro do Porto chega a 6 de setembro com uma programação solidamente estruturada e que parece reunir os ingredientes para torná-la interessante, mas também para fazer com que quem visite o certame e aproveite cada um dos eventos saia enriquecido.
Sob a égide do pensamento do ensaísta Eduardo Lourenço, aliás "figura ímpar do pensamento" como se lhe referiu Nuno Artur Silva, a Feira do Livro vai por isso focar-se no pensamento e nas ideias, lançando até 22 de setembro uma série de debates sobre assuntos da atualidade e que vão desde os aniversários da chegada do Homem à Lua, da queda do Muro de Berlim ou da criação do Euro até à questão da homossexualidade ou ao papel do escritor enquanto ator social.
Com um orçamento que Rui Moreira revelou ser de 62.500 euros para a programação, a par de 88.000 euros para mobiliário e estruturas e 15.000 euros para a animação, a Feira do Livro do Porto mantém a dimensão estabilizada de 130 pavilhões. Regista 87 inscritos, sendo 10 livrarias, 46 editoras e 21 alfarrabistas.
História, futuro da Europa, globalização e clima foram alguns dos temas enunciados por Rui Moreira para dar conta da diversidade e urgência dos debates a promover nesta edição, em que haverá também autores consagrados e novos valores da literatura. Desde logo, Eduardo Lourenço que será homenageado no dia 7 e entrará também para a autêntica "galeria de escritores" em que a Avenida das Tílias se está a transformar.
Mas também o músico e poeta brasileiro Arnaldo Antunes e o escritor Nuno Costa Santos (escritor residente deste ano), sessões a propósito dos centenários de Sophia de Mello Breyner Andresen e de Jorge de Sena, uma edição especial das Quintas de Leitura que João Gesta criou há quase duas décadas, um ciclo de cinema comissariado por Guilherme Blanc com Joana Canas Marques (Cineclube do Porto), as atividades do Serviço Educativo para crianças e famílias e ainda uma exposição, vários concertos e performances.
"Quisemos fazer da Feira do Livro do Porto mais do que apenas venda de livros", considerou Rui Moreira em jeito de balanço destes seis anos do novo formato, considerando que a opção se revelou bem-sucedida ao tornar o evento num festival literário que divulga novos autores, apresenta cinema, programa educativo e de animação.
Os destaques da nova edição, que vai decorrer até 22 de setembro, mostram o caráter alargado do pensamento e do debate que a Feira quer promover, contribuindo para trazer novos olhares sobre o Mundo. Tal como fizeram as viagens da circum-navegação e à Lua, que estão a ser comemoradas. "É o momento de pensar o Planeta global", explicou Nuno Artur Silva, apontando capítulos da programação como a "visão mais iconoclasta da Europa", que será trazida pelo humorista Hugo Van Der Ding numa altura em que está precisamente a ser discutido o que é a Europa hoje e o que será o seu futuro.
Refletir sobre as questões ambientais cada vez mais globais, como o derretimento dos glaciares ou os incêndios da Amazónia, questionar os avanços conseguidos pela Humanidade e debater as identidades são alguns dos outros desafios da programação, que conta com especialistas e pensadores das diversas áreas para cerca de quatro dezenas de debates, sessões especiais e de spoken word, lições e ainda apresentações de cinema que partem também "das inquietações filosóficas" de Eduardo Lourenço, como salientou Guilherme Blanc.
Todas elas de acesso livre, bem como o programa educativo e de animação que inclui música e oficinas, terminam com uma conferência de Maria Filomena Molder sobre "Eduardo Lourenço. Variações sobre a voz que ensaia", com moderação de Anabela Mota Ribeiro.
Mas há ainda muitos mais nomes a reter e ouvir na Feira do Livro do Porto 2019. É o caso dos que se juntarão no debate sobre "Escritores contemporâneos em tempos conturbado": o angolano José Eduardo Agualusa, o português Rui Zink, a moçambicana Isabela Figueiredo e a venezuelana Karina Sainz Borgo.
Além de uma homenagem a Mário Cláudio pelos 50 anos de vida literária, com Martinho Soares e Ana Paula Arnaut, o pensador Boaventura Sousa Santos vai confrontar globalização com desglobalização, enquanto o painel formado por Nuno Ferrand de Almeida, Luísa Schmidt e Henrique Miguel Pereira vai questionar a "esperança de habitar a Terra", sob a moderação de Arminda Deusdado.
Hélia Correia fará uma "provocação amantíssima" sobre Agustina Bessa-Luís; dois poetas do Porto (João Luís Barreto Guimarães e Jorge Sousa Braga) vão protagonizar "Poesia à Capela"; e Roberto Francavilla vem dar a perspetiva de um especialista sobre Portugal, mas visto de fora.
No tocante ao ciclo de cinema, "Nada a esconder" ("Caché"), que garantiu a Michael Haneke o prémio de melhor realizador em Cannes (2005), é apresentado por Pedro Mexia numa das cinco sessões que tomarão a Europa como tema central de reflexão.
Refiram-se ainda a exposição "Heroínas de histórias improváveis", composta pelas ilustrações dos livros de António Jorge Gonçalves, e a conversa/espetáculo "O labirinto da saudade", que reunirá o realizador Miguel Gonçalves Mendes, Pilar del Rio, Siza Vieira, Noiserv e Nuno Artur Silva numa sessão dedicada ao filme com o mesmo nome e centrado na vida e obra de Eduardo Lourenço. E os habituais lançamentos de livros e sessões de autógrafos, que completam a programação dos 17 dias do festival literário.