"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Notícias

Culturgest vai debater a memória colonial

Programa da temporada 2019/20 tem novas criações de dança de Tânia Carvalho e Marlene Monteiro Freitas e de teatro de John Romão; e Álvaro Lapa e Gabriela Albergaria nas artes visuais, entre Lisboa e o Porto.

Virgens Suicidas de John Romão_Foto de Bruno Simão Trabalho de Jimmie Durham DR


Um concerto em que Gabriel Ferrandini toca ao vivo o disco Volúpia, que gravou em 2017 na sequência de atuações na Zé dos Bois, vai marcar, a 17 de setembro, em Lisboa, a abertura da temporada 2019/20 da Culturgest. O baterista e percussionista do Motion Trio vai, desta vez, apresentar-se em formação de quarteto, com Hernâni Faustino (contrabaixo), Pedro Sousa (saxofone tenor) e Alexander Von Schlippenbach (piano), a abrir um programa que se espraiará, além da música, pela dança, teatro, performance, cinema, conferências e debates, e naturalmente também as artes visuais, que, como de costume, se estenderão ao espaço da Culturgest no Porto.

Logo nessa mesma semana de setembro, entre o dia 19 e 5 de outubro, vai decorrer uma iniciativa que a instituição destaca como um dos pontos fortes da temporada, o ciclo Memórias Coloniais. “O que é que as pessoas que viveram o colonialismo transmitiram às gerações contemporâneas? Qual é o legado atual deste passado recente?” É sobre estas questões que a Culturgest assenta um programa que inclui conferências e debates, filmes, performances e uma produção teatral, Os Filhos do Colonialismo, criação do Hotel Europa com encenação de André Amálio (em cena de 26 a 28 de setembro).

Uma reflexão sobre “como o passado colonial se manifesta em Portugal e na Europa de hoje e nos movimentos que ainda exigem a descolonização da história e do pensamento dos antigos países coloniais”, ainda nas palavras da Culturgest, é o objeto desta criação teatral, como o é das outras iniciativas deste ciclo, entre as quais a conferência Políticas da memória seletiva, pela historiadora marroquina Fátima Harrak, a mesa-redonda Tudo passa, exceto o passado, e o debate em que vários investigadores portugueses, franceses e belgas abordam as “memórias dos filhos do império”, e que, com um ciclo de filmes, permitirá debater a herança colonial.

Continuidade e novidades

Nas artes visuais, Delfim Sardo, curador da Culturgest desde 2016, apresenta um calendário de exposições que, no essencial, mantém a continuidade da política de programação das temporadas anteriores, mas que inclui também inovações. A ligar os dois pólos – e também as galerias da instituição em Lisboa e no Porto – estará Jimmie Durham: Acha que minto? (inauguração no espaço portuense a 13 de setembro), em que o artista, poeta e ensaísta norte-americano (Leão de Ouro, este ano, na Bienal de Veneza) repega em trabalhos da sua primeira exposição em Portugal, em 1995, e os associa a novas criações, inspiradas no livro de José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis.

Trata-se de mais um capítulo do projeto Reação em Cadeia, que a Culturgest vem desenvolvendo em parceria com o espaço Fidelidade Arte, no Chiado, e que se estende às duas cidades. “Neste projeto, que tem diferentes expressões em Lisboa e no Porto, até pelas diferenças entre os dois espaços, os artistas estão sempre implicados na escolha daquele que lhes sucede no programa”, explica Delfim Sardo (atualmente, a Culturgest Porto apresenta, até 1 de setembro, Dalaba: sol d’exil, de Ângela Ferreira).

Neste mesmo espaço (17 de janeiro), e ainda dentro do projeto Reação em Cadeia, a artista italiana Elisa Strinna mostra Sol Cego/ Blind Sun, um conjunto de escultura, vídeo, som e performance que aborda as relações e os efeitos dos fluxos de comunicação e das novas tecnologias no ser humano.

Em Lisboa (a partir de 4 de outubro), outra parceria, desta vez com a Trienal de Arquitectura e a mostra O que é o ornamento? “O modernismo sempre recusou o ornamento, mas ele nunca deixou de existir”, nota o curador, referindo-se a esta exposição que tem como curadores os italianos Ambra Fabi e Giovanni Piovene, a mostrar como, verdadeiramente, o ornamento nunca desapareceu da arquitetura.

A abrir o novo ano no espaço sede (25 de janeiro), há uma exposição de Álvaro Lapa, com curadoria de Óscar Faria (ex-jornalista e crítico do PÚBLICO). Totalmente diferente da retrospetiva deste artista em Serralves, Lendo Resolve-se: Álvaro Lapa e a Literatura centra-se especificamente na série de 21 pinturas a que o artista chamou Cadernos de Escritores, e em que homenageou desde Homero a Beckett, de Pessoa a Burroughs.

Em março, Delfim Sardo faz a remontagem, em Lisboa, de Uma Exposição Invisível, que em 2007 foi inaugurada em Vigo e depois passou por outras cidades espanholas e também por Telavive. “É uma exposição atualizada para os nossos dias e que, mais do que para ser vista, é para ser ouvida”, avisa o curador.

E Gabriela Albergaria será, em maio de 2020, a autora da antológica anual, a sua primeira em Portugal, e com obras novas, com que Delfim Sardo faz o ponto de situação da carreira desta artista a viver e a trabalhar em Londres.

Na dança, a Culturgest vai contar com novas criações de Vera Mantero (O Limpo e o Sujo, 29 de setembro), Tânia Carvalho (Onironauta, 30 de Janeiro), e também do coreógrafo francês Booris Chamatz, com 10.000 Gestes (21 de fevereiro), além da reposição da coreografia que Anne-Teresa de Keersmaeker criou a partir da música de John Coltrane, A Love Supreme (22 de maio), que já passou também pelo Porto; e da nova criação de Marlene Monteiro Freitas (18 de junho), que foi Leão de Prata na Bienal de Veneza do ano passado.

Já no teatro, o encenador Victor de Oliveira criou com artistas moçambicanos o espetáculo Incêndios (13 de dezembro); enquanto John Romão vai estrear, a 15 de janeiro, a sua versão de Virgens Suicidas, inspirado no texto de Jeffrey Eugenides, que deu também a primeira longa-metragem de Sofia Coppola, em 1999.

E haverá também outras músicas na Culturgest-Lisboa: o pianista Lubomir Melnyk (2 de outubro), o Quarteto de Rodrigo Amado (31 de outubro); o filme-concerto Híbridos. Os Espíritos do Brasil, de Vincent Moon & Priscilla Telmon (10 de dezembro); e o trio Montanhas Azuis (20 de dezembro).


por Sérgio C. Andrade in Público | 19 de julho de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

Ganhe convites para a antestreia do filme "Memória"

Em parceria com a Films4You, oferecemos convites duplos para a antestreia do drama emocional protagonizado por Jessica Chastain, "MEMÓRIA", sobre uma assistente social cuja vida muda completamente após um reencontro inesperado com um antigo colega do secundário, revelando segredos do passado e novos caminhos para o futuro.

Visitas
93,832,652