"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

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"Poesia", de Fernando Lemos

O livro do luso-brasileiro Fernando Lemos, além de recolher a obra poética do autor, conta ainda com uma secção de poemas inéditos e dispersos, intitulada 500 anos de segredos. 


Quando Breton define a práctica do Surrealismo fá-lo enquanto modo de auscultação terapêutica, estudo acerca da amplitude da mente e das emoções, como forma de procurar uma verdade menos comum e impossível de padronizar. Importava observar a improvável cabeça humana no sem-limite da imaginação e do sentimento.

Fernando Lemos é um dos exemplos esplendorosos da estetização de algo que começa por ser uma estratégia psiquiátrica e se faz arte, corrente artística e de implicações ideológicas ou filosóficas. A sua intervenção é absoluta, deitando mão de valências díspares, como a fotografia, a pintura ou a poesia, para consumar o que era o propósito de Breton: entender que há uma liberdade interna que o indivíduo tende a desconhecer, tende a não exercer. Uma Liberdade que não se inibe perante a loucura, não se inibe perante a sanidade.

A arte de Fernando Lemos é uma ansiedade intensa pelo exercício da Liberdade. Atravessando ditaduras, a portuguesa e a brasileira, sempre junto ao sonho de contribuir para países melhores e pessoas potenciadas, Lemos é um artista completo e a poesia que agora reeditamos mostra-o assim: preocupado, provocador, humorizado, frontal, desconcertante, imprevisível, visual.
Obrigatoriamente na História do Surrealismo mundial, o poeta é testemunha da normalização do anormal, depositando na arte algo que lhe será sempre maior: a humanidade enquanto oportunidade de certo absoluto. Como o que foi guardado apenas para os deuses. Um olhar para dentro de todos os mistérios.    Valter Hugo Mãe


Fernando Lemos nasceu português, mas vive há 66 anos no Brasil, em São Paulo. Desenha aquarelas, pinta em acrílico, desenha em nanquim, faz colagens, escreve poesias e produziu fotos surrealistas e de viagens até aos anos 1960.
Desde 1950, participa em exposições individuas e coletivas cá e lá e em vários países. Sua vida foi marcada por seu envolvimento poliítico tanto em Portugal quanto no Brasil. Participou como artista em todas as manifestões contra ditaduras.
Recebeu muitos prémios, participou de Bienais, foi condecorado duas vezes, foi diretor de várias instituições culturais no Brasil, fez montagem na IV Bienal de São Paulo, ganhou uma Bolsa de artes Visuais da Gulbenkian para o Japão.
Ilustrou jornais culturais, executou painéis institucionais, como o do IV Centenário da cidade de São Paulo, o painel da estação de Metro, a tapeçaria da TAP, entre outros. Artista gráfico, tem um vasto currículo em design de marcas e logótipos, ilustrações para livros, posters, coleções de revistas, padrões para tecelagem e azulejaria, etc. Toda a sua produção é mostrada no MUDE em junho de 2019.
Publica em 1953 Teclado Universal, livro de poesia que agora reedita, juntamente com mais de 30 poemas inéditos, na Porto Editora.
Suas fotos surrealistas foram redescobertas em 1994 por Jorge Molder e expostas na Fundação Calouste Gulbenkian, no Centro de Fotografia do Porto e em Paris. Atualmente, fazem parte da coleção de várias fundações e museus internacionais, além de Brasil e Portugal.
Em 2019, aos 93 anos, continua a desenhar, pintar, escrever e a envolver-se em questões politicas e culturais. 

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