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Cinemateca celebra o melodrama - de Claudia Cardinale a Amália Rodrigues
Ao longo do mês de junho, a Cinemateca propõe um ciclo dedicado ao melodrama. São várias dezenas de filmes para redescobrir um género que ocupa um lugar muito especial na história popular do cinema.
Melodrama? Convenhamos que, para muitos espectadores, a palavra, mais do que caída em desuso, adquiriu um travo de suspeição. Afinal de contas, somos todos os dias bombardeados com a perversão medíocre do melodrama (entenda-se: a telenovela), sendo levados muitas vezes a esquecer a nobreza melodramática que está inscrita na história popular do cinema.
Daí o valor artístico e pedagógico do ciclo "O Esplendor do Melodrama" que a Cinemateca propõe a partir de hoje (com cerca de quatro dezenas de sessões até final do mês). Trata-se, aliás, de uma proposta integrada na vontade de "revisitar os grandes géneros", prolongando iniciativas que, no mesmo espírito de antologia e redescoberta, já foram dedicadas, por exemplo, ao musical, ao "western" ou à ficção científica. Nos seus últimos cinco dias (24 a 29, sempre às 18.00), o ciclo inclui outras tantas conferências por Mário Jorge Torres, sob a designação global "O melodrama do trágico ao operático".
Entre as raridades a exibir na sala da Rua Barata Salgueiro, Vaghe Stelle dell"Orse (1965), de Luchino Visconti, justifica um especial destaque. Desde logo, porque se trata de um título inédito no mercado português (embora já exibido noutros ciclos); depois, porque as suas características lhe conferem um lugar "solitário" no interior da filmografia viscontiana, bem distante, por exemplo, da monumentalidade de um clássico como O Leopardo (1963).
Com Claudia Cardinale e Jean Sorel a interpretar uma paixão incestuosa, Vaghe Stelle dell"Orsa (título "roubado" a um poema de Giacomo Leopardi), coloca em cena três componentes essenciais da paisagem melodramática. A saber: o conflito entre o desejo e a ordem social, a ameaça de desagregação do espaço familiar, enfim, os enigmas da sexualidade.
O ciclo inicia-se com A Escrava do Pecado (1953), de Rafaello Matarazzo. É mais um exemplo, dos mais populares, do culto do melodrama no interior da produção italiana, neste caso com a lendária Silvana Pampanini, atriz cuja fama é indissociável da sua participação no concurso de Miss Itália, em 1946. Ainda de Itália, será possível ver ou rever títulos marcantes como O Sonho de Butterfly (1939), de Carmine Gallone, ou Madalena (1954), de Augusto Genina.
A produção de Hollywood tem, naturalmente, uma representação importante, incluindo alguns momentos emblemáticos de mestres do melodrama nem sempre devidamente lembrados. Entre os sete títulos provenientes dos EUA, vale a pena destacar as realizações de Mitchell Leisen e John M. Stahl: do primeiro, será mostrado Lágrimas de Mãe (1946), que valeu a Olivia de Havilland o seu primeiro Óscar; do segundo, porventura o mais esquecido daqueles mestres, estão programados dois filmes notáveis: Só uma Noite (1933) e Quando o Outro Dia Chega (1939).
Também não foi esquecida a importante produção mexicana neste domínio, em particular com assinatura de Emilio Fernández, nem o espanhol Manuel Mur-Oti e ainda um momento português com Fado - História de uma Cantadeira (1947), de Perdigão Queiroga. Foi o segundo filme de Amália Rodrigues (participara em Capas Negras, de Armando de Miranda, também lançado em 1947) e tornou-se um objeto indissociável da sua popularidade e também da sua iconografia de fadista.
por João Lopes in Diário de Notícias | 3 de junho de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias