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Celebram-se 100 anos da comprovação da Teoria da Relatividade Geral de Einstein

Uma roça na ilha do Príncipe e uma cidade no Brasil foram escolhidas como os sítios privilegiados de observação de um eclipse total do Sol. Tais observações validaram há um século a teoria da relatividade geral. 

Albert Einstein


Há exatamente cem anos, o astrónomo inglês Arthur Eddington, do Observatório de Cambridge, viajou até à ilha do Príncipe para fotografar o eclipse do Sol, que naquele território era visível na totalidade. O seu objetivo era tentar comprovar a teoria da relatividade geral que um jovem físico, até então praticamente desconhecido, tinha publicado em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial. Einstein, claro.

As 19 chapas fotográficas que Eddington fez durante os 302 segundos que durou o fenómeno, a 29 de maio de 1919, foram a primeira prova direta de que Einstein estava certo. Essas imagens mudaram a ciência. E Einstein tornou-se o físico mais mais famoso do século XX.

A história dessa viagem à ilha do Príncipe - e a da expedição de um segundo grupo de astrónomos britânicos, que partiu para Sobral, no Brasil, exatamente com a mesma missão - é o tema da exposição E3-Einstein, Eddington e o Eclipse, patente no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, da Universidade de Lisboa, como parte das comemorações do centenário da histórica missão científica.

Concebida "como uma viagem a essas duas viagens", como explica ao DN a sua comissária, a investigadora e historiadora das ciências Ana Simões, da Faculdade de Ciências, e coordenadora do Centro Interuniversitário de História das Ciências e Tecnologia, a exposição conta em painéis explicativos o que esteve em causa na demonstração científica da teoria da relatividade, a partir das fotografias do eclipse, e mostra vários objetos ligados à missão, e à sua preparação.

Entre eles, estão as cartas trocadas entre Eddignton e o então diretor do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), Campos Rodrigues, e três das chapas fotográficas originais, captadas por Eddington no Príncipe, que ele mesmo ofereceu ao OAL, em reconhecimento do apoio logístico que este lhe tinha prestado. Afinal, à época, a ilha do Príncipe era território português, e o observatório também teve o seu papel na missão.

A história dessa ligação do OAL à expedição de Eddington era desconhecida até há dez anos. Sabia-se que, ao contrário do que seria de esperar, nenhum astrónomo português tinha participado na expedição ao Príncipe. E pouco mais.

"Sempre me pareceu que devia haver mais qualquer coisa, e quando uma aluna quis fazer o mestrado em História da Ciência, sugeri-lhe que fosse para os arquivos do observatório, para tentar explorar a questão", lembra Ana Simões.

As suas suspeitas estavam corretas - havia mesmo mais para contar. Nomeadamente, a troca de correspondência entre Eddington e os astrónomos do OAL, e o apoio que este lhe prestou, para viajar até ao Príncipe e aí se instalar, na roça Sundy, para fazer as suas observações.

Elsa Mota, Ana Simões e Paulo Crawford contaram tudo isso pela primeira vez em 2008, num artigo publicado na revista científica da British Society for the History of Science.



Um astrónomo no Corpo Expedicionário Português

A primeira carta que Arthur Eddington enviou a Campos Rodrigues, que na altura dirigia o OAL, é datada de 11 de novembro, o Dia do Armísticio, que marcou o fim da Grande Guerra.

Nela, o cientista britânico solicitava apoio logístico para a expedição que tencionava fazer no ano seguinte, por ocasião do eclipse total do Sol. Eddington tinha-se cruzado pouco antes com a então novíssima teoria da relatividade e tinha ficado muito entusiasmado.

Se Einstein estivesse certo, a luz de estrelas distantes teria de sofrer um encurvamento mensurável à passagem junto a um campo gravítico, como o da massa do Sol, mas só durante um eclipse, sem a luz solar na frente, seria possível medir esse encurvamento. À época, os astrónomos já dispunham das técnicas necessárias para fazer essas medições, e Eddington não queria perder uma tal oportunidade.

Na correspondência posteriormente trocada entre o britânico e o subdiretor do OAL, Frederico Oom, foi abordada a hipótese de participação de um astrónomo português na expedição, como mostra a documentação encontrada nos arquivos. Seria Manuel Peres, que estava então destacado em Moçambique, como diretor do Observatório de Lourenço Marques. Só que, nessa época, as viagens eram feitas por mar, e muito espaçadas entre si.

A Companhia Nacional de Navegação só fazia duas viagens mensais a São Tomé, e apenas uma delas ia também ao Príncipe. O OAL conseguiu assegurar a viagem a Eddington, que chegou à ilha um mês antes, mas Manuel Peres acabou por não conseguir ultrapassar a tempo as burocracias necessárias para fazer a viagem.

"O astrónomo Melo e Simas teria sido uma outra possibilidade, mas ainda estava no Corpo Expedicionário, com o qual Portugal participou na Primeira Guerra", conta Ana Simões, que estudou o seu percurso científico e profissional.

"Melo e Simas, que foi mais tarde diretor do Observatório Astronómico de Lisboa, chegou ele próprio a fazer, em 1923, medições de estrelas para comprovar a teoria de Einstein, usando o campo gravítico de Júpiter", lembra a comissária da exposição. As suas observações, no entanto, não foram conclusivas.



302 segundos que mudaram a ciência

Em maio de 1919, instalado na roça Sundy, com o apoio do seu proprietário, Jerónimo Carneiro, Arthur Eddington teve um mês para preparar o trabalho que teria de concretizar durante aqueles 302 segundos decisivos - fazer o maior número possível de chapas fotográficas. Numa das cartas que enviou ao OAL falava da sua preocupação com a meteorologia. Se houvesse demasiadas nuvens, ou se chovesse naquele curtíssimo intervalo de tempo, a missão seria um falhanço. Ele manifestava essa preocupação.

Os seus piores receios não se concretizaram. Ainda choveu nesse dia, e havia algumas nuvens no céu, mas à hora certa o Sol escondeu-se e Eddington fez as suas imagens históricas.

De regresso a Cambridge, seguiram-se meses de cálculos. A 6 de novembro, o mundo ouviu pela primeira vez, a partir da Royal Society, em Londres, que nesse dia estava à cunha, que uma nova e ousada teoria para explicar o universo, a teoria da relatividade geral, publicada por Einstein quatro anos antes, estava certa.


in Diário de Notícias | 29 de maio de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias

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