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Museu Abel Manta: um tesouro de arte contemporânea por descobrir

No meio da Serra da Estrela há um museu onde "todos os artistas da arte contemporânea portuguesa estão”. 

O pintor gouveense Abel Manta é considerado “maior retratista do seu tempo”. Foto: Liliana Carona/Renascença. Palete de pintura exposta no museu Abel Manta. Foto: Liliana Carona/Renascença. Responsável do museu Abel Manta junto do quadro "As Maçãs". Foto: Liliana Carona/Renascença. Um dos quadros de Paula Rego expostos no museu Abel Manta, em Gouveia. Foto: Liliana Carona/Renascença.


Abel Manta desenhou os vitrais como aquele que vemos no Instituto Nacional de Estatística ou numa das fachadas do Mosteiro dos Jerónimos. Hoje, dá nome a um museu que abriga obras dos grandes nomes da arte contemporânea portuguesa.

Não tem mais de cinco mil visitantes por ano, mas o Museu Abel Manta, em Gouveia, dedicado ao pintor ali nascido, em 1888, tem obras de arte de todos os grandes artistas portugueses contemporâneos: Paula Rego, Gil Teixeira Lopes, José Guimarães, António Sena, Victor Fortes, João Vieira, Maria Velez, Fernando Conduto, Manuel Batista, Bartolomeu Santos, Gil Teixeira Lopes e o irmão Hilário têm obras expostas neste museu.

A expressão “maior retratista do seu tempo” é atribuída a José Augusto França, na obra “A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961”. Mas não foi o único a reconhecer publicamente o talento de Abel Manta. Aquilino Ribeiro dedicou-lhe um texto em 1951, na obra “Portugueses das Sete Partidas” e cuja transcrição figura logo à entrada do Museu Abel Manta: “O Abel Manta é destes, deve ter sido destes, que do alto receberam o condão divino: pintar homens, ruas, campos, naturezas mortas, neves, as tão caprichosas neves da serra, assim cumprindo a sua missão”.

Abel Manta era um gouveense de gema, nascido na casa de família, na Rua da Cardia, em Gouveia, em 1888. O edifício onde hoje funciona o Museu, não fica longe de sua casa. É um edifício setecentista, na Rua Direita, era o antigo Solar dos Condes de Vinhó e Almedina, impulsionadores dos estudos artísticos de Abel Manta. O pintor gouveense fazia os seus primeiros desenhos e a condessa D. Luísa de Guimarães Guedes, que era artista, reparou nele e percebeu que estava ali um talento em bruto e pediu à família que o deixasse levar para Lisboa e que faria os estudos por lá. Terminada a Escola de Belas Artes, esperou que a primeira grande guerra terminasse, e partiu em 1919 para Paris, onde esteve até 1925 com os grandes mestres, fez exposições e voltou para Portugal e foi professor da Escola Técnica, primeiro no Funchal e depois em Lisboa. Casou em 1927 com Clementina Moura, também artista e em 1928, nasce o único filho do casal, João Abel, arquiteto, pintor, designer e cartoonista.

Na sala do museu, dedicada a Abel Manta, impõe-se o quadro “As Maçãs”, de 1925. Uma pintura que, passados vinte anos a gerir o espaço, deixa a responsável do museu, Margarida Noutel, 62 anos, com um brilhozinho nos olhos. “É um quadro potentíssimo onde se notam as influências de Cézanne, tudo o que aprendeu dos grandes mestres quando foi para Paris, fez a evolução do naturalismo na Escola de Belas Artes. Esteve em Paris de 1919 a 1925, era o Erasmus daquela altura. Ele retratava amigos, vizinhos, era um excelente retratista”, diz comovida.

Do pintor Abel Manta, há 19 quadros neste espaço localizado em Gouveia, mas o museu que nasceu com o seu nome, tem obras de todos os grandes artistas portugueses contemporâneos. Quase duas centenas de obras resultantes de doações, a maioria delas do filho, João Abel. Margarida aponta o olhar para dois quadros de Paula Rego, um deles integra a exposição temporária dedicada ao 25 de Abril: A Espada de Cortiça, o outro quadro de Paula Rego, é o “Quebra-Cabeças”.

Além dos quadros, o Museu Abel Manta expõe ainda objetos pessoais do maior retratista do seu tempo. “Uma das suas características era usar a boina, os lacinhos, o cachimbo, o relógio, temos também uma das suas últimas paletas, enormes, que apoiava sobre o braço”, descreve Margarida Noutel, mostrando ainda o colar da Ordem de Santiago da Espada, condecoração, atribuída em 1979, pelo Presidente da República, o General Ramalho Eanes.

À saída do museu, um olhar que nos fixa de uma foto de família, de Abel Manta sentado na neve, “um Abel Manta sereno que vem da cidade, que vem visitar os amigos e família e que se sente bem no meio da neve, estão aqui as suas raízes”, sorri Margarida que confessa a paixão pela obra do pintor.

A artista plástica Fátima Teles foi a vencedora da oitava edição do Prémio Abel Manta de Pintura 2019. O premiado recebe 5 mil euros. Este ano com 71 participantes e 105 obras a concurso. Abel Manta faleceu em 1982, mas a sua obra certamente perdurará na eternidade. Inaugurado a 23 de maio de 1935, o Instituto Nacional de Estatística, em Lisboa, tem o vitral da escadaria principal desenhado por Abel Manta e são também de sua autoria os cartões para os vitrais da fachada sul da Igreja do Mosteiro dos Jerónimos (1938).


in Renascença | 18 de maio de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença

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