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Tolentino Mendonça lamenta destruição de bibliotecas numa "época de barbárie"
Para o bibliotecário e arquivista do Vaticano, vive-se "uma crise da humanidade", em prol da tecnologia.
O arcebispo José Tolentino Mendonça lamentou que as bibliotecas sejam "olhadas como depósitos do passado e não como centros de cultura" e que estejam a ser destruídas numa "época de barbárie".
O bibliotecário da Biblioteca Apostólica Vaticana e arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano foi o orador convidado da sessão de encerramento do curso "Filosofia, literatura e espiritualidade", organizado pela comunidade da Capela do Rato, em Lisboa, na noite de quinta-feira.
Para o sacerdote português, vive-se "uma crise da humanidade", em prol da tecnologia, com as bibliotecas a serem "olhadas como depósitos do passado e não como centros de cultura".
Perante a audiência que enchia a capela, José Tolentino Mendonça apresentou os séculos XX e XXI como uma "época de barbárie", de "destruição de bibliotecas", lembrando a perda de património fruto de guerras como a do Iraque ou da Síria.
O arcebispo assumiu as funções de bibliotecário e arquivista da Santa Sé em setembro de 2018. Desde essa altura, contou, encarou tanto o porteiro como o prefeito da biblioteca como mestres do seu ofício.
Conduzindo a assistência numa visita guiada à Biblioteca Apostólica Vaticana através das suas palavras, porque as "bibliotecas são repositórios de palavras humanas", José Tolentino Mendonça descreveu que entrar no "'bunker' dos manuscritos" é "penetrar no santo dos santos".
1,6 milhões de obras impressas
"Tem tesouros incalculáveis", afirmou, ressalvando que "um tesouro não menor da biblioteca são as pessoas" com quem trabalha.
A Biblioteca Apostólica Vaticana tem, nas suas contas, cerca de 80 mil manuscritos, 20% dos quais digitalizados. Grande parte destas obras está escrita nas línguas latinas, em grego, hebraico, árabe ou etíope.
"Uma das pérolas", como lhe chamou o arcebispo, é um cancioneiro manuscrito de cantigas de amigo da literatura galaico-portuguesa.
Entre os 1,6 milhões de obras impressas contam-se a "Bíblia de Gutenberg", o primeiro livro impresso da Europa Ocidental, em latim, a carta de Cristóvão Colombo a relatar a descoberta das Índias Ocidentais (Américas) e os registos das observações diárias dos astros de Galileu Galilei.
Ao todo, a biblioteca do Vaticano tem mais de 50 quilómetros de prateleiras com livros, incluindo volumes doados pelos Papas.
"A biblioteca pertence ao Papa", sublinhou José Tolentino Mendonça, assinalando que os livros entregues por Francisco à biblioteca lhe chegam às mãos com um cartão no seu interior a explicar os motivos da doação.
O sacerdote, teólogo e poeta considera que a biblioteca que dirige é "uma biblioteca humanista", uma vez que reúne versões da Bíblia, textos de direito canónico e litúrgicos, de teologia, astronomia, medicina, arte, música, história ou filosofia.
in Renascença | 17 de maio de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença