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Portugal presente nas celebrações do 74º Aniversário da Libertação do Campo de Concentração de Mauthausen
Uma equipa internacional de historiadores do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (IHC/NOVA/FCSH), dirigida pelo Professor Fernando Rosas, realizou nos últimos anos, com o apoio da Fundação alemã EVZ – Fundação Memória, Responsabilidade e Futuro, e de outras instituições, uma investigação pioneira em Portugal que tinha por objetivo identificar os trabalhadores forçados e os prisioneiros dos campos de concentração nazis de nacionalidade portuguesa.
Trata-se de uma investigação onde se demonstrou, uma vez mais, que Portugal - que foi oficialmente um país que declarou a neutralidade durante a 2ª Guerra Mundial -, afinal não esteve alheado do conflito. Foi possível identificar, para já, cerca de 1.000 portugueses, sobretudo emigrantes em França, que foram também vítimas do III Reich.
Neste âmbito, foi proposta ao Governo Português em 2016 a colocação de uma placa em memória destes portugueses, no Campo de Concentração de Mauthausen, onde alguns estiveram internados. Tal desígnio veio a concretizar-se no ano seguinte, em 2017, quando na Cerimónia de Comemoração da Libertação do Campo, na presença do Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, Professor Augusto Santos Silva, e de alguns elementos da equipa de investigação, foi descerrada oficialmente uma placa trilingue no “Muro das Lamentações” do campo, reconhecendo assim Portugal, pela primeira vez, as vítimas portuguesas do regime Nazi, e homenageando-as simultaneamente.
A escolha deste Campo, e que resulta em primeira análise do bom acolhimento da proposta por parte da Direção do Museu e Memorial, radica em alguns dados que importa aqui apresentar resumidamente. Mauthausen, na Áustria, foi o campo por excelência do trabalho forçado, constituindo um dos maiores complexos de trabalho forçado na Europa da 2ª Guerra Mundial. Foi igualmente o campo mais “latino” do sistema concentracionário. Foi também o campo de destino do primeiro comboio de deportados civis enviados a partir de França, que partiu de Angoulême (França), no dia 20 de agosto de 1940, tendo ficado conhecido como “o comboio dos 927”. Três desses deportados eram portugueses. Foram internados no campo, mas não sobreviveram. Sendo este o campo que está situado geograficamente mais a sul no território do “Grande Reich Alemão”, foi também o último a ser libertado pelas tropas Aliadas, concretamente pelo 41º Esquadrão, da 11 Divisão do 3º Exército Americano, no dia 5 de maio de 1945. Recorde-se, também, que em 2017 foi possível garantir já a presença portuguesa na cerimónia anual em Angoulême através da CIVICA – Associação de Autarcas de Origem Portuguesa em França e no Estrangeiro, presidida pelo Dr. Paulo Marques, Vice-Presidente da Câmara de Aulnay-sous-Bois (Paris).
Um dos objetivos do projeto de investigação consistiu também na organização de um Congresso Internacional sobre o Trabalho Forçado, que veio a realizar-se no Goethe Institut-Lisboa, instituição parceira, bem como na apresentação de uma exposição, a qual teve lugar no Centro Cultural de Belém, no final de 2017.
Na sequência da exposição, e porque se chamava a atenção para a importância da investigação local no âmbito de uma temática internacional, o Município de Loulé aceitou o repto e estabeleceu entretanto uma parceria com a equipa de investigação para inaugurar em Loulé a exposição internacional “Trabalhadores Forçados Portugueses do III Reich” e, em simultâneo, realizar localmente a investigação que permitiu complementá-la com o núcleo “Os Louletanos no sistema concentracionário Nazi”. A exposição encontra-se presentemente patente ao público em Loulé, na Casa-Memória Duarte Pacheco.
Em 2018 uma delegação portuguesa, que integrava o Embaixador de Portugal em Viena, António Almeida Ribeiro, e o Professor Fernando Rosas, entre outros, esteve novamente presente na cerimónia em Mauthausen, enquanto representação nacional.
Em 2017 e em 2018 os representantes portugueses participaram ainda no ato que recria o “Juramento de Mauthausen”, momento de especial significado na cerimónia.
No quadro desta relação entre a Universidade Nova de Lisboa, através do IHC da FCSH, e o Ministério de Negócios Estrangeiros do Governo da República Portuguesa, o Município de Loulé disponibilizou-se para participar na cerimónia de 5 de maio de 2019, reunindo todos os meios para que duas turmas do 11º ano (cerca de 50 alunos) da Escola Secundária de Loulé participassem neste ato formal de indelével importância. Os alunos, que desenvolveram ao longo do ano letivo um projeto educativo sobre a temática, serão acompanhados por quatro dos seus professores e por representantes da Câmara Municipal, a Vereadora Marylin Zacarias, a Diretora Municipal Dália Paulo e a Chefe de Divisão de Educação e Juventude, Dora Assunção.
Integrarão ainda a comitiva o Embaixador de Portugal em Viena, António Almeida Ribeiro, o Professor Fernando Rosas e alguns dos historiadores da equipa do IHC/NOVA/FCSH, Cláudia Ninhos e António Carvalho, Diretor do Museu Nacional de Arqueologia, e também em representação da Direcção-Geral do Património Cultural do Ministério da Cultura. A comitiva terá um total de cerca de 70 elementos.
Acompanhará a delegação uma equipa da RTP, composta pela jornalista Ana Luísa Rodrigues e pela repórter de imagem Carla Quirino, autoras do documentário “Deportados Para Outro Mundo” (RTP, 2018).
Recorde-se que esta cerimónia junta anualmente em Mauthausen cerca de 45.000 pessoas, o que a torna, pelo número de participantes e pelo seu cariz internacional, única.
Através desta participação, Portugal garante pela terceira vez consecutiva uma presença nas cerimónias oficiais, a par de dezenas de outros países, criando assim uma dinâmica essencial que se deseja que tenha continuidade e que no futuro seja alargada a outras instituições portuguesas.