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Galerias romanas vão ser museu. E abrir mais vezes por ano
O ritual de descer o alçapão para ver o criptopórtico, apenas possível duas vezes por ano, pode ter os dias contados. Com as obras numa loja próxima será possível criar uma entrada acessível a todos. E poder ser visitado mais vezes.
Abre-se um buraco na Baixa de Lisboa e os arqueólogos estão lá. "Nem sempre vejo isso da mesma forma", admite Fernando Medina, sobre a regra de chamar estes profissionais, obrigatória nas obras que se fazem na capital. Mas foi, contou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, de um recente licenciamento de obras num prédio da baixa pombalina "que nasceu a ideia de fazer uma entrada para o criptopórtico", na Rua da Conceição.
O alçapão que dá acesso às galerias romanas, (re)descobertas após o terramoto de 1755, abre-se apenas duas vezes por ano - final de abril/ início de setembro, habitualmente - mas a autarquia quer criar uma entrada acessível a todos e um centro interpretativo.
Os arqueólogos já sabiam que "o monumento se desenvolvia para aquele lado", diz António Marques, do Centro Arqueológico de Lisboa (CAL), ao DN. Faltava saber se era possível chegar até lá por algum lugar - leia-se edifício - da baixa pombalina. Foi o que esse processo de licenciamento para obras veio acrescentar.
Falta saber se será possível estar aberta mais do que duas vezes por ano.
Atualmente, sempre que o alçapão se abre, os bombeiros bombeiam a água que está nestes túneis subterrâneos. Os interessados faziam fila, agora têm de fazer pré-reserva e a visita dura cerca de 15 minutos. É ou não perigoso para o edificado tirar esta água mais do que duas vezes por ano? Esta é a pergunta que os engenheiros terão de responder. Para já, diz António Marques, "sabemos que não foi feito para ter água".
A musealização do criptopórtico e o novo acesso, que devem estar prontos entre 2020 e 2021, fazem parte de um projeto mais amplo, a Lisboa Romana - Felicitas Iulia Olisipo, que foi apresentada esta quarta-feira, no Teatro Romano.
Roteiros, um site e uma rede "romana"
Lisboa Romana é uma rede que pretende mapear os sítios arqueológicos de Lisboa e da sua área metropolitana, uma zona com mais de 2 mil anos.
"Ainda hoje tudo funciona como uma região como no tempo dos romanos", disse Fernando Medina, sobre a inclusão de 17 municípios no projeto.
Do Seixal a Torres Vedras, de Cascais a Vila Franca de Xira, 17 municípios estão envolvidos no projeto. Ao todo, 350 sítios arqueológicos estão já mapeados, segundo Inês Viegas, da Direção de Cultura da câmara de Lisboa e gestora do projeto.
Lisboa, com mais de 100 locais identificados, leva a fatia de leão. Além do Teatro Romano, aberto desde 2015 (e ainda em obras), os vestígios, visíveis e visitáveis, vão do Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros à loja de vinhos Casa Napoleão, onde se pode ver o que resta de uma fábrica de conservas do século V, do Campo das Cebolas à Sé.
Um dos últimos sítios arqueológicos da época romana que é visitável é o Hotel Eurostars Museum. "Podem ver-se muralhas, uma domus romana, mosaico com desenho de uma Vénus, o que é muito raro em Lisboa, há um cruzamento, que permite perceber um bocadinho do urbanismo e um fontanário", explica António Marques.
O projeto, com objetivos para cumprir até 2024, inclui o lançamento de um site, em junho, e de uma app. Estas plataformas vão reunir fotografias, vídeos, textos e reconstruções assim como roteiros pelo património Lisboa Romana - Felicitas Iulia Olisipo (a partir do nome da cidade) dos 17 concelhos.
O projeto envolve 96 investigadores que desenvolvem 9 linhas de investigação sobre a presença romana em Lisboa e arredores. Até 2024 serão editados nove títulos. Lisboa Romana será uma exposição e um catálogo e, disse Inês Viegas, pensam organizar um congresso internacional. Está também prevista a publicação de Epigrafia de Olisipo, de Augusto Vieira da Silva, editado pela primeira vez em 1944. Revista e aumentada.
por Lina Santos in Diário de Notícias | 11 de abril de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias