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"O Conto da Ilha Desconhecida", de José Saramago, com edição exclusiva de apoio a Moçambique

Iniciativa da Porto Editora e Fundação José Saramago, com apoio das Livrarias Bertrand, FNAC e várias livrarias independentes, pretende angariar fundos para a operação "Embondeiro", da Cruz Vermelha Portuguesa.

 

Nos próximos dias chega às livrarias uma edição especial de O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago, exclusivamente dedicada à angariação de fundos para apoiar o trabalho da Cruz Vermelha Portuguesa na assistência às vítimas do Ciclone Idai. 

Esta é uma iniciativa conjunta da Porto Editora, da Fundação José Saramago e herdeiras do Escritor, que envolve também as Livrarias Bertrand, a FNAC e várias livrarias independentes, sendo que todas as receitas e direitos de autor relativos à venda deste livro serão doadas a favor daquela instituição. 

Pilar del Río, Presidenta da Fundação José Saramago, afirma, a propósito desta iniciativa, que esta é uma maneira mais de tornar efetiva a ética da responsabilidade, que José Saramago defendia como norma fundamental de convivência. 

Para Vasco Teixeira, Administrador e Diretor Editorial do Grupo Porto Editora, o envolvimento no movimento coletivo de apoio ao povo moçambicano foi espontâneo: "logo nos primeiros dias, a nossa editora em Maputo, a Plural Editores Moçambique, mobilizou-se no apoio direto através do fornecimento de bens essenciais. Agora, com esta edição especial, esperamos dar mais um contributo para que quem está no terreno possa dar a melhor ajuda. Perante a dimensão da catástrofe, o envolvimento de todos é fundamental".

Esta edição exclusiva de O Conto da Ilha Desconhecida, que José Saramago acabou de escrever a 27 de março de 1997, i.e., há 22 anos e alguns dias, como deixou registado no Volume V dos Cadernos de Lanzarote *, estará disponível nas Livrarias Bertrand, na FNAC e em várias livrarias independentes, devidamente identificada com uma mensagem alusiva à iniciativa.

Publicado, pela primeira vez, em 1997, pelo Pavilhão de Portugal – Expo 98 e pela Assírio & Alvim, este conto narra uma história de otimismo e perseverança na concretização dos sonhos, protagonizada por um homem que procura um barco para navegar até uma ilha que ninguém sabe existir. O Conto da Ilha Desconhecida foi por diversas ocasiões alvo de edições especiais para apoiar a Cruz Vermelha em campanhas de reconstrução de países afetados por catástrofes naturais, como em El Salvador ou na Colômbia. 

Em 2010, em resposta ao forte terramoto que destruiu o Haiti, a Fundação José Saramago colaborou também com a Cruz Vermelha, então com uma edição especial de A Jangada de Pedra, cujas receitas reverteram, na totalidade, para apoiar a reconstrução do país. No seu Caderno, José Saramago escrevia então o texto que pode ser lido aqui.

Plural Editores Moçambique com apoio direto à Beira 
O envolvimento do Grupo Porto Editora no apoio humanitário começou nos primeiros instantes após a passagem do ciclone tropical Idai. A Plural Editores, subsidiária do grupo naquele país, assegurou rapidamente a compra e o fornecimento de milhares de litros de água potável, produto para tratamento de água, centenas de quilos de sal, açúcar e farinha de milho. 

A Plural Editores Moçambique é a principal editora do país, atuando principalmente na área da Educação. 

* Terminei hoje «O Conto da Ilha Desconhecida», com o que deverá ficar mais ou menos satisfeito (espero bem que sim) o pedido de Simoneta Luz Afonso, que queria que eu lhe escrevesse algo sobre o tema «Mitos», destinado ao Pavilhão de Portugal da Expo 98, de que ela é a principal responsável… Em Uma Aventura Inquietante de José Rodrigues Migueis há um capítulo chamado «Onde Um Leigo Afronta a Ciência», que comecei por conhecer isoladamente, não sei quando nem onde (talvez na revista Ver e Crer, com o título «Inocente Entre os Doutores», e que sempre recordo quando me aparece alguém a convidar-me a fazer algo para que não tenho preparação. Tento desfazer o equívoco, dissuadir quem tanto parece confiar num imaginário ecletismo dos meus dotes. Não foi assim com Simoneta Luz Afonso. Insistiu tanto que não tive outra saída que aceitar um trabalho que me iria dar água pela barba. Levei meses a encontrar uma porta de saída que ao mesmo tempo me servisse de porta de entrada, e finalmente acabei por usar aquela por onde entro e saio todos os dias: a porta da ficção. Destinando-se o conto a publicação em livro, não posso nem devo transcrevê-lo para aqui (seria nada mesmo que concorrência desleal), mas não resisto à tentação de copiar-lhe o primeiro parágrafo, onde logo fica reduzida a cacos a erudita gravidade do Mito: 

«Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco. A casa do rei tinha muitas mais portas, mas aquela era a das petições. Como o rei passava todo o tempo sentado à porta dos obséquios (entenda-se, os obséquios que lhe faziam a ele), de cada vez que ouvia alguém a chamar à porta das petições fingia-se desentendido, e só quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava, mais do que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia maneira de se calar. Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que é que tu queres. O suplicante dizia ao que vinha, isto é, pedia o que tinha a pedir, depois instalava-se a um canto da porta, à espera de que o requerimento fizesse, de um em um, o caminho ao contrário, até chegar ao rei. Ocupado como sempre estava com os obséquios, o rei demorava a resposta, e já não era pequeno sinal de atenção ao bem-estar e felicidade do seu povo quando resolvia pedir um parecer fundamentado por escrito ao primeiro-secretário, o qual, escusado seria dizer, passava a encomenda ao segundo-secretário, este ao terceiro, sucessivamente, até chegar outra vez à mulher da limpeza, que despachava sim ou não conforme estivesse de maré.»

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