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Alcácer do Sal reabre um dos museus mais antigos do país

Cabeça de leão da Idade do Ferro e escaravelho egípcio trazido por cartagineses são algumas das peças encontradas na zona onde o Museu Pedro Nunes ostenta 2.700 anos de história.

Leão fenício


Uma cabeça de leão fenícia, da Idade do Ferro (sec. VI a.C.), que possivelmente embelezava um móvel ou uma cadeira, e um escaravelho egípcio, de usar pendurado num fio, ao pescoço, que os arqueólogos julgam ter sido trazido para Alcácer do Sal por mercadores cartagineses, são duas das muitas peças do vasto espólio do Museu Municipal Pedro Nunes, que vai reabrir no dia 6 de Abril, após 12 anos de encerramento, quase outros tantos de escavações arqueológicas e um milhão de euros de investimento na recuperação do edifício e em equipamento museológico moderno.

O museu, que segundo a arqueóloga Marisol Ferreira, é um dos mais antigos do país e o mais antigo do distrito de Setúbal, foi criado no século XIX, em 1894, e instalado, no ano de 1914, na Igreja do Espírito Santo, onde agora ganha nova vida.

O imóvel de valor arquitetónico, com importantes elementos manuelinos como a janela principal e uma pia de água benta do século XVI, foi integralmente recuperado e adaptado às funções de museu, conjugando a exposição do edifício e do subsolo arqueológico com a apresentação da coleção de forma moderna e interativa. Porque, segundo Pedro Sobral, responsável pela museologia do espaço, “a fase do museu cheio de pó” já passou pelo que hoje “tem de haver apontamentos” na apresentação das peças.

Tal como a cidade de Alcácer do Sal, antiga Salacia (nome que os romanos deram ao local depois de derrotarem os cartagineses no sec. II a.C.), o museu gira em torno do Sado, o rio que liga esta região alentejana ao Mediterrâneo e que transporta 2.700 anos de história.

“O Sado é um rio de culturas”, refere o presidente da Câmara Municipal, e sublinha que com a reabertura do museu, que se junta à Cripta Arqueológica do castelo, a cidade passa a dispor de uma “oferta ímpar”. De acordo com Vítor Proença, o reforço da oferta é importante para a identidade local, o desenvolvimento económico do concelho e aprofundamento do conhecimento.

As escavações na Igreja do Espírito Santo, entre 2008 e 2010, exumaram um rico e vasto espólio. Os trabalhados centraram-se na zona portuária da localidade, expondo a vida ribeirinha, das antigas lojas e armazéns dos mercadores fenícios, cartagineses e romanos.

E a quantidade de artefactos encontrados assegura a renovação da exposição no museu por longos anos. “Temos 600 contentores com peças arqueológicas, com cerca de 8.000 peças e quase 5.000 inventariadas, o que mostra o valor que aqui existe e o trabalho que tem sido feito”, disse o autarca ao PÚBLICO.

Capela de D. Manuel I

Alcácer do Sal e em particular a Igreja do Espírito Santo foram bem conhecidas do rei D. Manuel I. Foi nesta localidade que foi aclamado rei, por lá se encontrar quando chegou a noticia da morte de D. João II e, talvez por isso, escolheu a então vila para a celebração do seu segundo casamento. Diz a tradição que o rei D. Manuel casou neste edifício e que terá sido por isso que promoveu as obras que, em 1512, melhoraram a então capela e lhe deram o estilo manuelino.

Embora não tanto quanto o casamento real, a inauguração do renovado Museu Pedro Nunes, marcada para o próximo dia 6 de abril, será um dos maiores eventos dos últimos anos na cidade. Vai ser montada uma tenda com capacidade para duas centenas de pessoas na praça principal, junto ao museu.

A praça onde se encontra o museu, é dedicada, com nome e estátua, ao grande matemático dos Descobrimentos portugueses, Pedro Nunes (1502-1578), natural de Alcácer do Sal.  Designado por Petrus Nonius o salaciense, dedicou-se à resolução dos problemas matemáticos da cartografia, foi fundador da navegação teórica que mudou a forma como os marinheiros percorriam o mundo, e inventor de instrumentos essenciais à época como o nónio, o anel náutico e o instrumento de sombras.

As peças agora expostas, diz a arqueóloga Marisol Ferreira ao PÚBLICO, foram encontradas nas recentes escavações.

O leão fenício foi descoberto na Rua do Rato, antiga zona portuária, envolvente à igreja, que era, no século IV a. C., a área comercial da localidade, com lojas e armazéns de mercadores. Foi encontrado em 2007 junto a diversas outras peças, designadamente cerâmica cinzenta e placas de osso decoradas.

Já o escaravelho egípcio, foi exumado em 2009 no interior da Igreja, e é o sexto encontrado em Alcácer e o primeiro da zona ribeirinha. Os outros cinco foram encontrados na necrópole, no castelo, e integram o espólio do Museu Nacional de Arte Antiga. Em conjunto, os escaravelhos egípcios de Alcácer do sal formam a maior exposição nacional destas peças.

Trata-se de amuletos, peças muito pequenas, para usar no fio ou colar e que foram trazidos para estas paragens pelos mercadores fenícios ou cartagineses. No caso deste descoberto agora, os desenhos e símbolos que apresentam incluem uma esfinge e o falcão Horus.

 


por Francisco Alves Rito in Público | 30 de março de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público 

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