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O MIL é um festival, uma convenção, uma rede musical em criação
Nos próximos três dias, os clubes do Cais do Sodré estarão cheios de público e de profissionais da música. Entre concertos e conferências, um espaço que se abre para a internacionalização e para afirmar Lisboa como ponte entre a Europa e a América do Sul.
É um festival de música independente e atestam-no os mais de 70 concertos programados para os dias 27, 28 e 29 de março. É espaço de debate e de pensamento, como o comprovam as mais de 30 conferências e workshops onde estarão músicos como José Mário Branco e Pete Kember ou um jornalista e escritor como Simon Reynolds, e onde se discutirão diversos temas, da produção aos direitos de autor, do marketing às relações entre os mercados musicais dos países de língua portuguesa. É também, uma convenção para profissionais, que se reúnem em Lisboa para criar parcerias ou descobrir novas bandas – e não tenhamos dúvidas que o é: acreditados estão cerca de 450. É tudo isto o MIL – Lisbon International Music Network, cuja terceira edição decorre entre esta quarta e sexta-feira, ocupando salas de espetáculos no Cais do Sodré e o Palacete dos Marqueses de Pombal.
As conferências e masterclasses no Palacete acontecem desde a manhã desta quarta-feira. Os concertos começam no mesmo dia, à tarde. Depois dos dois marcados para as 18h30, mantidos em segredo e que acontecerão em lugar a anunciar (têm a chancela da plataforma Sofar Sounds Lisbon), e depois do espectáculo protagonizado no arranque por Letrux e Lula Pena, as duas noites seguintes serão preenchidas com bandas vindas dos quatro cantos do mundo: o hip hop queer sul-africano de Dope Saint Jude, o punk dos ingleses Italia 90, o hip hop activista das catalãs Tribade, o garage-rock dos taiwaneses 88 Balaz, a cumbia moderna da argentina La Yegros, o encontro franco-senegalês dos Guiss Guiss Bou Bess ou as rimas de Blu Samu, rapper belga de origem portuguesa. Isto, para além da forte presença brasileira, de que já falaremos, e de um estimulante contingente português, dos mais diversos géneros, formado por PAUS, Blaya, Neev, Pedro Mafama, Conan Osiris, Ghost Hunt, Solar Corona, Fogo Fogo, Filho da Mãe, Scúru Fitchadu, Octa Push, Beautify Junkyards, Cave Story ou Nídia. Todos eles serão distribuídos pelo B.Leza, Estúdio Time Out, Lisboa Rio, Lounge, Musicbox, Roterdão, Sabotage, Titanic Sur Mer, Tokyo e Viking.
“[O MIL] Segue o modelo dos showcase festivals que pululam por esse mundo, como forma de pôr em contacto profissionais e potenciar a circulação e exportação de música”, explica ao PÚBLICO Gonçalo Riscado, diretor da CTL – Cultural Trends Lisbon, empresa proprietária e gestora do Musicbox e do Povo, no Cais do Sodré, e a responsável pela organização do MIL. Tendo como ponto de partida a ideia de convenção, o MIL “replica esse modelo base”, que tem como outro exemplo português o Westway Lab, em Guimarães, “mas depois é interpretado e programado de forma diferente”.
Pretende-se, por exemplo, que sirva como espaço de reflexão “não só para os profissionais da música, mas para o sector cultural no seu todo”. As discussões que são introduzidas na programação, defende, “são importantes para diversas áreas artísticas”. E a oportunidade de ouvir alguém como José Mário Branco falar da sua carreira, do fenómeno da música no passado e no presente, como acontecerá esta quarta, às 16h, com moderação a cargo de Gonçalo Frota, crítico de música e de teatro do PÚBLICO, é certamente do interesse do público em geral.
Na dimensão mais estritamente musical, afirma-se como um festival que “pretende ajudar na internacionalização dos artistas portugueses” e, ao mesmo tempo, mostrar o país como ponte privilegiada da Europa para a América do Sul e África e vice-versa, aproveitando a posição portuguesa, quer na geografia europeia, quer na relação próxima, pelos laços históricos, com o Brasil e restantes países de língua portuguesa. Com o Brasil, a relação é estreita e manifestada através da parceria com o SIM - São Paulo, festival de características semelhantes que acolheu vários artistas portugueses em 2018 e que o fará novamente este ano. Pelo meio, traz a Lisboa alguns nomes que fazem pulsar o diverso presente musical brasileiro – além de Letrux, 2DE1, BadSista, Bike, Jaloo, Venga Venga e Rubel.
Olhando para a experiência dos dois anos anteriores, Gonçalo Riscado destaca uma “vontade crescente de artistas e agentes virem ao MIL, como espaço privilegiado de encontro” – este ano, o festival abriu-se a candidaturas espontâneas e os seus organizadores foram surpreendidos com mais de 700 propostas originárias de 40 países. Como escrevemos, o MIL tem como um dos seus objetivos a abertura do tecido musical português a novas redes europeias. Nesse sentido, além do contacto direto entre bandas e agentes, haverá uma reunião em Lisboa da plataforma Live Europe, que aglomera programadores de catorze salas europeias, incluindo o Musicbox. E este ano o MIL juntou-se ao Jump, programa financiado pela Europa Criativa que apoiará projetos inovadores relacionados com a música. Gonçalo Riscado frisa, porém, que paralelamente à “promoção de redes europeias” é importante não esquecer “que há muitas redes nacionais por fazer, redes que valorizem os profissionais”. Alerta: “não temos uma associação de clubes e de salas de espetáculo que defenda estes espaços, a sua importância e os apoios que podiam ter para programar”.
As entradas para o MIL dividem-se entre o bilhete Festival (20€, acesso aos concertos), o bilhete Gold (30€, acesso aos concertos e ao espetáculo de abertura) e o bilhete Pro (70€, acesso a todos os concertos, conferências e base de dados dos profissionais presentes).
por Mário Lopes in Público | 27 de março de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público