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Fado: de canção bastarda a canção nacional
De pranto marginal, afastado dos bons costumes, a nobre canto Património Cultural Imaterial da Humanidade. O fado é hoje visto por muitos como a «canção nacional», mas nem sempre assim foi.
A sua história fez-se de amores e desamores. Conheça alguns desses ódios em As Guerras do Fado, um livro de Alberto Franco, publicado pela Guerra e Paz com o apoio da Sociedade Portuguesa de Autores.
«Os ataques ao fado começaram pouco depois do seu aparecimento. Alguns intelectuais oitocentistas associavam?no ao crime. Achavam-no mórbido, lutuoso, indigno duma nação civilizada.»
Um cenário de discórdia congénito. É este o ponto de partida que Alberto Franco, jornalista, autor e letrista de fado, utilizou para dissecar a história madrasta do «canto da Severa» no livro As Guerras do Fado.
Um livro repleto de curiosidades que nos mostra os ódios e os amores que o fado suscitou ao longo da história. Censurado pela sua irreverência e desrespeito pelos bons costumes, a canção e os seus amantes passaram «as passas do Algarve» para que o género fosse consagrado.
Sabia que nem mesmo Amália Rodrigues reuniu consenso? A diva fora inúmeras vezes criticada por entoar versos de Camões.
Sabia que o fado foi confundido com propaganda do Estado Novo? Os movimentos antifascistas viam o fado como um instrumento da ditadura enquadrado nos três efes: Fátima, futebol e fado. Recorde-se o exemplo do compositor e militante comunista Fernando Lopes-Graça, que achava o fado uma «canção bastarda». A verdade é que mesmo Salazar não gostava do fado.
Muito antes de se ter tornado Património Cultural Imaterial da Humanidade, o fado recolhia ódios e descrenças de todas as áreas da sociedade em Portugal. Até mesmo na medicina. Sabia que o médico Samuel Maia acusou-o, inclusive, de fazer mal ao fígado?
Nem Eça de Queiroz escondeu a sua rejeição à canção popular. Numa crónica publicada em 1867, na Gazeta de Portugal, o vulto da literatura portuguesa considerava que o fado, «uma canção nascida numa cidade como Lisboa, sorna e alérgica à reflexão, tinha de ser inferior ao que existia nas grandes cidades do mundo». Para Eça, o fado não passava de uma comédia encenada «no hospital e na enxovia». O escritor inspirou-se nessa imagem depreciativa para criar a personagem Artur Couceiro de O Crime do Padre Amaro.
As Guerras do Fado é um livro com a chancela da Guerra e Paz, Editores, com o apoio da Sociedade Portuguesa de Autores. A obra já está disponível para reserva no site oficial da editora.
Sinopse
Visto como um instrumento de controlo cultural da ditadura, o fado integrou o mito dos três efes: Fátima, futebol e fado. Porém, a verdade é que Salazar não gostava de fado. E o compositor Fernando Lopes-Graça, militante comunista, era da mesma opinião: o fado era uma «canção bastarda». Hoje é um género respeitado e aplaudido, reconhecido como Património Cultural Imaterial da Humanidade, mas muitos foram os ataques de que o fado foi alvo desde que surgiu. Eça de Queiroz considerou-o uma «comédia». O pedagogo António Arroio propôs a troca do fado pelo canto coral, e o médico Samuel Maia acusou-o de fazer mal ao fígado… Muita gente se indignou ao ouvir Amália cantar Camões, e, no pós-25 de Abril, o fado foi confundido com a ditadura que acabara de ser derrubada. Numa obra fundamental para a história do fado, Alberto Franco dá a conhecer os dias menos felizes da expressão fadista, desde o século XIX à actualidade, os seus adversários e os seus defensores.
Biografia do autor
Alberto Franco nasceu em Lisboa, em 1962. Como jornalista freelancer, publicou reportagens no Público, Expresso, Diário de Notícias, Diário do Alentejo, A Outra Margem, Imenso Sul e Memória Alentejana. É autor de uma dezena de livros em áreas como a história (A Voz do Operário: 135 Anos; A Planície: Uma Voz na Década do Silêncio; A Revolução É a Minha Namorada: Memória de António Gonçalves Correia, Anarquista Alentejano; O Homem que Matou Sidónio Paes, em co-autoria), a gastronomia (Fialho: Gastronomia Alentejana; Porco Alentejano: O Senhor do Montado) e a arte tauromáquica (Campo Pequeno: Crónica da Monumental de Lisboa; José Júlio: Vida e Tauromaquia). Escreve letras para fado, expressão do seu interesse por este género musical, que o presente livro também testemunha.
As Guerras do Fado
Alberto Franco
Não Ficção / História
208 páginas · 15x23 · 15,50 €