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Luís Quintais vence o Prémio Literário Casino da Póvoa
A Noite Imóvel foi o livro distinguido pelo júri do prémio associado à 20.ª edição do festival Correntes d'Escritas, na Póvoa de Varzim, que este ano é dedicado à poesia. Havia 12 finalistas, escolhidos a partir de 45 obras candidatas.
A Noite Imóvel (Assírio & Alvim, 2017), de Luís Quintais, venceu o prémio literário Casino da Póvoa, divulgado esta terça-feira ao final da manhã na abertura da 20.ª edição do festival Correntes d'Escritas, numa sessão que teve a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, da ministra da Cultura, Graça Fonseca, e do Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, que preside atualmente à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O livro de Luís Quintais, escolhido entre 12 finalistas de um total de 45 obras candidatas, foi selecionado por um júri que incluiu o romancista Almeida Faria, a poetisa e ensaísta Ana Paula Tavares, o escritor José António Gomes, que como poeta usa habitualmente o pseudónimo João Pedro Mésseder, a poetisa Maria Quintans e a artista plástica, atriz e escritora Marta Bernardes.
O prémio foi atribuído por maioria, tendo o júri assinalado, um tanto abstratamente, “a qualidade da escrita, a coerência das propostas e a exemplaridade dos conceitos”.
Antropólogo de formação – é professor no Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra –, Luís Quintais nasceu em 1968 em Angola, em Luena (então Vila Luso), e estreou-se em 1995 com A Imprecisa Melancolia, publicado pela Teorema, que venceu o Prémio Aula de Poesia de Barcelona.
O livro Lamento (1999) marca a sua entrada no catálogo da Cotovia, onde depois publicará Umbria (1999), Verso Antigo (2001), Angst (2003) e Duelo (2004), que venceu o prémio de poesia do Pen Club e o prémio Luís Miguel Nava. Ainda na Cotovia, saíram Canto Onde (2006), Mais Espesso que a Água (2008) e Riscava a Palavra Dor no Quadro Negro (2010). O Vidro (2014) é já publicado pela Assírio & Alvim, que no ano seguinte edita a sua obra poética reunida com o título Arrancar Penas a Um Canto de Cisne. Já depois de ter publicado, em 2017, o livro agora premiado, A Noite Imóvel, Luís Quintais lançou em 2018, também na Assírio, Agon.
Dedicado alternadamente à ficção narrativa e à poesia, o prémio deste ano, no valor de 20 mil euros, teve entre os livros finalistas obras dos poetas Gastão Cruz, José Alberto Oliveira, Adília Lopes, José Tolentino Mendonça, Daniel Jonas, Rosa Oliveira, Golgona Anghel, José Luís Tavares, Inês Fonseca Santos, Luís Carmelo e João Rios.
O prémio foi anunciado por Ana Paula Tavares, precedendo uma intervenção do responsável do casino, que aproveitou para se queixar de que a instituição paga 60 por cento de imposto sobre as receitas, o que a impediria, alegou, de apoiar ainda mais a cultura.
Esta 20.ª edição das Correntes d'Escritas – Encontro de Escritores de Expressão Ibérica é apresentada como a maior de sempre, com mais de 140 convidados de vinte países, e vai decorrer até 27 de fevereiro no Cine-Teatro Garrett, na Póvoa de Varzim. Na edição do ano passado, dedicada ao romance, o vencedor foi o escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez, com a obra A Forma das Ruínas.
Depois de uma breve intervenção da escritora brasileira Nélida Piñon, a quem é dedicada a edição deste ano da revista do Correntes d'Escritas, Encontro, falou o presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, Aires Pereira, que ofereceu a Marcelo Rebelo de Sousa vários livros, incluindo uma primeira edição de O Poveiro (1932), do jornalista, etnólogo e político António dos Santos Graça.
Graça Fonseca sublinhou depois que, “num tempo em que tudo parece fugaz”, estas “20 edições ininterruptas são um feito que merece todos os elogios” e que transformou o Correntes d'Escritas num “lugar inapagável no panorama literário ibérico”. Numa intervenção em que citou o poveiro Eça de Queirós e lembrou as tertúlias de José Régio no Café Diana, a ministra da Cultura disse que o festival tem “dado voz à imensa diversidade das culturas que partilham as línguas ibéricas” e sublinhou: “Aqui celebra-se a palavra contra o analfabetismo agressivo, aqui abre-se um espaço para ouvir os outros contra o faccionismo e o radicalismo surdo".
Jorge Carlos Fonseca, a quem caberia depois fazer, ao início da tarde, a conferência oficial de abertura do festival, no Cine-Teatro Garrett, salientou o contraste entre a pequena povoação piscatória que conheceu quando era estudante do ensino secundário, e ganhou um prémio para visitar “o então Portugal continental”, e a “cidade moderna e aberta” a que agora regressou. Ainda se lembrava de quem eram, à época, o treinador e o “esplêndido guarda-redes” do clube de futebol da Póvoa.
Marcelo Rebelo de Sousa dedicou o início da sua intervenção ao seu homólogo cabo-verdiano. "Ele há dias felizes, muito felizes, mesmo para um Presidente da República: começar o dia com a presença iluminante do meu querido amigo Presidente, mas também poeta, romancista e ficcionista, Jorge Carlos Fonseca". Agradeceu ainda aos “visionários presidentes da Câmara e aos incansáveis e eficientes vereadores da Cultura”, respondeu com simpática ironia ao “queixume” do representante do Casino e salientou, finalmente, o papel da co-organizadora e alma do festival, Manuela Ribeiro, tendo mesmo anunciado que, enquanto Presidente da República, lhe prestará homenagem no Palácio de Belém.
por Luís Miguel Queirós in Público | 19 de fevereiro de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público