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Rede Portuguesa de Jazz nasce com ambição europeia

Será lançada publicamente em meados do ano, mas a Rede Portuguesa de Jazz já deu os primeiros passos. Carlos Martins, seu diretor executivo, explica como e para quê.

Orquestra Jazz de Matosinhos, uma das instituições que já integram a rede_Nelson Garrido Assembleia geral constitutiva da Rede Portuguesa de Jazz, na sede da Jobra DR


Chama-se Rede Portuguesa de Jazz e está agora a ser apresentada, apesar de ter sido constituída em 11 de novembro de 2018, em assembleia geral. Inspirada em redes análogas já existentes, como a inglesa, a italiana, a francesa e a alemã, demorou três anos a pensar e a criar, diz ao PÚBLICO o seu diretor executivo, o saxofonista Carlos Martins.

Objetivos? Os que vêm nos estatutos, e constam da nota enviada à imprensa, são “a promoção e a divulgação do jazz e da música improvisada, a melhoria das condições de trabalho dos músicos e das infra-estruturas associadas a esta prática performativa, a defesa dos interesses da comunidade jazzística.” Isso é, dizem ainda, “o apoio a novos projetos e eventos, a projeção internacional do jazz e da música improvisada produzidos em Portugal e ou por músicos portugueses residentes no estrangeiro, bem como o apoio à formação dos jovens e a interação com os agentes musicais em Portugal e noutros países.”

A assembleia constitutiva da rede realizou-se fora dos grandes centros, em Albergaria-a-Velha, numa localidade chamada Branca. “Quisemos, simbolicamente, marcar uma posição ao ir lá, dizendo que não é Lisboa, Porto e Coimbra que vão fazer uma rede mas sim todos os parceiros de todo o país.” Com uma razão acrescida: ali existe, desde 1969 mas continuamente modernizada, uma associação chamada Jobra (Jovens da Branca), dinamizadora de múltiplas atividades culturais. “Têm uma escola fantástica de jazz”, diz Carlos, “gerida de uma forma altamente profissional, e escolhem não só os melhores professores de cada instrumento como aqueles capazes de passar um maior entusiasmo.”

Uma ideia de pertença

Além de Carlos Martins, constituem a direção da rede os coordenadores de grupos de trabalho em quatro áreas: Massimo Cavalli (criação), Pedro Costa (divulgação), Carlos Mendes (educação) e Pedro Cravinho (investigação). Pedro Guedes e Rui Eduardo Paes estão na mesa da assembleia geral e José Miguel Pereira e Carlos Pomares no conselho fiscal. E há ainda José Dias, coordenador dos embaixadores da rede no estrangeiro.

Carlos Martins diz que tudo foi feito com a necessária ponderação. “Primeiro, houve que lançar a base. É que a formalização de uma rede, aberta e democrática, não é óbvia em Portugal, há muitas complicações e muita burocracia.” Porquê? “Porque esta rede não é para pessoas individuais, não é para músicos, é para instituições. Gostaríamos que os músicos se juntassem para formar pequenos organismos que os representem e que possam integrar a rede. Depois, é preciso ter uma ideia de comunidade para defender. Porque a palavra individual, de cada um, não tem força, enquanto que a palavras de vários já tem.”

Dá um exemplo: “A Porta-Jazz é um conjunto de músicos, que ainda não está na rede mas pode vir a estar. E a Porta-Jazz é feita por músicos, para criar um ambiente musical.” Há, no entanto, instituições que já integram a rede, como a Orquestra Jazz de Matosinhos. “O que queremos é ter uma rede aberta, inclusiva, e com carácter independente. Trabalhar com uma ideia de pertença, de unidade, e que sirva para desenvolver estratégias e perceções do que é necessário fazer para desenvolver mais a música, que é o que interessa.”

Em 2018, a propósito da realização em Lisboa da European Jazz Conference (no CCB, em setembro passado), Carlos Martins dissera ao PÚBLICO: “A consciência da qualidade do jazz português nos últimos dez anos foi adquirida durante a Festa do Jazz. Mas Portugal continua a não ter apoios suficientes para o jazz ou salas específicas para se tocar. A única solução é a Europa, é integrar uma rede europeia de jazz.” Agora, desenvolve assim essa ideia: “Portugal não está dentro da Europa da circulação, está sempre fora, sempre com alguma dificuldade. Por isso, encaramos a hipótese de integrarmos projetos de outras redes, ou mesmo fazermos parte do universo das redes de jazz, que já começa a aparecer.” Além disso, diz, “há a possibilidade de, como rede, concorrer a apoios europeus que não estão disponíveis para pessoas individuais. Tudo isto, em conjunto, pode ser a única saída para a compreensão do que é o fenómeno do jazz em Portugal e de como esse fenómeno pode ganhar num trabalho de representação do que é portugalidade dentro desta música.”

No processo de constituição da Rede Portuguesa de Jazz, além das quatro redes europeias já referidas (os estatutos da rede inglesa serviram de inspiração e modelo), foram ainda contactadas a Europe Jazz Network e o Jazzahead. Divulgada e existência da rede, será marcada ainda para este ano, diz Carlos Martins, “uma assembleia geral onde se fará a apresentação pública e a primeira conferência” da rede. E isso deverá ocorrer em meados do ano. Até lá, a ideia é “angariar fundos e vontades para que se possa juntar toda a gente e fazer um concerto ou uma grande jam session, que sirva como lançamento da rede.”


por Nuno Pacheco in Público | 6 de fevereiro de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público 

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