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Papéis que Verdi quis queimar vão ser tornados públicos

São cinco mil páginas de esboços e notas marcadas pelo compositor para o fogo e que estiveram décadas fechadas numa arca na sua casa em Sant'Agata. Agora, transferidos para o arquivo estatal de Parma e digitalizados, serão finalmente acessíveis ao público.

© DR


Giuseppi Verdi tinha decidido reformar-se após o enorme êxito da ópera Aida, estreada em 1871. Mas o seu editor não se conformou e tanto insistiu que conseguiu convencer o compositor a voltar ao trabalho, produzindo mais duas óperas: Otelo e Falstaff, ambas a partir de Shakespeare. Foi durante a compleição das suas duas últimas obras que Verdi colocou dezenas de páginas em pastas marcadas para o fogo: "Queimar estes papéis." Mas os herdeiros não cumpriram a determinação e agora, 119 anos após a morte do músico (desaparecido em janeiro de 1901), os esboços e notas, digitalizados no arquivo de Parma, vão ser acessíveis ao público.

A disponibilização ocorre ao fim de décadas de protestos de académicos, investigadores e músicos, que se queixavam de que o espólio tinha acesso tão difícil que era como se tivesse sido realmente destruído: até há dois anos estava guardado numa arca na casa de Verdi, em Sant'Agata, no norte de Itália, e só alguns especialistas tiveram acesso autorizado pela família do compositor. A transferência do espólio, por determinação do ministério da Cultura do país, para o arquivo estatal de Parma, há dois anos, veio possibilitar finalmente o acesso público.

Uma grande notícia para os aficionados do músico, que poderão agora aceder ao espólio contabilizado em 5400 páginas, das quais cerca de 600 em branco, e que deverão permitir aferir da génese das três últimas óperas de Verdi. Alessandra Carlotta Pellegrini, uma musicóloga que já examinou as páginas, declarou ao New York Times que é como entrar na oficina do compositor. Os esboços, diz Pellegrini, são fundamentais para a compreensão do processo criativo de Verdi. Há muitas versões do famoso Credo de Iago (em Otelo), um monólogo no qual este revela os seus intuitos maléficos, dizendo crer num deus cruel, que o criou à sua imagem, e numerosos esboços não utilizados do final de Falstaff. Muitas páginas são difícil de ler, sobretudo, diz a especialista, porque ao longo da vida a letra de Verdi foi-se tornando menos clara; as diferentes qualidades de papel também são uma fonte de informação.

Definitivamente os menos entusiastas face à novidade são os herdeiros do compositor, a família Carrara Verdi, que não aceitou de bom grado a retirada do baú da propriedade familiar. E menos ainda com a decisão do governo de transferir para o arquivo de Parma um outro lote de documentos, estes muito mais numerosos - cerca de 24000, incluindo cartas -- após especialistas terem determinado que não estavam a ser convenientemente preservados.

Apesar de os papéis de Verdi terem sido classificados como de interesse público em 2008, o arquivo nunca foi de acesso fácil, devido aos critérios da família.


in Diário de Notícias | 29 de janeiro de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias

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