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Os Galvão Teles que estiveram na saga de O Grande Circo Místico
Na Fado Filmes pai e filho produzem e realizam filmes há vinte anos. O Grande Circo Místico é mais um deles a sair deste diálogo criativo entre Luís e Gonçalo Galvão Teles. Uma saga luso-brasileira de Carlos Diegues.
Pai e filho, produtores e cineastas. O pai, Luís Galvão Telles, é o produtor com as mãos na massa, enquanto o filho, Gonçalo Galvão Teles, é a mente criativa do forjar dos projetos. Juntos fazem sentido e há décadas que põe em marcha a Fado Filmes, produtora portuguesa especializada em co-produções e que esta semana estreou em Portugal O Grande Circo Místico, de Carlos Diegues, o filme que o Brasil propôs para os Óscares (ficou fora desta atual "short list" de finalistas) e que teve estreia mundial no último festival de Cannes.
Trata-se da maior co-produção de sempre entre Portugal e Brasil e tem nomes no elenco como Vincent Cassel, Nuno Lopes, Igor Regalla, Mariana Ximenes, Albano Jerónimo ou António Fagundes. A história de um circo chamado Grande Circo Místico dos anos 1910 até aos nossos dias. Trata-se da adaptação do poema/conto de Jorge de Lima, que já foi um espetáculo homónimo no Brasil com música de Chico Buarque e Edu Lobo.
O Grande Circo Místico, inteiramente rodado em Portugal, foi um parto difícil: mais de 14 anos em preparação. Para os Galvão Teles, a palavra certa é desafio: "Desafio, sim, mas os filmes são cada vez mais uma dor de cabeça pois temos de encaixar mil e uma peças de puzzle. Mas este filme, cheio de atores e de épocas diferentes, era de uma extraordinária complexidade", realça o pai.
Gonçalo Galvão Teles, que em 2018 dirigiu com Jorge Paixão da Costa o épico Soldado Milhões, acompanhou a produção fora do terreno mas é peremptório a destacar a grande escada do projeto: "O Grande Circo Místico tem uma grande dimensão - quando li o guião pela primeira vez pensei que era um filme impossível. O próprio arco temporal de 100 anos exige essa dimensão. Filmámos em dez semanas e tivemos de criar uma cidade circo! Na Barroca de Alva construímos duas tendas de circo. Houve realmente circo permanente". Em boa verdade, o Circo Cardinali empenhou-se a sério, alimentando números para o pano de fundo da história, quer através de animais, quer através de artistas.
Para Luís Galvão Teles é importante vincar que este não é um filme brasileiro filmado em Portugal, é mesmo uma co-produção: "os brasileiros vieram filmar com portugueses! Esta é literalmente uma co-produção com o Brasil, embora também haja participação minoritária da França. O que aqui fizemos não foi uma produção executiva". A brincar, a brincar, já são 14 as co-produções entre a Fado Filmes e o Brasil, mas é o próprio que refere que nem sempre é fácil: "só posso dizer bem de um produtor a sério em todos estes anos no Brasil! Esse produtor que foi sério é o Walter Salles... De resto, é sempre muito confuso, muito complicado...Não há rigor e encontrámos sempre uma certa dose de irresponsabilidade. Somos diferentes a produzir e não é por acaso que neste O Grande Circo Místico foi o nosso João Fonseca quem fez toda a parte executiva do filme. A certa altura, quando os brasileiros pensavam que só precisariam de nós para as filmagens, estava já tudo a ficar muito difícil. Mesmo com a coordenação do produtor brasileiro, o João acabou por tomar as rédeas do filme". Quer pai, quer filho, não escondem que este filme teve algumas dificuldades financeiras pela sua escala gigante e também por questões de complicações burocratas com o instituto de cinema brasileiro, a Ancine.
Em 2019, Luís Galvão Teles e Gonçalo Galvão Teles vão trabalhar de forma diferente. O pai vai produzir pela primeira vez uma longa para o filho (Soldado Milhões era uma produção da Ukbar, de Pandora da Cunha Telles). "Agora a questão de pai/filho já não se põe. Falou-se isso quando ambos filmámos Gelo, que era um filme a quatro mãos. A questão está sempre lá, mas é pano de fundo. Somos o Gonçalo e o Luís e temos estado a trabalhar como realizador e produtor", comenta o filho. E acrescenta o pai: "somos duas pessoas que viveram muito tempo juntas e têm muitos anos de trabalho em conjunto". Mas dão turras? "Muitas", diz Gonçalo. "Ah, isso diz ele! São turras boas, mas eu tenho cabeça dura...", corta o pai a rir. Ainda há tempo para uma justificação de Gonçalo: "as nossas turras geram sempre coisas boas, caso contrário, ao fim de vinte anos, não estaríamos a trabalhar juntos". Neste encontro não falaram de bola, mas é bom o leitor saber que Gonçalo é fanático do Benfica e o pai do Sporting...
por Rui Pedro Tendinha in Diário de Notícias | 8 de janeiro de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias