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Percussionistas de todos o país, unidos!
Venham marimbas, tímpanos e caixas. Venham vibrafones, maracas e pratos de choque. Venham todo o ritmo e todas as percussões. Venham todos, que todos estarão, desta quinta-feira até domingo, no primeiro Festival Itinerante de Percussão, em Aveiro.
Tudo começou na cidade que será agora o centro da ação, Aveiro. Em 2017, nos Reencontros de Música Contemporânea, Diana Ferreira e Mário Teixeira repararam que havia três concertos com grupos de percussão de escolas diferentes, “cada um a tocar por si e os outros a ouvir”. Nos momentos mortos do festival, aqueles em que se reflete sobre aquilo a que se assistiu e em que se inventam novas ideias, a professora, compositora, programadora e crítica de música do PÚBLICO, e o músico e compositor, um dos fundadores do Drumming – Grupo de Percussão e membro do Remix Ensemble, lembraram-se disto: “E se em vez de cada um a defender a sua camisola tivéssemos todos juntos a tocar para o mesmo projeto?”
Assim começou a nascer o primeiro Festival Itinerante de Percussão, organizado pela associação cultural aveirense A Arte no Tempo. Decorre desta quinta-feira até domingo no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro reunindo percussionistas de todo o país, entre professores e alunos das sete escolas de ensino superior portuguesas onde é ministrado o curso de percussão (Universidade do Minho, Escola Superior de Música de Lisboa, Universidade de Évora, Academia Nacional Superior de Orquestra, de Lisboa, Escola Superior de Artes Aplicadas, de Castelo Branco, Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, do Porto, e Universidade de Aveiro).
O festival contempla apresentações públicas, masterclasses e a apresentação de novas obras encomendadas expressamente para o efeito. Esta quinta-feira, a partir das 21h30, assistiremos a recitais de Richard Buckley, da Academia Nacional Superior de Orquestra, de Nuno Aroso (Universidade do Minho) e do supracitado Mário Teixeira (Universidade de Aveiro). Sexta-feira sobem ao palco do Pequeno Auditório Bruno Costa (Escola Superior de Artes Aplicadas) e Pedro Carneiro (Escola Superior de Música de Lisboa). No sábado estão programados mais dois recitais, a cargo de Marco Fernandes (Universidade de Évora) e de Miquel Bernat (ESMAE).
No domingo, às 19h, serão apresentadas no Grande Auditório as obras encomendadas pelo festival aos compositores Mariana Vieira, João Pedro Oliveira e Ricardo Ribeiro. Serão interpretadas por 21 alunos, três de cada uma das sete escolas, formando assim três septetos. O festival contempla ainda quatro masterclasses (Richard Buckley, quinta-feira; Miquel Bernat, sexta; Nuno Aroso, sábado; e Bruno Costa, domingo), abertas mediante inscrição aos alunos do ensino secundário.
Diana Ferreira, que divide a direção artística com Mário Teixeira, fala de um festival que pretende ser “várias coisas em simultâneo”. Explica: “Juntamos os profissionais, os professores, representando aquilo que os alunos pretendem atingir. Depois, temos os alunos do ensino superior juntos em três septetos formados por um aluno de cada escola. Por último, há o grupo que frequenta o ensino secundário e que vem às masterclasses, trava conhecimento com os professores e, através deles, pode começar a escolher a escola para onde irá no futuro.”
Paralelamente ao contributo para a formação dos jovens músicos participantes, o festival pretende também formar o público, aspeto a que a Arte no Tempo dedica especial atenção, procurando cativar novos ouvidos para a música contemporânea. Nesse sentido, o facto de se tratar um festival de percussão poderá facilitar a tarefa. “Os espetáculos de percussão têm uma dimensão muito física e uma tradução do som muito visual” que cativa quem vê, destaca Diana Ferreira, que confessa encontrar nos percussionistas os músicos mais versáteis: “Estão programados para se adaptarem ao que for preciso, ao que não encaixe nas convenções.”
Não por acaso, entre os tímpanos, glockenspiel, xilofone, maracas, congas ou sinos tubulares que integrarão os instrumentos dos septetos, encontraremos também, por exemplo, um conjunto de molas de amortecedores de camião. Serão a base de um instrumento novo, criado por Ricardo Ribeiro para a peça que estreará no festival. “Quando um compositor quer um som novo, inventa. E quem o toca é a percussão.” Até domingo, em Aveiro, tocam todas as percussões, todas as gerações de percussionistas de todo o país. E para o ano já há novo encontro marcado: o segundo Festival Itinerante de Percussão acontecerá em dezembro de 2019, em Évora.
por Mário Lopes in Público | 27 de dezembro de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público