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O projeto de Rui Horta não ficará sem casa: o Convento da Saudação vai ter obras de restauro
Secretária de Estado da Cultura reuniu com a Câmara Municipal de Montemor-o-Novo e com O Espaço do Tempo e prometeu uma intervenção “o mais rápido possível”.
O Convento da Saudação, em Montemor-o-Novo, vai receber obras de conservação e restauro, mas enquanto elas não se iniciarem continuará a acolher a associação cultural O Espaço do Tempo, que entretanto deverá adaptar a sua programação às condições atuais deste edifício bastante danificado na sequência da passagem do furacão Leslie, em outubro. Foi este o resultado das duas reuniões que juntaram na segunda e na terça-feira a secretária de Estado da Cultura, Ângela Carvalho Ferreira, Rui Horta, fundador daquela estrutura de criação e de programação, e representantes da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), da Direção Regional de Cultura do Alentejo e do município.
“Saí com a sensação de que há uma verdadeira vontade política de resolver a situação”, disse o coreógrafo ao PÚBLICO no final da reunião desta terça-feira, que teve lugar no próprio convento, e no decorrer da qual técnicos do Estado e da autarquia fizeram o levantamento do estado do edifício.
Sem avançar datas nem orçamentos, fonte do gabinete da Secretaria de Estado da Cultura (SEC) confirmou que “serão adotados todos os procedimentos necessários para que a intervenção seja feita o mais rápido possível”.
Ao contrário do que Rui Horta chegou a temer, O Espaço do Tempo vai poder continuar a usar parcialmente o convento – cerca de um quarto do espaço –, mesmo que isso venha a implicar uma adequação das atividades programadas às limitações atuais do edifício.
Uma "tragédia anunciada"
Na sequência do mau tempo que, na noite de 14 para 15 de outubro, assolou várias regiões do país, o Convento da Saudação sofreu a derrocada da abóbada de uma das suas quatro salas mais emblemáticas e mais utilizadas pela associação.
Passadas mais de cinco semanas sobre o ocorrido, e vendo que o Estado não tinha ainda avançado com a recuperação, O Espaço do Tempo lançou, no PÚBLICO, um manifesto a chamar a atenção para o estado de degradação do edifício, e a lamentar o atraso na prometida intervenção dos organismos públicos responsáveis pela sua gestão e conservação. Simultaneamente, a estrutura anunciava que corria o risco não apenas de abandonar o Convento da Saudação, mas de interromper também as suas atividades.
“É absurdo e vergonhoso que, num momento em que os sucessivos governos falam em valorizar o interior, esta tragédia anunciada possa acontecer num projeto âncora para o Alentejo e para o país”, dizia o manifesto, subscrito por figuras como André e. Teodósio, Clara Andermatt, Carlos Fiolhais, Gonçalo Amorim, Julião Sarmento, Olga Roriz, Rui Vieira Nery, Tiago Rodrigues ou Viriato Soromenho Marques.
Mas esse quadro parece ter sido entretanto ultrapassado. Ainda antes da reunião desta terça-feira, fonte do gabinete de Ângela Carvalho Ferreira avançava já ao PÚBLICO que a SEC estava “a acompanhar a situação do Convento da Saudação”, em articulação com o município de Montemor-o-Novo, para assegurar “uma intervenção com carácter de urgência”.
É essa intervenção que está agora a ser delineada. “Provavelmente irão avançar procedimentos de emergência para salvaguardar o edifício da ruína”, disse Rui Horta, acreditando que será possível contornar a burocracia habitual para que rapidamente sejam dados "passos concretos". “Há um estado de necessidade, de urgência, que reclama uma intervenção imediata, mesmo se não ficou nada agendado na reunião”, acrescenta o coreógrafo.
Frisando que “o receio não está completamente ultrapassado”, Rui Horta aceita como inevitável não apenas a necessidade de adaptar as atividades d’O Espaço do Tempo às condições do convento, como a de encontrar um espaço temporário alternativo quando, finalmente, as obras começarem, eventualmente na próxima Primavera. “Mas será por uma boa causa”, conclui.
O Convento da Saudação está classificado como Monumento Nacional, mas a DGPC cedeu a sua gestão ao município de Montemor-o-Novo através de um protocolo assinado no passado dia 17 de agosto.
Desde o verão de 2000, o convento acolhe a sede e as atividades multidisciplinares da associação cultural criada por Rui Horta, que reclama, como se lê no manifesto divulgado esta terça-feira, ter-se tornado “um dos mais vibrantes projetos culturais em Portugal, com um prestígio internacional e um reconhecimento generalizado dos seus pares, dos diversos júris a que se submete, da crítica e da sociedade civil em geral”. Aí se realiza, por exemplo, a Plataforma Portuguesa de Artes Performativas, que anualmente recebe dezenas de programadores e diretores de companhias e estruturas de diferentes países.
por Sérgio C. Andrade in Público | 20 de novembro de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público