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Ricardo Dias Gomes lança novo vídeo
Membro da banda de Caetano Veloso colabora com Arto Lindsay no novo álbum Aa – de som arrojado e experimental anuncia um artista a seguir nos seus caminhos consagrados.
Após o escuro vertiginoso do primeiro videoclipe, “Precipício”, Ricardo Dias Gomes quis sentir contraste estético num segundo material audiovisual. Perante a toda onda de baixo astral no seu Brasil apresenta “1 2 3 Nenéns”, música do seu novo disco Aa.
Essa música nasce da sua experiência com três filhos, o último ainda bébé e o preenchimento existencial que sentiu ao refletir-se no desenvolvimento das suas lúdicas memórias. O amor salva, educa e enche de vida. Tinha visto estas imagens quando fez um improviso no festival Play-doc na Galícia. Um filme montado de rolos de super-8 antigas da vida na região foram projetadas na tela e Ricardo juntamente com mais dois músicos fizeram o acompanhamento musical ao vivo. Foi então que teve a ideia de desafiar os organizadores do festival para montar um clipe para “1 2 3 Nenéns” selecionando imagens desse documento tão íntimo daquelas famílias.
Na ZDB, dia 23 de novembro, irá apresentar o estágio atual da sua solitária pesquisa musical. Novas músicas e alguns improvisos entre elas. Estará sozinho no palco, utilizando as suas ferramentas: o baixo elétrico, pedais de distorção, loop, efeitos… sua voz e seu corpo.
“Between the snake's belly and the ground, between the closing door and the fleeing finger, between the end of the day and the fall of night: there is the music of Ricardo Dias Gomes.” Arto Lindsay
Ricardo nasceu em 1980 no Rio de Janeiro no meio duma família de músicos: o pai é trompetista de jazz, Guilherme Dias Gomes, que tocou e gravou com o ganhador do Grammy Ivan Lins, músico brasileiro do género pop-rock; o tio Alfredo Dias Gomes, um exímio baterista de rock drummer que tocou e gravou com o lendário Hermeto Pascoal; e a tia Denise Emmer é violoncelista clássica fundadora da respeitada orquestra de câmara Camerata Dias Gomes.
Aos 10 anos o piano foi a porta de entrada de Ricardo na exploração musical e na adolescência construiu um estúdio no seu quarto usando os equipamentos não utilizados do pai enquanto tinha aulas de piano clássico e jazz. Ricardo fez um bacharelato em arranjo musical na Universidade Federal do Rio de Janeiro até que aos 20 anos se cansou do aspeto cerebral dos estudos. A fim de desenvolver um modo mais visceral e físico de fazer música, escolheu o baixo elétrico e passou os vinte e poucos anos a experimentar. Pelo meio dos anos 90 era conhecido na cena musical do Rio de Janeiro pelo seu jeito único e original de tocar graças às colaborações com músicos como Lucas Santtana e Nina Becker até formar a banda Do Amor com os amigos mais próximos. Lançaram três discos aclamados pela crítica: Do Amor (2007), Piracema (2013) e Fodido Demais (2015) que os posicionou como pioneiros na cena indie latino Americana tocando pelo Brasil e também Londres, Barcelona (Primavera) e Portugal (Mexefest).
Foi em 2006 enquanto gravava o disco de estreia Do Amor que Ricardo recebeu uma oferta que não poderia recusar: o artista ícone e fundador da Tropicália, Caetano Veloso, convidou-o a trabalhar num ousado novo projeto. Ao lado do seu companheiro de Do Amor, Marcelo Callado e o também já amigo Pedro Sá, Ricardo tornou-se membro da Banda Cê de Caetano Veloso. Pela década seguinte, Banda Cê trabalhou com Caetano para forjar um som unicamente experimental, pós-tropicália, que acompanhou Caetano ao atingir seu ápice criativo como das aclamadas gravações dos anos 60 e começo dos 70, recolhendo um extraordinária aclamação internacional com os discos Cê (2006), Zii and Zie (2009) e Abraçaço (2012). Os três lançados pela Nonesuch, têm a marca de Ricardo e da Banda Cê firmemente tecida no som espinhento e pós-punk. Ricardo realizou um bom número de tours mundiais com Caetano e a Banda Cê: “Estar perto do Caetano por uma década foi das mais inspiradoras experiências artísticas,” diz, “a coragem e a honestidade tão presentes nas suas canções e na sua performance teve impacto imenso na minha carreira solo”.
No inverno de 2015 a seguir a última tour com Caetano, Ricardo estava preparado para um novo desafio: “Aluguei um quarto em um estúdio e mergulhei numa rotina de solitude, tocando e experimentando com sons e compondo músicas.” O sabor íntimo e experimental desse novo material foi uma viagem de volta à adolescência, às experiências no quarto home studio. No fim desse ano gravou -11 tocando todos os instrumentos e confiando somente nos próprios instintos para escolher os rumos a seguir: “-11 se caracteriza por um confronto com meu passado e a aceitação das minhas próprias limitações”.
Ricardo lançou -11 por conta própria no fim de 2015 agradando importantes formadores de opinião de Londres a Nova Iorque, Chicago a Milão. The Wire publicou uma página inteira com uma crítica incrível dizendo -11 “recalls other rough and ready highly personal solo debut albums by Laetitia Sadier and Money Mark”, também o RVNG agarrou o LP para distribuição nos EUA apontando: “intimacy is conveyed through a hushed human voice, meticulously controlled drone, and a dedicated finger-picking of the guitar and plucking of key(s).”
O jornal de notícias seminal italiano Internazionale marcou -11 como um dos “dez álbuns que você perdeu em 2016” descrevendo-o “como um álbum original de folk tropical psicodélico diferente de qualquer outro que você pode ter ouvido este ano” e -11 entrou na lista de Peter Margasak do Chicago Reader dos melhores 30 álbuns do ano louvando-o como “weirdly hermetic sound world, alternating between tender, introspective ballads, rude electronic grooves, and dissonant ambience”.
Durante o outono de 2016 Ricardo ando em tour do -11 pelos EUA tocando no ESS em Chicago, Union Pool em NY, The Music Gallery em Toronto, e abrindo para o Dead C na Philadelphia. A seguir à tour Ricardo começou a trabalhar no Aa, concebido na corrente de boas energias canalizado surpreendentemente pelo -11.
Com Aa Ricardo abre mão do “experimentalismo solitário” do -11 em favor de colaborações: Moreno, filho de Caetano Veloso toca percussão em Tela Parada; Joana Queiroz toca clarinete em 1 2 3 Nenéns, a guitarra elétrica é de Pedro Sá em Paranormal e a lenda brasileira do movimento No Wave Arto Lindsay participa em Fogo Chama.
Lindsay foi uma força guiadora em Aa, encorajando Ricardo a dar um passo além na experimentação de sons e composição. “Enquanto fazendo Aa estive próximo ao Arto – ele foi um amigo importante para trocar experiências de vida e musicais. Me ajudou a entender que mais importante que tudo, musica tem de ter honestidade.”
“Com Aa eu quis capturar a epifania sentida enquanto tocando ao vivo”, “ainda que gravar essas faixas não foi sempre agradável – lembro de dias difíceis no estúdio, quando me senti cru e exposto. De todos modos me sinto orgulhoso com o resultado - os arranjos ainda que de sabor minimalista são agora mais coloridos, o baixo pesado e letras híper sinceras”.
Aa foi gravado também perto do nascimento do terceiro filho de Ricardo e do começo do planeamento de passar um tempo em Portugal que afinal foi assumido como a sua nova morada oficial. Outra característica deste disco é a influência dos tempos sombrios no Brasil e no mundo e a experimentação artística como digestão e criação de novos significados, a construção da própria história.
Aa foi finalizado no início de 2017.Logo a seguir Ricardo muda-se para Lisboa onde colaborou com o cantautor americano Jesse Harris, tocando baixo e teclado com Harris no seu próximo álbum (a ser lançado no fim de 2018), e numa colaboração ainda a ser lançada com Will Graefe and Jeremy Gustincomponentes do Star Rover, e mais ainda, compor música para cinema e teatro brasileiros.
“Precipício” é o primeira tema de apresentação de Aa com vídeoclip realizado por Fernando Young. “Fazia já muito tempo tinha vontade de experimentar com a dança. Lembro de ficar profundamente comovido com o espetáculo “Para as Crianças de Ontem, Hoje e Amanhã” da Pina Bausch que vi em São Paulo em 2006. Foi numa seção de fotos que ao comentar com Fernando Young sobre minha atração pela dança fui desafiado a improvisar algo alí naquele momento, em cima de uma das faixas do disco. Fiz três takes escolhemos o melhor.”
https://ricardodiasgomes.bandcamp.com/
http://smarturl.it/rdg-aa