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Frescos da Igreja da Misericórdia de Évora agora redescobertos só ficam visíveis até novembro
As sete pinturas, que se espalham pelas paredes laterais da nave principal da igreja, foram tapadas pela campanha barroca na Igreja da Misericórdia. Conjunto, que já era conhecido, foi agora estudado pela primeira vez.
Pinturas murais com mais de 400 anos na Igreja da Misericórdia de Évora, já conhecidas, mas tapadas por telas, voltaram a “ver a luz do dia” e foram alvo de conservação e limpeza, graças a obras no edifício. “São sete pinturas murais, a fresco, ao longo das paredes laterais da nave principal da igreja”, datadas da segunda metade do século XVI, ou seja, “da mesma altura da construção” do edifício, disse na quarta-feira à agência Lusa o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Évora, Francisco Lopes Figueira.
Os frescos, acrescentou, “já eram conhecidos, mas nunca tinham sido estudados ou tratados”, encontrando-se “escondidos” atrás de telas barrocas.
As obras de conservação e restauro da Igreja da Misericórdia, iniciadas em 2017 e que deverão “ficar prontas no próximo mês de novembro”, após um investimento de 500 mil euros, abrangeram uma intervenção nas pinturas murais. “Os frescos foram estudados e conservados, tiveram uma intervenção para os proteger e para poderem durar mais alguns séculos, pelo menos”, frisou o provedor.
Por enquanto, como ainda decorrem as obras finais na igreja, explicou Francisco Lopes Figueira, os frescos “ainda estão à vista”, mas vão “voltar a ser tapados com as telas”. Ainda assim, a Misericórdia de Évora pretende valorizá-los e dá-los a conhecer ao público, futuramente, graças ao núcleo museológico que vai criar na igreja, “nas salas à volta do salão principal”, num investimento “na ordem dos 300 mil euros”. “Durante a intervenção nas pinturas murais, foi feita uma importante recolha de imagens e de aspetos multimédia”, o que vai “permitir apresentá-las ao público”, através de “conteúdos multimédia e interativos” no museu, explicou. O projeto do núcleo museológico, revelou, “está a arrancar agora” e deverá ficar “pronto no Verão de 2019”, sendo dedicado “à instituição da Santa Casa da Misericórdia de Évora, aos seus 519 anos e ao seu património histórico e artístico”.
O conservador restaurador de pintura mural responsável pela intervenção nos frescos da igreja, José Artur Pestana, explicou à Lusa tratar-se de “um belíssimo conjunto”, cuja autoria ainda está a ser estudada e comprovada cientificamente. “A pintura é de muito boa qualidade. A Igreja da Misericórdia é um espaço nobre da cidade e o pintor era muito bom, vê-se pela sua técnica”, disse.
Os frescos, indicou, foram “a primeira decoração da igreja” e assemelham-se “quase a uma BD [banda desenhada] gigante, que enaltece os trabalhos da misericórdia, como dar de comer e de beber a quem tem fome e sede ou tratar dos enfermos”, entre outros. As pinturas murais “foram tapadas na altura do período barroco”, no século XVII, quando “houve uma grande alteração na decoração da igreja, que corresponde à atual”, com a introdução de azulejos no chão e paredes e “de todo o aparelho barroco da talha dourada e das telas”.
Desde os anos 80 do século XX, realçou, que se sabia da sua existência, quando as telas que as cobriam foram removidas, “mas só agora é que foi feita uma intervenção, pedida pela Misericórdia”, que incluiu “uma limpeza a seco e uma conservação só de emergência, em sítios que necessitavam de consolidação e fixação”. “Se nos abstrairmos das agressões que os frescos sofreram na campanha barroca, quando foram feitos buracos para encaixar peças de madeira para suportarem as telas, os rebocos e a camada cromática até estão em ótimo estado”, afiançou. E, “é evidente que o facto de terem estado tapados ajudou”, sublinhou José Artur Pestana, satisfeito por, mesmo depois de voltarem a ser “escondidos”, os frescos poderem vir a ser valorizados no futuro museu: “Esta memória não se vai perder”.
As obras da Igreja da Misericórdia, apoiadas por fundos comunitários, envolveram trabalhos no exterior e interior do edifício, classificado como imóvel de interesse público desde 1983.
por Lusa e Público | 24 de outubro de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público