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Há atores, objetos e até areias do deserto no Festival de Marionetas do Porto

Produção francesa Sans objet, de Aurélie Bory, abre programa que decorre entre os dias 13 e 20 de outubro, nos trinta anos do FIMP.

Sans Objet, de Aurélien Bory AGLAE_BORY Macbêtes, Théâtre de La Licorne CHRISTOPHE LOISEAU XAVIER BOURDEREAU Fogo Lento, de Costanza Givone JOÃO VLADIMIRO Quarta-feira: o tempo das cerejas, de Cláudia Dias BRUNO SIMÃO Igor Gandra NELSON GARRIDO


Homens e robots, naves có(s)micas em cenários prodigiosos, cerejas à quarta-feira, música experimental nas areias do deserto, atores-insetos e policiais a partir das tragédias de Shakespeare, marionetas para a criança que há em todos nós, a história de Espanha entre festas e futebol, teatro solitário e teatro solidário… Vai haver um pouco de tudo isto no Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP) que tem abertura oficial este sábado, em francês, no Teatro Municipal Rivoli, mas que já está em cena desde o início da semana em diferentes palcos da cidade.

No ano em que se viu excluído dos apoios sustentados da Direcção-Geral das Artes, e sobreviveu por iniciativa da Câmara e do Teatro Municipal do Porto, o festival vai pôr a ênfase na "passagem do tempo e nos seus efeitos na nossa vida coletiva, no destino da humanidade e das suas invenções técnicas”, escreve Igor Gandra, o diretor, na apresentação do programa.

Lembrando que o apoio da autarquia – que contribuiu com 70 mil euros, dos 123 mil do orçamento global da edição – foi indispensável à sobrevivência do FIMP, Gandra disse ao PÚBLICO que o programa deste ano “vai manter a escala, a dimensão e a qualidade” que fez a sua história e identidade ao longo de três décadas.

Concentrado em dois fins-de-semana, o programa abre oficialmente este sábado, às 21h00, no Teatro Rivoli, com a estreia portuguesa da produção francesa Sans Objet (2009), da Cie. 111, de Aurélien Bory. É uma criação já com quase uma década, mas cujo tema permanece dramaticamente atual num "grande projeto que nos leva a refletir sobre as relações entre o homem e a máquina”, diz o diretor artístico do FIMP, “uma peça de alta precisão mecânica mas tratada com poesia e humor”.

Sans Objet é uma das quatro produções francesas num programa que conta também com companhias de Espanha, Inglaterra, Canadá e até dos Emirados Árabes Unidos.

Entre as presenças francesas, Gandra destaca também o regresso ao festival, passados já vinte anos, do Théâtre de La Licorne, com dois espetáculos que são quase “teatro de bolso para espaços intimistas”, no Mosteiro São Bento da Vitória (dias 17 e 18) – uma vez mais fazendo a ligação do festival com o Teatro Nacional São João (TNSJ). São dois “policiais”: Sweet Home, história de um diabólico casal de insetos à conquista do poder no seu reino; e Macbêtes, uma produção vintage que é uma adaptação da tragédia de Shakespeare, “sem qualquer ponta de consciência”.

Já as companhias Mue Marionettes e La Malette trazem ao Porto dois pequenos espetáculos – L’Étreinte, o abraço de dois amantes sob o signo da pintura de Egon Schiele (com apenas 15 minutos de duração); e Little  Boy, marionetas de água vietnamitas com o blues do Mississipi (4 minutos) –, que serão apresentados entre os dias 13 e 20 em espaços informais do festival, e destinados às crianças de todas as idades.

Da feira da ladra ao deserto

De Espanha, Xavier Bobés regressa também ao Porto com Cosas que se olvidam facilmente (Rivoli, dias 13 a 15), um trabalho feito com objetos respigados de feiras de velharias a revisitar a História de Espanha, entre o tempo da Guerra Civil e a atualidade, e que será apresentado em várias récitas para um pequeno grupo de espectadores sentados à volta de uma mesa.

Já de Manchester, Paddy Steer, o "homem-orquestra", virá mostrar que No FIMP, [a] música é matéria (dia 13), um concerto de eletrónica customizada e voz processada no sub-palco do Rivoli transformado em “gruta de prodígios libertados”.

A improvável presença dos Emirados Árabes Unidos chega este ano ao Porto pela mão de Carlos Guedes, músico, compositor e investigador das relações da música com o corpo de bailarinos em movimento: Jinn – palavra que designa as criaturas invisíveis na mitologia árabe – é uma peça que combina, numa linguagem experimental e multimédia, a dança com a matéria animada, e com a areia do deserto em fundo (Rivoli, dia 20).

Três estreias portuguesas

Da presença portuguesa no FIMP 2018, destacam-se três estreias absolutas: Quem Sou Eu? (Teatro Campo Alegre, dia 19), Pequeno Cabaret ao Amanhecer (Rivoli, dias 19 e 20) e Fogo Lento (Campo Alegre, dias 19 e 20).

A primeira é a nova criação do Teatro de Marionetas do Porto (TMP) – que, entretanto, e também a celebrar os seus trinta anos, repôs, durante esta semana e no âmbito do festival, a peça Frágil (2011) –, com direção de Isabel Barros. Trata-se de um novo projeto de criação comunitária envolvendo profissionais do TMP e habitantes da zona de Campanhã, em busca, através do conceito do auto-retrato, “do belo que há no interior de cada um”, diz a encenadora, lembrando que esta produção, realizada com o apoio da CMP, prolonga a preocupação social que tem marcado a história da companhia fundada por João Paulo Seara Cardoso.

Também em ano de aniversário está a companhia Limite Zero, que assinala os 15 anos com a estreia de Pequeno Cabaret ao Amanhecer, um espetáculo de formas animadas para adultos, que associa actores e objetos num jogo entre "o real e o irreal, o concreto e o abstrato, o dizível e o indizível".

A terceira estreia é a do projeto que venceu a 3.ª edição da Bolsa de Criação Isabel Alves Costa, de autoria de Costanza Givone: Fogo Lento é um jantar em lume brando cozinhado por um casal – uma mulher italiana e um homem português – em busca da sua identidade.

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Mas também Igor Gandra regressa, uma vez mais, ao palco do festival que dirige, desta vez com a reposição de Quarta-feira: o tempo das cerejas (Campo Alegre, dias 16 e 17). “Estou duplamente contente por estar no programa, com uma peça muito original da Cláudia Dias, que simultaneamente tem uma dimensão clássica e é muito depurada em termos formais, e com um conteúdo político muito forte, sem conformismo mas portadora de luz e esperança”, diz o marionetista. A criação de Cláudia Dias dá sequência ao projeto Sete Anos, Sete Peças, lançado pela bailarina e coreógrafa em 2016 e que vem percorrendo os dias da semana, de segunda-feira a domingo, até finalmente poder… descansar.

O programa do FIMP contempla ainda os habituais espetáculos de Teatro Dom Roberto, este ano pelas mãos de Sara Henriques, e as iniciativas paralelas de workshops e work in progress, aproveitando a presença de vários atores e marionetistas internacionais, entre os quais a canadiana Solveig Phyllis Rocher, a tirar Cascas de Memória: n.º 2 (Sala do Teatro de Ferro, dia 17).


por Sérgio C. Andrade in Público | 12 de outubro de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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