"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Notícias

António Lobo Antunes entrou na Biblioteca La Pléiade: "É muito maior do que o Nobel"

É o segundo autor português a integrar a prestigiada coleção francesa, depois de Fernando Pessoa, em 2001. O escritor dedica o “prémio” ao seu amigo José Cardoso Pires.

Foto de Nuno Ferreira Santos


"Sonhei com este prémio desde os 13 ou 14 anos, desde a adolescência até agora. É o maior reconhecimento que se pode ter enquanto escritor, muito maior do que o Nobel", afirmou António Lobo Antunes ao PÚBLICO pouco depois de ser informado pela sua agente de que a Biblioteca La Pléiade quer publicar a sua obra. Visivelmente emocionado com a sua entrada nesta prestigiada coleção francesa, o escritor acrescentou: "Estar no meio desta gente sábia dá-me muito prazer e muita alegria."

O “prémio”, como lhe chamou, quer dedicá-lo ao seu "irmão" José Cardoso Pires. "Esteja ele onde estiver, sei que vai ficar feliz e dizer 'ganhámos!'. Era o meu melhor amigo. Sempre que vinha a notícia do vencedor do Nobel, ele ligava-me a dizer 'perdemos!', e quando soube que eu tinha vencido o Prémio Pessoa telefonou a gritar 'ganhámos!'. Já viu a elegância daquele homem? Tenho muitas saudades dele. Sei que seria uma grande alegria para o Zé. Isso sim, importa, o resto é literatura e é sempre discutível."

António Lobo Antunes, 76 anos, torna-se assim no segundo escritor português a merecer o interesse da Pléiade, depois de Fernando Pessoa, em 2001. Considerada a coleção de referência da literatura mundial, a Bibliothèque de la Pléiade foi criada em 1931 com o objetivo de publicar as obras completas de autores clássicos franceses em edições cuidadas, de papel bíblia e capa dura. Baudelaire inaugurou a coleção e André Gide, em 1939, seria o primeiro escritor vivo a integrar o grupo restrito de eleitos da Pléiade. Era a abertura aos contemporâneos, mas só na década de 1960 a coleção editada pela Gallimard se estenderia à literatura mundial, passando a integrar clássicos da antiguidade grega e romana, além de textos asiáticos e de filosofia. Dela fazem parte autores de origens e escolas tão distintas como Samuel Beckett, Tolstói, Milan Kundera, Marcel Proust, Cesare Pavese ou Charles Dickens. Em 2016, a Pléiade anunciava a publicação da obra do Nobel da Literatura Mario Vargas Llosa, ainda em vida do autor peruano; um ano depois, decidiu publicar a do norte-americano Philip Roth. Agora, em 2018, será a vez de Lobo Antunes.

A notícia chega a menos de um mês de estar nas livrarias portuguesas o próximo romance de António Lobo Antunes, A Última Porta Antes da Noite (D. Quixote), e dois dias depois – contou ele ao PÚBLICO – de o escritor terminar mais um livro. "Não sei como vai ser, mas estou muito contente. O meu pai tinha muitos livros da Pléiade em casa e li muitos dos grandes autores naquela coleção que aprendi a tratar com grande deferência", conta o autor de Os Cus de Judas, que terá de aguardar por novas traduções dos seus livros publicados em vários volumes (um processo que levará algum tempo) para poder finalmente juntar o seu nome aos 250 autores que até agora integram uma coleção com 800 títulos. Entre eles, está toda a obra poética de Fernando Pessoa.

A obra completa de António Lobo Antunes conta 32 romances e a edição já está negociada com a Gallimard, como anunciou ao escritor Dominique Burgois, a sua editora francesa. "Isto representa um grande empenhamento por parte da Gallimard. São muitos livros. Não sei se vão considerar os livros de crónicas. Há autores [na Pléiade] que têm muito menos obra. É de facto muito importante", refere Maria da Piedade Ferreira, a editora de Lobo Antunes em Portugal. A trabalhar com o escritor há muitos anos, reafirma que Lobo Antunes "achou sempre que estar na Pléiade era mais importante do que vencer o Nobel, pela continuidade no tempo, pelo aparato crítico, pelas revisões cuidadas". E acrescenta que tudo isto acontece num momento em que obra do autor está a entrar noutros mercados a que antes não chegava, como a China e os países árabes, "que ele nunca tinha atingido".  


por Isabel Lucas, in Público | 12 de setembro de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

Ganhe convites para a antestreia do filme "Memória"

Em parceria com a Films4You, oferecemos convites duplos para a antestreia do drama emocional protagonizado por Jessica Chastain, "MEMÓRIA", sobre uma assistente social cuja vida muda completamente após um reencontro inesperado com um antigo colega do secundário, revelando segredos do passado e novos caminhos para o futuro.

Visitas
93,846,965