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Quatro dias intensos para o jazz português se mostrar à Europa

Portugal recebe pela primeira vez, no CCB, a European Jazz Conference, importante encontro dos agentes que trabalham o jazz no Velho Continente. O director-geral Giambattista Tofoni explica a escolha.

Susana Santos Silva, com o projecto Impermanence, foi outra das selecionadas (entre 88 proponentes) para os showcases oficiais da EJC

Quando a Europe Jazz Network (EJN) foi fundada em 1987, com o intuito de estabelecer uma rede de partilha de conhecimento e experiência entre os programadores de festivais e salas de jazz do continente europeu, o mundo da música era muito diferente. Nessa altura, um programador era um programador era um programador. Mas nos últimos 15 anos, confessa o director-geral da EJN Giambattista Tofoni ao Ípsilon, os papéis dos vários intervenientes da indústria tornaram-se mais turvos. “Hoje em dia podemos encontrar um editor que programa o seu próprio clube e talvez tenha ainda uma agência de booking.” Ou seja, por força das transformações na indústria, a EJN – e, em particular, o seu momento de reunião anual a reboque da assembleia geral dos membros – passou a integrar outras visões sobre a cena do jazz europeu e a suscitar o interesse de perfis menos restritos.

Foi assim que, mantendo na assembleia geral as questões formais da associação ligadas à eleição do corpo directivo e às políticas culturais conjuntas, a EJN criou, em 2014, a European Jazz Conference (EJC). Ora a conferência abre as actividades e as trocas da EJN aos músicos, aos managers e a outros agentes do circuito do jazz, juntando ao programa showcases de artistas do país anfitrião (destinados a um público profissional) e debates em torno de questões fundamentais do sector. Depois dessa primeira edição, em Helsínquia, seguiram-se Budapeste, Vratislávia e Ljubljana.

Em 2018, naquela que Giambattista Tofoni adianta tratar-se da EJC mais concorrida de sempre, a escolha recaiu sobre Lisboa. “Tivemos necessidade de ir para Sul”, explica o director-geral da EJN – que hoje integra 133 membros (oriundos de 35 países). Portugal foi escolhido graças ao feedback que a EJN tem recebido “da cena vívida” do jazz e da cultura portugueses. “Portugal é, neste momento, um dos países mais atractivos e entusiasmantes da Europa”, justifica. “E não apenas a nível cultural, porque temos recebido também esse feedback de I&T [Inovação e Tecnologia]. Acrescentaria até como factores de atracção a situação política – e que é promissora para todo continente – e o potencial turístico.”

Em específico sobre o jazz português, Tofoni admite ter tido um peso decisivo a maturidade e o reconhecimento internacional que se tem verificado nos últimos anos, destacando o papel desempenhado pela editora Clean Feed, pelo festival Jazz em Agosto – que a EJN premiou em 2014 na categoria Adventurous Programming – e pela trompetista Susana Santos Silva, “porque é realmente fresca, com uma abordagem muito nova na forma criativa de produzir música”. Susana Santos Silva, com o projecto Impermanence, foi uma das seleccionadas (entre 88 proponentes) para os showcases oficiais da EJC, a decorrer no CCB (no dia 14 será a sua vez, assim como do Bode Wilson Trio e do grupo Axes; a 15 tocam Pedro Melo Alves’ Omiae Ensemble, Quarteto Beatriz Nunes e TGB).

Com um primeiro dia dedicado à assembleia geral e a grupos de trabalho reservados apenas a membros da EJN, a noite de 13 marcará o primeiro momento de abertura ao público no CCB com a Gala de Abertura protagonizada pela Orquestra Jazz de Matosinhos e convidados (Maria João, João Paulo Esteves da Silva, João Mortágua e João Barradas). A par dos showcases oficiais, a Associação Sons da Lusofonia (membro da EJN) é responsável pela programação de um pequeno festival fringe (à margem), aberto ao público, que é uma estreia na conferência, e que inclui actuações de Esper Eriksen Trio com Andy Sheppard (CCB, dia 14), Pedro Segundo e Ross Stanley (Hot Clube de Portugal, 14), Eduardo Cardinho Trio e LUME (LX Factory, 14); Bugge Wesseltoft (CCB, 15), André Carvalho Group (Hot Clube, 15), Rodrigo Amado Motion Trio e André Fernandes “Centauri” (LX Factory, 15); e Mazarin / John Player Special (Outjazz, 16). Para Tofoni, estes dias “darão um bom retrato do que se está a passar em Portugal e gerarão muitos frutos no futuro”.


por Gonçalo Frota, in Público | 9 de setembro de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

 

 

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