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"Macbeths": 15 tronos e 16 atores dão vida à peça nas Ruínas do Carmo

Uma "patrícia romana", "uma mulher extremamente nobre" é como a escritora Luísa Costa Gomes define a protagonista da peça que escreveu, "Macbeths", e que estreia no Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa.

Atriz Margarida Vila-Nova no ensaio de imprensa da peça de teatro "Macbeths". Foto: Miguel A. Lopes/ Lusa


Concebida a partir da tragédia "Macbeth", de Shakespeare, e de outros textos do poeta conhecido como o "bardo" de Stratford-upon-Avon, "Macbeths" é uma leitura de Luísa Costa Gomes sobre a personagem Lady Macbeth, à qual a autora de "Olhos Verdes" e "Vida de Rámon" não reconhece qualquer responsabilidade em crimes, como disse à agência Lusa.

Lady Macbeth é uma mulher "numa situação muito dilacerante, e que vive esse dilema de uma forma estratégica", defendeu.

Para Luísa Costa Gomes, a personagem central da peça encenada por António Pires é antes uma personagem com "muito mais protagonismo" do que a original do texto de Shakespeare.

"Aquilo que se desenha é uma mulher dividida entre o amor e a lealdade, que sente pelo marido, e a necessidade absoluta de parar a mortandade", sublinhou a autora da dramaturgia.

Não é, pois, de estranhar que nesta peça - a interpretar por 16 atores, entre os quais 13 finalistas do curso de teatro da escola ACT - Lady Macbeth não seja a personagem ausente da tragédia shakespeariana, mas antes uma protagonista de outra história que se dá "nos bastidores da tragédia de Shakespeare", sublinhou Luísa Costa Gomes.

Porque, para a escritora, há, de facto, uma "leitura cultural" de Lady Macbeth que lhe pareceu "sempre extraordinariamente parcial". "Há esta ideia de que ela instiga, incita, praticamente força e manipula o marido a fazer uma coisa como se ele não a quisesse fazer e, de facto, a minha leitura é completamente diferente", frisou Luísa Costa Gomes.

"Ela não mata - quem mata é ele - e há uma diferença abissal entre imaginar o mal e perpetrar o crime", sustenta a escritora, frisando essa "diferença abissal" entre a "fantasia do poder" e "todos os passos que não são muito palatáveis para retirar [como diz Macbeth] os obstáculos que estão no caminho para a coroa".

Já para o encenador António Pires, "Macbeths" é uma peça de teatro completamente nova.

Urdida a partir da tragédia original - e de outras obras do autor inglês como "Ricardo II", "Rei João", "Dois cavaleiros de Verona", "Otelo", "Como queiram", "Hamlet", "Cimbelino", "Henrique V", "Henrique VI", "O mercador de Veneza" - trata-se de uma peça que vai suscitar opiniões diferentes.

"O que acontece é que quem conhece o Macbeth é possível que esteja a assistir e comece a dizer: 'Bem, isto não é bem assim'; e quem não conhece vai acreditar que aquilo é o Macbeth", referiu.

Porque "Macbeths" não apresenta Lady Macbeth como uma vilã que é culpada de tudo.

No que respeita à cenografia - uma meia lua em torno das ruínas do Carmo com 15 tronos para 16 atores, nos quais figuram vários fragmentos de imagens de guerra -, António Pires explicou ter sido uma escolha que reflete "a atração que quase todo o ser humano tem por ver sangue e mortes".

O cenário resulta num conjunto "muito pictórico", a que não é alheio o trabalho do encenador com Nuno Faria, diretor artístico do Centro Internacional das Artes José de Guimarães.

"Macbeths" vai estar em cena de quarta-feira a 18 de agosto, com espetáculos de segunda-feira a sábado, às 21h30.


in Rádio Renascença | 1 de agosto de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença

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