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Argumento perdido de Kubrick foi encontrado ao fim de 62 anos
Burning Secret, adaptado de uma novela de Stefan Zweig em 1956, está tão completo que se admite até que possa dar origem a um filme.
Stanley Kubrick já tinha falado sobre ele, mas nunca tinha sido encontrado. Até agora. O argumento perdido de Burning Secret, a novela de Stefan Zweig que o realizador começou a adaptar em 1956, foi descoberto por um investigador entre o espólio do filho de um colaborador de Kubrik. E o texto de 100 páginas está já tão completo que se levanta mesmo a hipótese de se fazer um filme a partir dele.
A adaptação de Burning Secret - feita em parceria com a novelista Calder Willingham - é definida por Nathan Abrams, professor na Universidade de Bangor (Reino Unido) e responsável pelo achado, como o reverso de Lolita, que Kubrick acabaria por estrear em 1962. Enquanto no romance de Nabokov se conta a história de um homem que se casa com uma mulher para se aproximar da filha dela, aqui a personagem principal aproxima-se de um rapaz de dez anos para poder seduzir a mãe. O texto, com chancela da MGM, nunca chegou a ver a luz do dia porque a produtora cancelou o projeto quando Stanley Kubrick realizou Horizontes de Glória (1957) para a Bryna Productions. Mas Abrams também admite que o tema muito pouco puritano, a envolver adultério e uma relação ambígua com uma criança, possa ter pesado na decisão.
O especialista na obra do realizador americano - embora radicado durante boa parte da sua vida em Inglaterra -, relata ao Guardian o entusiasmo que a sua descoberta lhe trouxe. "Nem queria acreditar. É tão excitante, pensava-se que se tinha perdido", conta Abrams, que está a preparar um novo livro sobre Stanley Kubrick. Preparação que o levou até esta relíquia. "Os fãs de Kubrick sabiam que ele queria fazer esta adaptação, mas nunca ninguém pensou que estivesse completa. Agora temos uma cópia, que prova que foi feito um argumento completo".
Tão completo que o investigador considera que podia ser terminado por algum realizador contemporâneo. Hipótese que traz à memória Inteligência Artificial (2001), estreado já depois da morte de Kubrick, em 1999, embora nesse caso Steven Spielberg já tivesse estado envolvido no projeto.
Descrito como obcecado com os detalhes, Stanley Kubrick realizou apenas 13 filmes, mas é reverenciado como um dos maiores e mais revolucionários realizadores da história do cinema, responsável por obras marcantes como 2001: Uma odisseia no espaço, Laranja Mecânica, Nascido para matar ou Shining. O seu último filme, o drama sexual Eyes Wide Shut (De olhos bem fechados, em português) estreou em 1999, já depois da morte do realizador.
por Pedro Vilela Marques in Diário de Notícias | 15 de julho de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias