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Arte de Anish Kapoor abre as portas de Serralves. O exterior é o avesso do mundo íntimo

Até 19 de janeiro, os jardins de Serralves vão ser um lugar de encontros culturais e transcendentes. As esculturas de Anish Kapoor libertam fantasmas no mundo natural e contam a história de um artista universal.

Foto: Fundação Serralves


Anish Kapoor, nascido em Bombaim, na Índia, em 1954, vê a arte como uma manifestação do transcendente que há “aqui”, no lugar temporal onde se posiciona, com todo o contexto e todos os sonhos que pode avistar do horizonte que o cerca. Não é conhecido do público português, mas vem até à Fundação Serralves, no Porto, para continuar uma caminhada de transposição de fronteiras e de fusão com as paisagens que reinventa.

Foi nos “melancólicos” jardins de Serralves que voltou a encontrar-se com a sua natureza bucólica, para questionar e tornar a encontrar desígnios para criar. Numa abordagem que fala a todos, que percorre todas as possibilidades que o território, físico e não físico, oferece, Anish Kapoor dilui a intimidade dos pensamentos mais profundos na infinitude do espaço exterior.

É sobre libertar fantasmas ou sobre dar às ideias a vida que já as pontuava interiormente, no preciso momento em que cada obra encontra o solo. “São objetos feitos de terra, mas não são feitos de terra, porque não se sustentariam dessa forma”, explicou Kapoor aos jornalistas portugueses.

A terra, tecido universal que cobre o centro de tudo, é também onde se começa a escavar, como o trabalho do artista sempre exige. “O nosso trabalho, como artistas, é escavar em nós mesmos as coisas que não sabemos", reflete o artista indiano. "Será que esta é uma nova forma de pensar? Pode levar-nos a criar poesia? Pode ajudar-nos a compreender a nossa fragilidade ou a condição humana?"

O que traz à luz do dia está para lá dos espelhos metálicos que põem a realidade de pernas para o ar e da mancha negra no chão que é o lugar-comum onde nada acontece e toda a forma de evolução é proibida. Também ultrapassa as escadas de onde se afugentam pássaros – ou serão fantasmas que falam a mesma língua? – e os tubos vermelhos de um gigantesco megafone.

As esculturas, aumentadas umas 100 vezes, num exercício ocular que se assemelha ao do microscópio, não se impõem como invasoras às espécies nativas. Pelo contrário, a obra posiciona-se como um ser vivo em simbiose com o mundo natural. "A escala é parte da linguagem da escultura", argumenta Anish. "Nós temos de assumir isso e não pedir desculpa pela escala que escolhemos. A escala não é sempre uma questão de tamanho. A escala é, também, e talvez até mais, uma questão de significado.”

É preciso ver para além das formas, como adverte o artista, encontrar nos opostos o avesso de cada coisa, abrir as portas e avistar para além dos espaços físicos, do que a visão humana oferece. Anish Kapoor assume uma faceta universal num “lugar humano e inclusivo”. O jardim é espaço de encontro. A arte também.

A arquitetura paisagística das obras de Anish entra numa conversa com o trabalho de Siza Vieira, que projetou a Fundação Serralves e que o escultor caracteriza como “um dos maiores arquitetos do nosso tempo”.

João Ribas, diretor do museu de Serralves, acredita que o idílico dos espaços verdes da fundação e a obra de Kapoor se conjugam na perfeição. "Acho que estes jardins são um ótimo complemento para esta exposição, não só pelos próprios interesses do artista, mas também porque foi pensada de raiz para este parque e para o contexto e linguagem do museu fora de portas", assevera o diretor de Serralves à Renascença.

A exposição que reúne o céu e a terra, a intimidade e o infinito, num jogo de avessos que se buscam, propõe um itinerário contemplativo e uma experiência sensorial que até envolve o canto dos pássaros. Para o escultor indiano, essa é a melhor forma de espantar ou, pelo contrário, de sublimar a realidade.

"Os artistas vivem a vida num lugar fantasmagórico, de fantasia. O nosso papel é trazer esse lugar à tona da realidade, sem que ele perca a sua fantasia", defende Kapoor. "Isto é algo estranho de se fazer, mas é o que os artistas levam a vida a fazer. E, de alguma forma, este é mesmo o melhor trabalho que podemos fazer enquanto seres humanos. Está muito perto da definição de liberdade."

O jardim é espaço de liberdade. A arte também. E vão sê-lo até janeiro de 2019.


in Rádio Renascença | 9 de julho de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença

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