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Contos Cruéis da Juventude estreia em Portugal

Tem o carácter de um acontecimento, esta estreia de CONTOS CRUÉIS DA JUVENTUDE, segundo filme de Nagisa Oshima, nunca estreado comercialmente em Portugal e que agora chega finalmente às salas (a partir de 5 de julho, em Lisboa – Nimas – e Porto – Teatro Campo Alegre; e, logo depois, no TAGV, em Coimbra, Theatro Circo de Braga, Figueira da Foz, Setúbal, etc).


Filme de culto, seguramente um dos melhores de Oshima, CONTOS CRUÉIS DA JUVENTUDE é contemporâneo dos primeiros Godard e Truffaut, e foi filmado em exteriores, no formato Cinemascope, câmara à mão, privilegiando o plano-sequência. Num estilo radical, provocante até, Oshima filmava na altura a juventude japonesa como até aí nunca outro realizador a tinha filmado, num ambiente revolta desabrida, de uma urgência implacável.

CONTOS CRUÉIS DA JUVENTUDE
Cópia Digital Restaurada

Título Original / Internacional: Seishun zankoku monogatari
Ano de Produção: 1960
País: Japão
Duração : 96´

Realização: Nagisa Oshima
Argumento: Nagisa Oshima
Produtor: Tomio Ikeda
Música: Riichirô Manabe
Montagem: Keiichi Uraoka

Atores: 
Miyuki Kuwano
Yûsuke Kawazu
Yoshiko Kuga
Fumio Watanabe

CONTOS CRUÉIS DA JUVENTUDE, de Nagisa Oshima por Fátima Castro Silva

É uma estreia em Portugal, em cópia digital restaurada, este segundo filme de Nagisa Oshima, crónica de uma juventude em queda livre, rebelde, violenta e niilista, no Japão dos anos 60.
Primeiro tomo de uma trilogia (com O Túmulo do Sol Noite e Nevoeiro no Japão) realizada em 1960, Contos Cruéis da Juventude é um dos filmes pioneiros da chamada Nova Vaga japonesa que, alinhada com outras cinematografias, e tendo a francesa como estandarte, questionava os cânones narrativos, estéticos e sociais dos modelos anteriores. Oshima aliás, antes de realizar o primeiro filme em 1959, e tal como os seus colegas nos Cahiers du Cinéma, também escrevera para uma revista de cinema, onde clamava pelo fim do velho sistema de estúdios, advogando um cinema moderno e transgressor, que abalasse a consciência adormecida dos espectadores no seu país. 
Através da alienação e revolta que consomem o seu jovem casal-protagonista, dois seres marginais envoltos numa espiral de desejo sexual, crime e violência, simultaneamente vítimas e agressores, Oshima expressa a profunda desilusão face ao fracasso moral e político de três gerações, a que viveu a guerra, a do imediato pós-guerra e a geração dos protagonistas. Neste filme emerge já o seu estilo radical, desconstruindo de forma crítica a imagética do cinema clássico japonês. Filmando em exteriores e no formato largo do Cinemascope, com a câmara à mão, privilegiando o plano-sequência e trabalhando o som e a cor (com exclusão auto-imposta do verde e preferência pelo vermelho), Oshima cria uma atmosfera angustiante, de uma urgência implacável. A iconoclastia do seu cinema já se sentia aqui, anos antes de O Império dos Sentidos, em 1976, ter explodido na cena internacional.

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