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Filme "Spell Reel", resgate do cinema militante da Guiné-Bissau, para ver no Cinema Ideal

"Speel Reel" vai estar uma semana no Cinema Ideal, em Lisboa.

Uma imagem do filme "Spell Reel" | Direitos reservados


Spell Reel
 é uma longa-metragem que começa ao contrário com imagens de arquivo de cinema da Guiiné-Bissau, e logo nos diz ao vem: "Ela está contente, porque está a ver uma coisa que não via há muito", ouve-se.

Prémio José Saramago e menção honrosa do Júri da Competição Internacional do DocLisboa, em 2017, o filme da artista Filipa César teve a sua estreia comercial, no dia 21 de junho no Cinema Ideal, às 19.15.

"Ela estava no mato, ela mesma é antiga combatente", continua.

As imagens mais recentes são de 2014, resultado do encontro da artista Filipa César com realizadores guineenses - Flora Gomes, Sana na N'Hada -, cúmplices de Spell Reel. Entra no arquivo, quase perdido, deste cinema. E nasceu por "necessidade".

"Havia uma sobreposição do financiamento para fazer um filme documental e também fazer o cinema móvel. A proposta que fiz ao ICA [Instituto do Cinema e do Audiovisual] e ao Medienboard. A proposta que fazer uma reflexão e documentar um cinema móvel, do cinema militante, quase pôr em movimento as imagens de arquivo", explica Filipa César sobre a obra, a sua primeira longa-metragem.

"Documentamos um evento [o cinema móvel], as coisas estavam ligadas, desde o início sabíamos que íamos ter um filme no final", explica.

Há outra dimensão em causa. "O que é que estas imagens ativam na contemporaneidade?", pergunta Filipa César, nascida no Porto em 1975.

Dentro do filme há um ensaio, que acompanha a viagem. "Onde pude fazer algumas reflexões, encontrar uma forma de canalizar algumas reflexões teóricas que foram feitas durante o processo. Por mim, ou então em colaboração com os participantes do projeto".

E por ser alguém para que se interessa muito pela montagem, o filme usa as duas janelas - como uma mesa de montagem - para se desenrolar. Imagens de arquivo encontram as contemporâneas.

"Como montadora deste filme, aquela que articula este filme, nunca me interessou ser eu a contar a história do movimento de libertação ou a história da Guiné-Bissau, o que me interessou foi contar histórias sobre um cinema militante. Esse plural das histórias e não de uma oficial", sublinha.

Em 2011, Filipa César encontra Sana Na N'Hada e Flora Gomes, que lhe mostra os filmes do Instituto do Cinema e Audiovisual da Guiné-Bissau que estavam em processo de deterioração avançada. Os realizadores, que estudaram cinema em Cuba, registaram os movimentos de libertação do país entre 1963 e 1974. Depois de resgatado, o arquivo é levado aos sítios onde as imagens foram captadas e projetado pela primeira vez, acrescentando comentários.

Chegar ao cinema através do cinema

Filipa César chegou à Guiné-Bissau também pelo cinema, pelo filme Sans Soleil, do Chris Marker. "Um filme seminal para mim, em termos de cinema. Passa-se sobretudo entre a Guiné-Bissau e o Japão e, portanto, foi um filme que sempre me intrigou. Formalmente, é um filme que sempre me interessou muito, É um filme ensaio, onde o texto tem um peso fundamental e é um filme que tem estas duas localidades e temporalidades". Mais: "Foi o próprio Chris Marker que em 2009 me disse que se estava interessada na Guiné-Bissau devia falar com o Sana".

Por outro lado, a Guiné-Bissau existia sem existir. "Era o sítio onde o meu pai tinha ido à guerra, mas tinha muito pouca informação. Um sítio para onde foi sem querer estar". E foi também pela via familiar que conheceu o cinema de Flora Gomes.

Em 2008, com o filme-intalação Le Passeur, sobre as passagens clandestinas, anuncia, através da ausência a guerra colonial e os movimentos de libertação. As pessoas estavam a fugir da guerra ou eram ativistas políticas. Tinha muito a ver com a deserção. É um filme que anuncia já, se calhar. Porque o meu trabalho é sempre meta-cinematográfico", refere. "O cinema é um canal de passagem".

Quando fala de Spell Reel, Filipa César fala sempre no plural. São principalmente os três cineastas guineenses (Flora Gomes, Sana Na N'Hada e Suleimane Biai), pessoas ligadas aos media na Guiné e depois toda a equipa de Berlim, a cidade onde Filipa César vive e trabalha. "É um projeto coletivo", refere. Tal como o cinema. "Infelizmente, há sempre essa tendência de concentrar tudo no realizador, que é uma coisa que quero contrariar na minha prática", explica. "Por exemplo, este filme foi mostrado no mundo inteiro, mas por exemplo tivmeos a Diana McCarty a mostrá-lo em Buenos Aires e na Nigéria, o Olivier Marboeuf a mostrar em vários contextos em França, o Tobias Hering na Alemanha, o Sana a mostrar em Nova Iorque e no Brasil. Não é um filme que eu tenho de ir sempre atrás, muita gente pode representá-lo. E muita gente poderá falar dele".




por Lina Santos in Diário de Notícias | 21 de junho de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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